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No dia 11 de novembro de 2023, foi veiculada a notícia de que Alexandre Correa teria agredido Ana Hickmann, na casa deles em Itu, São Paulo. Inicialmente, ele negou a agressão, mas, de acordo com o boletim de ocorrência feito por Ana Hickmann no dia do incidente, ao qual o G1 teve acesso, ela afirma que teve o braço prensado.

A situação teria acontecido na cozinha da casa da família, por volta das 15h30, e o filho deles estaria junto e ficou assustado. Quatro dias depois, nesta quarta-feira (15)5, Alexandre voltou a se pronunciar no Instagram, afirmando tristeza e pedindo para rever o herdeiro de nove anos de idade.

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"Oxóssi, caçador de uma flecha só, filho de Oxalá e Yemanjá, tira a tristeza do meu peito, dá coragem para eu seguir meu caminho em paz e poder ver meu filho!".

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A Sérvia acordou comovida nesta quinta-feira (4), um dia após um ataque sem precedentes em uma escola de Belgrado, no qual um estudante de 13 anos matou a tiros oito colegas e um guarda.

As aulas em todas as escolas deste país dos Bálcãs começaram com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas.

"Ontem eu chorei o dia todo. Meu filho frequentou aquela escola", disse à AFP Mileva Milosevic, uma advogada aposentada de 85 anos que mora perto do centro onde ocorreu o drama na quarta-feira.

"Nunca vou esquecer, porque passo por lá todos os dias", acrescentou.

A escola Vladislav Ribnikar, que atende alunos de 7 a 15 anos no centro de Belgrado, continuou fechada na manhã desta quinta-feira.

Um jornalista da AFP constatou que vários policiais ainda estavam presentes na entrada do estabelecimento.

Na manhã de quarta-feira, um aluno de 13 anos, armado com uma pistola 9mm, abriu fogo, matando primeiro o guarda e três colegas nos corredores, antes de se dirigir para uma sala de aula onde atirou primeiro num professor e depois nos alunos.

Ele matou um total de sete meninas, uma delas de nacionalidade francesa, e um menino, todos de 12 ou 13 anos, além do guarda. Seis crianças e sua professora de história ficaram feridas e foram hospitalizadas.

- Três dias de luto nacional -

Dois estudantes, um menino e uma menina, gravemente feridos, permanecem em "estado crítico", declararam na manhã desta quinta-feira os responsáveis de dois hospitais de Belgrado onde foram internados.

"Juventude ceifada na aula de História", disse o jornal Vecernje Novosti nesta quinta-feira.

O Instituto de Saúde Mental de Belgrado abriu linhas de telefone para fornecer apoio psicológico a alunos, famílias de vítimas e professores.

Depois de uma reunião de milhares de pessoas na quarta-feira, a população continua prestando homenagem às vítimas em frente à escola nesta quinta, onde colocam flores, brinquedos, mensagens e acendem velas.

"Onde estamos como seres humanos? Onde está a nossa empatia? Como é que não conseguimos ver o problema, tanto com o rapaz que cometeu este ato de violência, como com todas as outras pessoas que levaram ao que aconteceu?", perguntou Ana Djuric, moradora de Belgrado de 37 anos, em frente à escola.

O governo decretou três dias de luto nacional a partir de sexta-feira.

As celebrações e eventos programados neste país de menos de 7 milhões de habitantes serão cancelados ou reduzidos ao mínimo.

O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, em discurso à nação na noite de quarta-feira, deplorou "um dos dias mais difíceis da história contemporânea" da Sérvia.

O incêndio na boate Kiss completa dez anos nesta sexta-feira (27). A tragédia provocou a morte de 242 pessoas, mais de 600 feridos e comove o país até hoje, sem nenhum réu responsabilizado

O drama começou por volta de três horas da manhã do dia 27 de janeiro de 2013, quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, acendeu um objeto pirotécnico dentro da boate, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. 

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A espuma do teto foi atingida por fagulhas e começou a queimar. A fumaça tóxica fazia as pessoas desmaiarem em segundos. O local estava superlotado, não tinha equipamentos para combater o fogo, nem saídas de emergência suficientes. Morreram pessoas que não conseguiram sair e outras que tinham saído, mas voltaram para ajudar.

O delegado regional de Santa Maria, Sandro Luiz Mainers, contou que o pânico se instalou quando a fumaça se espalhou e a luz caiu. As pessoas não sabiam como fugir.

