Tópicos | Transtorno Mental

Para saber mais sobre um amigo, cliente ou até o próximo alvo de uma paquera, explorar as redes sociais é um caminho comum. Se curtidas, selfies e comentários dão tantas pistas sobre nós, quanto a tecnologia pode dizer sobre nossa saúde mental? É isso o que investiga uma nova corrente da ciência.

Análise de mensagens no Facebook, cor de fotos no Instagram e até avaliar o tempo entre cliques estão no radar. A hipótese é de que dados coletados por smartphones podem ser usados para identificar padrões de comportamento e interações sociais. Sem substituir psicólogos e psiquiatras, mas para auxiliar consultas presenciais. O modelo cresce, assim como o debate ético (Mais informações ao lado).

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Em uma pesquisa desse tipo, um grupo de adolescentes responde a questionários pelo celular sobre como se sentem. Podem ser áudios e até emojis para narrar emoções. No dia a dia, um aplicativo em seus celulares capta fragmentos de sons do ambiente e mede o movimento dos aparelhos. Tudo é analisado para saber o risco de depressão - resultados iniciais saem este ano.

"O grande desafio não é capturar e processar dados. A questão é como dar sentido a eles", diz Christian Kieling, professor de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), à frente do projeto, que monitora 150 adolescentes pelos smartphones. Entre os voluntários, há jovens já com diagnóstico de depressão, com alto risco de ter o transtorno e com baixo risco, conforme escala validada cientificamente.

Nos áudios, avaliam o conteúdo e a forma. Já o app capta, de 15 em 15 segundos, amostras de som do ambiente. E há o pacto de confidencialidade: os cientistas não escutam a conversa, mas sabem o número de vozes, para medir a interação social.

O app coleta dados de geolocalização e padrões de atividade e repouso - é permitido desligar a qualquer hora. Terapias contra a depressão estimulam conexões e atividade física. Informações sobre interações e movimentação espacial podem facilitar intervenções personalizadas. O grupo deve ter ainda consultas com psiquiatras, exames de sangue e ressonância.

MAPA.

Outro estudo, ligado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), prevê a tecnologia para ajudar na identificação precoce de possíveis perfis depressivos. O trabalho foi iniciado em 2021, após o suicídio de um aluno. Um modelo computacional vai analisar textos dos estudantes no Facebook.

A ferramenta, criada na UFSCar em parceria com a Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e a Universidade George Mason (EUA), tenta "ler" palavras e expressões indicadoras de possível perfil depressivo. O robô é esperto, mas, ao decifrar a escrita, escapam-lhe entonação e ironia, por exemplo. "Não é porque tem poder de processamento que a inteligência artificial é melhor do que a gente", diz Helena Caseli, professora de Computação da UFSCar.

Para ter análise mais robusta, serão coletados sinais fisiológicos (batimentos cardíacos e padrões de sono) por meio de relógios inteligentes. Os resultados podem servir para um "mapa epidemiológico" - e estratégias institucionais de bem-estar dos alunos -, além de análises individualizadas. Um dos trunfos é comparar dados de um paciente hoje com informações anteriores dele e ver eventuais mudanças.

EMOÇÕES.

Para Felipe Giuntini, pesquisador do Sidia, centro de inovação em soluções digitais, é possível ver, no processamento de dados das redes, um padrão de emoções. Em seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP), ele coletou publicações no Reddit, rede social popular nos Estados Unidos, por dez anos.

Foram selecionadas postagens - incluindo emojis - de um grupo de apoio a pessoas com depressão. A análise mapeou palavras como "tristeza", "vergonha" e "entusiasmado" para ver padrões e aprender com a própria rede. Para Giuntini, o algoritmo ajuda a entender alterações de humor dos pacientes.

Em outra frente, a ideia é levar ao consultório quem ainda está longe. "A pessoa vai ao cardiologista e descobre no check-up uma arritmia. Isso não acontece em saúde mental", diz Alexandre Loch, do Instituto de Psiquiatria da USP. A demora média desde os primeiros sinais até o diagnóstico do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), por exemplo, é de 11 anos.

Loch testa um software para avaliar imagens do rosto e a fala de voluntários, de 18 a 35 anos, em entrevistas presenciais. Análises computacionais rastreiam pausas no discurso, movimentos de olhos, gesticulação e falta de conexão na fala - aspectos que seriam notados pelo psiquiatra na consulta. Mas quem sai da fábrica entende de divã? Um estudo com inteligência artificial para detectar câncer de pele da Universidade de Stanford (EUA) mostra que o algoritmo discernia lesões como um dermatologista. Já na Psiquiatria cada um expõe raiva ou tristeza de um jeito. "Como é mais subjetivo e simbólico, é difícil a máquina aprender", afirma Loch.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

José* perambula pelo entorno do Pátio do Carmo, no bairro de Santo Antonio, sem destino, pedindo dinheiro a quem passa, dormindo em qualquer lugar. Conhecido pelos transeuntes e comerciantes como “Eu lhe odeio”, por conta da frase que mais profere às pessoas, ele é um dos muitos moradores de rua do local que sobrevivem em situação de risco, mas com um agravante: José sofre de transtorno mental.