"E isso fez com que algumas pessoas enganadas por duas placas luminosas que estavam sobre os banheiros da boate corressem na direção dos banheiros e não na direção da porta. Então, houve um fluxo e um contrafluxo. Algumas corriam para o banheiro e outras tentavam correr na direção da porta de entrada. Isso fez com que muitas pessoas morressem porque algumas acabaram sendo derrubadas, algumas caíram", relatou.

Além da falta de sinalização, quem tentava sair esbarrava nos guarda corpos que serviam para direcionar as pessoas ao caixa da boate, disse o delegado. "E os guarda corpos foram determinantes até porque nós encontramos corpos caídos sobre esses guarda corpos", afirmou.

Relato

O jornalista Dilan Araújo atuou na cobertura para as rádios da EBC, quando o incêndio aconteceu. Ele disse que os familiares iam a um ginásio da cidade para procurar por informações e fazer o reconhecimento das vítimas.

"E, por isso, de tempos em tempos, a gente ouvia os gritos desconsolados, né? Rompendo aquela atmosfera de silêncio e de tensão, outros familiares tentando consolar aqueles que se encontravam numa emoção. De desespero maior. E tinha também a angústia daqueles que ainda estavam sem notícias", finalizou.

"É melhor ser alegre que ser triste." A frase, que inicia o famoso Samba da Bênção, de Vinicius de Moraes, dificilmente vai ser contestada por alguém. Afinal, quem quer encarar esse sentimento incômodo, muitas vezes doloroso? Apesar disso, o músico e poeta nos próximos versos reconhece: "Mas pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza." Os artistas ao longo da história foram admirados por se inspirarem na miríade de emoções humanas para produzirem suas obras, mas parece que os sentimentos considerados negativos foram "cancelados" - nas redes sociais, predominam os sorrisos das festas e das viagens de famílias e amigos aparentemente perfeitos, entre outros registros de momentos incríveis vividos por tantas pessoas.

Profissionais da saúde mental observam o comportamento de tentar esconder e ignorar a tristeza nos tempos atuais e alertam: é preciso reconhecer e acolher a tristeza, já que ao varrê-la para baixo do tapete ela pode se arrastar por mais tempo e até desencadear uma depressão.

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A tristeza é uma resposta natural a nossas perdas e nos ajuda a gerenciá-las, explica o psicólogo e escritor Rossandro Klinjey, autor do livro O Tempo do Autoencontro: Como Fortalecer-se em Tempos Difíceis e Vencer os Desertos da Vida. "Embora possa ser desconfortável, não se permitir viver a tristeza prejudica a nossa vida emocional. Desenvolvemos a capacidade de nos adaptar e evoluir emocionalmente na medida em que respondemos à experiência de processar nossas dores. Ao fugir da tristeza, perdemos todo esse aprendizado essencial de nossas vidas", diz.

O psicólogo esclarece que acolher a tristeza não significa afundar-se na auto piedade. "Essa permissão de entristecer-se funciona como uma etapa inicial de sair da própria tristeza e de se desenvolver. É um equívoco levar a vida como se nada estivesse abalando seu universo íntimo." Segundo Klinjey, quando uma pessoa está triste e prefere ficar só, está se valendo de um mecanismo de proteção para se manter seguro em um momento de vulnerabilidade - o que precisa ser respeitado pelas pessoas ao redor. "Além disso, ficar só quando estamos tristes nos ajuda a reduzir estímulos emocionais desnecessários, dando espaço para lidarmos com sentimentos intensos ou complexos", acrescenta.

Ao ser diagnosticada com câncer de mama, a fisioterapeuta Mariana Fernandes, de 38 anos, entrou em desespero, assim como tantas mulheres que passam por essa situação. "Chorei de manhã, tarde e noite por uma semana. A gente tem que chorar porque é triste, doloroso e sofrido. Mas depois resolvi olhar pra frente", conta.

No início, ficou incomodada em demonstrar a tristeza para suas filhas, de 7 e 9 anos, mas depois percebeu que era importante que elas entendessem que a vida não era feita só de alegrias. "Expliquei para elas que eu estava triste, mas que ia melhorar. Elas sofreram junto, mas cresceram com tudo isso, assim como toda a família", diz ela, que fundou em outubro a comunidade Anjo Rosa, para ajudar pessoas em tratamento do câncer de mama.

A tristeza é um sentimento incômodo, mas isso é importante para ativar o foco da pessoa, afirma o psiquiatra Daniel Martins de Barros, autor do livro O Lado Bom do Lado Ruim. "Se a tristeza fosse agradável, não serviria de alarme para nós", diz. Segundo Barros, o sentimento de tristeza vem quando temos a noção de que perdemos algo, o que nos leva a uma baixa de energia, com uma postura de não-enfrentamento. "Uma das funções da expressão das emoções é modular o comportamento do outro, que tende a interromper uma agressão ao perceber a expressão de tristeza e dor", explica.

O luto, que é a expressão máxima da tristeza humana, funciona como um amargo remédio para elaborar uma perda, afirma o psiquiatra. "É preciso viver a dor de reconhecer que as chances acabaram. É o único caminho para conseguir seguir em frente", diz Barros.

Quem não se permite vivenciar o luto não se liberta, afirma a psicóloga e psicanalista Beatriz Breves, autora de diversos livros sobre a "ciência do sentir". "Há pessoas que caem no luto patológico e passam 20 anos de sofrimento, apegadas, com roupas e outras coisas da pessoa que se foi", diz.

Saber reconhecer e nomear os sentimentos é fundamental - e eles aparecem como uma "salada de frutas", já que não andam sozinhos, segundo a psicóloga. "A tristeza sempre vem acompanhada de outros sentimentos como angústia, esperança", diz. Para Beatriz, diante da complexidade de sentimentos, é preciso escutá-los para que seja possível digeri-los. A psicóloga explica que não é possível frear um sentimento. "A tristeza pode ser reprimida, mas sob o risco de ativar uma depressão", alerta.

Assim como é importante aceitar e gerenciar a própria tristeza, é preciso acolher a dor alheia, em vez de tentar abafá-la. "Tem quem diga para as crianças engolirem o choro e não ficarem tristes. Isso é muito ruim", afirma a psicóloga Beatriz. Ao perceber que alguém está triste, a melhor atitude é oferecer a escuta. "Seja empático e não simpático. O simpático tenta apagar a dor, o empático entende que alguém está passando por uma dor e se oferece de suporte", diferencia.

Empatia

Mariana Fernandes, que recebeu o diagnóstico de câncer de mama duas vezes, acredita que a escuta empática é a melhor forma de apoiar quem está passando por uma fase difícil. "É importante estar ao lado e deixar a pessoa falar quando quiser e o que quiser, sem dizer nada. Isso ameniza a dor e faz a pessoa se sentir acolhida."

Desde criança, a escritora e jornalista Leila Ferreira teve a permissão de vivenciar a sua tristeza. "Minha mãe nos ensinou a acolher os nossos estados de espírito e os dos outros. Ela nos liberava para sentir a vida como um todo, expressar os sentimentos, mesmo que fossem tristes, sem falsear. Ser mais verdadeiro é mais saudável", diz. Em dezembro, ela fez uma palestra com o tema "A alegria de poder estar triste" no TEDx de uma faculdade em Minas Gerais, entre outras apresentações que tem feito sobre o assunto.

Segundo a escritora, vivemos em tempos em que as pessoas tentam banir a tristeza o que empobrece a vida e reduz o próprio sentido da felicidade. "É um mundo frenético, que quer manter uma felicidade forjada, esfuziante e permanente. Estimula o barulho, o falar, o estímulo. Há uma baixa tolerância ao silêncio, mas a vida pede eventualmente esse recolhimento e silêncio", analisa.

Leila explica que não faz ode à tristeza: sempre equilibrou os momentos de melancolia com muita alegria de viver. "Sentir felicidade é o desejo mais legítimo do mundo. O que faz mal é simular uma alegria que não está sentindo, influenciado pela positividade tóxica dos nossos tempos." Na visão dela, existem gurus da "ditadura da felicidade" que dizem que só dependem de você se sentir bem. "Isso acaba sendo uma fonte de infelicidade, que só deixa as pessoas piores. Elas se sentem incompetentes, frustradas, culpadas, diante das milhões de postagem de pessoas supostamente felizes nas redes sociais."

O filósofo e professor Marcio Krauss também enxerga a sociedade em que vivemos como obcecada pela positividade. "A dor, frustração, vulnerabilidade são ocultas, como se houvesse um filtro igual o das redes sociais, que esconde os traços humanos de imperfeição", diz.