“Eu trabalho aqui há três anos e ele tá sempre jogado por aí. Quando bebe fica doido, roubam ele”, conta a ambulante Millena Rodrigues. Apesar do apelido que possa remeter a um comportamento agressivo, ela garante que o xingamento não passa de provocação verbal. “Ele grita com todo mundo, mas nunca o vi batendo em ninguém”, revela.

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Esse tipo de cena é até certo ponto comum na capital. O que não faltam são relatos de “doidos” que vivem vagando em condições extremas. Em uma pesquisa realizada no primeiro semestre de 2016, a Prefeitura do Recife constatou que existem 1.030 pessoas em situação de rua na cidade, sendo 163 com transtornos mentais. Em novembro do ano passado, um novo levantamento teve início, porém ainda não está finalizado. Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, os dados atualizados devem estar prontos em março.

Esse problema é maior no centro, mas não é exclusividade desses bairros. Em uma pracinha na rua Astronauta Neil Armstrong, no Parnamirim, dona Maria* junta caixas de papelão e panos que encontra nas ruas. Ela não deixa ninguém se aproximar e acusa qualquer um que tente contato, mesmo que seja para oferecer água ou comida, de querer roubar suas coisas. “Já tem uns cinco meses que essa senhora fica aí, muitas vezes gritando e falando sozinha a noite toda. Ninguém sabe de onde ela veio”, conta o porteiro de um dos prédios da área, que não quis se identificar.


“É difícil se aproximar, não é uma abordagem fácil”, explica Brena Leite, coordenadora do Consultório na Rua, política pública do Ministério da Saúde adotada pela Prefeitura do Recife para assistir a população em situação de rua. O poder público quase sempre é cobrado para que se realize algum tipo de intervenção, mas, segundo ela, apesar da situação de vulnerabilidade, a internação forçada não é opção. “Essas pessoas podem ser tratadas na rua. Nossa primeira abordagem é trazer para nossos serviços. A gente chega primeiro na pessoa, depois na doença”, diz.

Caso identifiquem o transtorno mental, os profissionais do Consultório na Rua encaminham o paciente para os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), onde se dá o atendimento inicial e o diagnóstico. “O paciente não precisa estar internado para se tratar, o isolamento não resolve, é preciso que ele esteja no meio social”, conta Brena Leite. “Além do mais a estadia nos abrigos é provisória”, completa. Em casos violentos, como quando é preciso algum tipo de ação policial, o procedimento de emergência é realizado no hospital Ulysses Pernambucano, na Tamarineira.

Ainda de acordo com Leite, um dos pontos principais da ressocialização desses indivíduos é a procura pela família. “Recentemente tivemos o exemplo de Antonio*, 30 anos, diagnosticado com esquizofrenia, que ficava nas ruas do Jordão. Passamos dois anos em contato com sua situação e conseguimos levá-lo para morar com o irmão, em Igarassu, e também colocá-lo no benefício da aposentadoria”, comemora. Porém, ela própria admite que ainda falta estrutura para o Consultório na Rua cobrir toda a cidade. “Nos concentramos no centro da cidade, onde realmente existe a maior incidências de moradores de rua e na Zona Sul, que por conta do turismo atrai mais pedintes”, explica.

Renegados

Nos casos onde os pacientes com transtornos mentais cometem crimes e cumprem medida de segurança, sejam moradores de rua ou não, essa procura pelo retorno ao lar torna-se uma missão quase impossível.

“A família não quer de volta por conta do passado de violência e ninguém pode ser obrigado a receber um parente em sua casa”, explica Ana Carolina Khouri, defensora pública que atua no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), na Ilha de Itamaracá. Segundo ela, a recusa da família não configura abandono de incapaz, caso o interno não seja menor de idade ou idoso. “O que não dá direito a prática de maus tratos, claro”, completa.

O HCTP tem hoje 40 pessoas com ordem de desinternação que permanecem na instituição por não ter lugar para ir. “O Estado precisa ter o aparato para dar um destino a essas pessoas, não podemos simplesmente expulsá-las”.

De acordo com a defensora, os pacientes cujo transtorno mental não lhe priva de uma rotina de trabalho e convívio social, são encaminhados para a Moradia Assistida (residência em um lugar alternativo com acompanhamento psicológico) e passam a receber o Benefício da Prestação Continuada (aposentadoria por invalidez).

Para os casos de inabilidade total, o processo é a residência terapêutica municipal, mas o problema da falta de estrutura trava tudo. “A rede de atendimento é muito deficiente, mesmo existindo em todas as grandes cidades de Pernambuco. Esses locais estão sempre cheios, pois foram criados para suprir as demandas dos hospitais que foram fechados e não dão conta”, lamenta Ana Carolina Khoury.

*Nomes fictícios

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Uma proposta em análise na Câmara dos Deputados inclui, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o transtorno mental na relação de doenças que fazem parte da educação especial. No contexto atual, a legislação define que essa modalidade de ensino trabalhe apenas com estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação.