Na visão de Krauss, esse é um sintoma da chamada "sociedade do cansaço" definida pelo filósofo coreano Byung-Chul Han, na qual as pessoas são ao mesmo tempo escravas e algozes de si próprias, na busca incessante por desempenho e produtividade. "É o imperativo do ‘sim’, em que o próprio indivíduo se sente culpado ou fracassado caso se sinta cansado ou triste, pois internalizou a cobrança. Todas as pessoas estão numa corrida inalcançável, seja no trabalho, em casa, no restaurante ou na academia", descreve.

Agridoce

A indústria cultural, seguindo a lógica de mercado, também segue esse padrão, fazendo adaptações para trazer novos produtos de forma rápida, observa o filósofo. Tem um papel diferente da arte, que sempre foi importante para ajudar as pessoas a refletirem e ampliarem seus horizontes. "As músicas mais tocadas hoje sobre ‘sofrência’, por exemplo, não encaram a dor como deve ser encarada. Elas falam da tristeza de forma rasa, como um entretenimento esvaziado de sentido", diz Krauss.

Por milhares de anos, artistas e pensadores exploraram o poder do "agridoce", que mescla os estados de saudade, pungência e tristeza, mas a cultura contemporânea é curiosamente silenciosa sobre isso, afirma a escritora norte-americana Susan Cain, que lançou em setembro no Brasil o livro O Lado Doce da Melancolia. "É hora de reviver essa tradição. A tristeza e a saudade têm o poder de nos tornar inteiros. São nossas lágrimas, não nossas risadas, que nos levam a um mundo melhor e mais conectado", diz. Susan explica que o estado agridoce traz uma alegria penetrante com a beleza do mundo por reconhecer a luz e a escuridão, o nascimento e a morte, o amargo e o doce.

Famosa por seu livro O Poder dos Quietos, que entrou na lista dos mais vendidos do jornal norte-americano The New York Times, Susan Cain conta que resolveu escrever o seu último livro porque queria entender o paradoxo de como uma música triste pode nos deixar felizes e como era possível sentir as duas emoções ao mesmo tempo. "Eu era obcecada por músicas tristes e em tons menores. Hallelujah de Leonard Cohen foi como meu hino pessoal", conta. Para desenvolver a sua obra, Susan mergulhou no tema por cinco anos. E sua mais importante conclusão foi que esse estado mental "agridoce" é uma porta de entrada para a criatividade, conexão e transcendência.

É assim para a escritora Liana Ferraz, autora do livro de poesias Sede de me Beber Inteira. "Eu acho a tristeza tão misteriosa, tão introspectiva, tão…humana! E, por não ser o tema da nossa época, me sinto muito convidada a falar sobre", diz. Ao se deparar com este sentimento, Liana não faz esforço para que ele suma. "Como tenho a criatividade como bússola, sei que estou diante de algo pulsante quando, ao olhar para a tristeza, quero dissecá-la e fazer composição com ela", diz.

Liana afirma que adora ser escritora por ser obrigada a olhar para todas as emoções, mas deixa claro que não devemos nos entregar à tristeza incapacitante. "Se o processo é patológico, nada brilha aos olhos."

Foi a partir de uma tristeza profunda que Liana se descobriu "artista das palavras". Ela conta que queria ser atriz, o que era um segredo, mas teve uma doença que a impossibilitou temporariamente de andar e minou o seu sonho. "Ficava achando palavras para a dor física, para a frustração de não estar na escola, para o sentimento de não pertencer ao meu grupo de amigos." Percebeu, então, que se não fosse atriz poderia escrever e ser, ainda assim, artista. "No meio dessa dor imensa, descobri que poderia ‘andar’ com as palavras", diz Liana, que superou a doença, se formou atriz - mas escolheu trabalhar como escritora.

De acordo com pesquisa realizada pela empresa de saúde HealthTech, 93% dos entrevistados sentem-se nervosos, tensos ou preocupados, mais de 73% apresentam cansaço geral e 78% apresentam tristeza em sua rotina de trabalho. O levantamento foi realizado com 800 pacientes da empresa, que teve a intenção de expandir o debate sobre saúde corporativa.

A pesquisa, que foi realizada por meio da aplicação do questionário de saúde mental, durante 12 meses, ainda revelou que 11,5% dos participantes já sentiram vontade de suicidar-se. O dado não é surpreendente, visto que, segundo Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais ou psíquicos.