De acordo com a autora do projeto de lei, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), a esquizofrenia é um transtorno mental grave e deve ser levada em consideração na LDB. “Apesar de a legislação atual tratar sobre a oferta de educação especial também na modalidade profissional, prevendo as adaptações necessárias ao adequado atendimento do aluno, acreditamos ser essencial mencionar os alunos portadores de problemas da esfera mental”, comenta a deputada, conforme informações da Agência Câmara de Notícias.

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A proposta, caso seja aprovada, acrescerá novos itens de cuidado, treinamento e condutas mais abrangentes para estudantes com doenças mentais e esquizofrenia. Segundo a Agência, o projeto será arquivado pela Mesa Diretora no dia 31 deste mês, por causa do fim da legislatura. Entretanto, como a deputada foi novamente eleita, o texto poderá ser desarquivado, devendo ser analisado em caráter de conclusão pelas comissões de Educação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Com informações da Agência Câmara de Notícias

O campeão paralímpico sul-africano Oscar Pistorius não sofria nenhum transtorno mental durante o assassinato da namorada Reeva Steenkamp, afirmou o promotor no reinício do julgamento do atleta nesta segunda-feira.

"O senhor Pistorius não sofria nenhum transtorno mental ou incapacidade que o tornasse penalmente não responsável pelo ato do qual é acusado", concluíram os quatro especialistas solicitados pela corte para examinar o atleta, segundo o relatório lido pelo promotor Gerrie Nel.

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"Pistorius estava em condições de avaliar que o que estava fazendo era errado", completou. Nel destacou que os três psiquiatras e o quarto clínico solicitado, um psicólogo, chegaram às mesmas conclusões em dois relatórios separados.

Com o objetivo de garantir um julgamento equitativo, o tribunal suspendeu a audiência de 20 de maio para permitir que o atleta fosse examinado em um hospital psiquiátrico em Pretória e obter um diagnóstico independente.

A defesa havia sugerido que Pistorius sofria de um transtorno de ansiedade generalizada, provocado por sua infância e que poderia ter contribuído para a ação fatídica.

Barry Roux, advogado de Pistorius, não se pronunciou imediatamente sobre as conclusões dos especialistas, assim como a juíza Thokozile Masipa, que ordenou o prosseguimento da audiência com as testemunhas convocadas pela defesa.

Os psiquiatras e psicólogos afirmam: aumentou e muito o número de pacientes nos consultórios em detrimento do uso compulsivo da Internet e dispositivos digitais móveis. "Tudo que vira compulsão se torna um vício. Exitem pacientes que desenvolvem verdadeiros Trastornos Obsessivos Compulsivo por conta dos eletrônicos e redes sociais", disse o psicólogo João Henrique.

A medida que a internet invadiu a vida moderna, tornando-se onipresente, uma série de transtornos mentais ligados ao uso da tecnologia digital acompanhou a população. "O uso dos equipamentos eletrônicos, principalmente o smartphone, que está atrelado a internet, faz com que as pessoas sintam que ele faz parte do corpo e da vida. Muitos entram em depressão ou tem crises de pânico quando, por exemplo, o gadget descarrega", continua.

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Vemos que as redes sociais e o uso de smartphones que acompanham essa era digital só faz aumentar. O famoso muro das lamentações foi transformado em mural e timeline, os amigos, em meros expectatores da vida e a alegria, muitas vezes é compartilhada e vivida por notificações de mensagens. "Os amigos virtuais, as notificações, a popularidade na internet, faz com que a pessoa se sinta útil e bem. Quando há um esquecimento, ou uma apatia nas redes sociais, muitos pacientes apresentam sintomas de depressão, por pensarem que não são amados", disse. "Dificilmente as pessoas publicam coisas triste em suas redes sociais. Sempre são festas, viagens, promoções. Algumas pessoas experimentam esse tipo de situação de forma positiva, outras já nutrem outro tipo de sentimento perante as postagens e muitas vezes essa quantidade exacerbada de publicações consideradas positivas é uma rota de fuga do autor", complementa.

"Vivia tanto tempo grudada ao telefone, que muitas vezes sentia o celular vibrar ou tocar, quando percebia, nem com o celular próximo estava", disse a estudante de comunicação, Rebeca Marques. Isso que Rebeca narrou tem nome. Chama-se "Síndrome do toque fantasma", que acontece quando o cérebro faz com que você pense que seu celular está vibrando quando na realidade nem ligado, muitas vezes, está.

Esse tipo de distúrbio já foi tese de doutorado e transformou-se em um livro. Segundo o autor do livro  iDisorder, Dr. Larry Rosen, 70%  usuários intensivos de dispositivos móveis já relataram ter experimentado o telefone tocando ou vibrando mesmo sem ter recebido nenhuma ligação. Tudo graças a mecanismos de resposta perdidos em nossos cérebros. "Como trata-se de um TOC, ansiedade e depressão, já que os vícios levam a esse diagnóstico, se for prescrito realmente, depois de uma avaliação, que a pessoa tem algum tipo de distúrbio  neste sentido, um acompanhamento psiquiátrico, seguido de uma terapia, será um dos caminhos utilizados para a cura", disse o psiquiatra Dr. Luiz Antônio de Albuquerque.

 

 

 

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