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Outros dados identificaram que 265 entrevistados, trataram ou ainda tratam algum transtorno de ansiedade, enquanto 167 apresentaram problemas relacionados ao estresse. Do total de participantes, 127 relataram tratar ou ter transtornos depressivos durante o período do estudo.

A HealthTech informou também que 59% dos entrevistados têm dificuldade de pensar com clareza, 60% perdem o interesse pelas coisas com facilidade, 52,5% relataram chorar mais do que o costume, enquanto 35% se sentem inúteis.

Centenas de pessoas se reuniram para chorar a morte de 19 crianças e duas professoras assassinadas na terça-feira (24) em uma escola do Texas, em um massacre cometido por um adolescente de 18 anos que comprou um fuzil legalmente.

A tragédia, a pior em uma escola do país em uma década, multiplica a indignação e os questionamentos sobre como limitar a venda de armas no país, um controle que poderia ter evitado esse massacre.

"Estou com o coração partido", lamentava Ryan Ramirez, que perdeu sua filha de 10 anos, Alithia. Ao seu lado, sua esposa Jessica chorava silenciosamente com a outra filha nos braços.

O massacre mudou para sempre a história de Uvalde, uma pequena cidade de 16.000 pessoas localizada perto da fronteira com o México e com população majoritariamente hispânica.

"Não há explicação para isso, minha neta não merecia isso. Era uma boa menina, muito tímida e muito bonita", dizia à imprensa Esmeralda Bravo, avó de Nevaeh, que também morreu no massacre.

- De criança assediada a agressor -

"Meu amor agora voa alto com os anjos lá em cima", escreveu no Facebook Ángel Garza, cuja filha Amerie Jo Garza acabara de comemorar seu 10º aniversário. "Eu te amo, Amerie Jo".

Os detalhes do massacre chocaram o país e o mundo.

Em entrevista coletiva, o governador Greg Abbott revelou que o agressor, Salvador Ramos, que foi morto pela polícia, atirou no rosto de sua avó de 66 anos antes de seguir para a escola Robb.

Ramos, de nacionalidade americana, compartilhou nas redes sociais o seu plano de atacar a avó, que, apesar de gravemente ferida, conseguiu alertar a polícia.

O jovem voltou a enviar uma mensagem no Facebook para dizer que seu próximo alvo era uma escola, para onde dirigiu vestido com colete à prova de balas e carregando um fuzil AR-15, arma projetada para causar o maior número de vítimas possível em tempo recorde.

Um funcionário da escola tentou barrar seu acesso ao centro educacional, onde ele conseguiu se barricar em uma sala de aula e começou a matar crianças.

Ramos foi uma criança com sérios problemas familiares, que gaguejava. Ele sofreu 'bullying' na escola por seus problemas de fala e, uma vez, cortou o rosto "só por diversão", segundo Santos Valdez, amigo do atacante no passado, ao The Washington Post.

- "Culpa sua" -

O governador do Texas rejeitou as sugestões de que uma legislação mais rígida sobre armas era necessária no estado, onde o apego ao direito de portá-las é profundo.

"Acredito que essa pessoa incorporava o mal puro", disse Abbott, repetindo um argumento comum entre os republicanos: que o acesso irrestrito a armas não é o culpado pela epidemia de violência armada no país.

"Isso é sua culpa (...) a partir do momento em que decidiu não fazer nada", repreendeu o democrata Beto O'Rourke, um fervoroso defensor do controle de armas que aspira a concorrer contra Abbott em novembro para o cargo de governador.

A posição de Abbott foi ecoada pelo NRA, o poderoso lobby pró-armas dos EUA, que emitiu uma declaração atribuindo o que aconteceu a "um criminoso solitário e perturbado".

O presidente Joe Biden, que visitará Uvalde, pediu ao Congresso que enfrente o lobby pró-armas e aprove leis mais rígidas.

Nos Estados Unidos, houve mais tiroteios em massa (nos quais quatro ou mais pessoas ficaram feridas ou mortas) em 2022 do que dias até agora neste ano, de acordo com a ONG Gun Violence Archive, que registrou 213 incidentes.

Apesar disso, as várias tentativas de reforma fracassaram no Congresso.

A indignação também era sentida em Uvalde. "Estou triste e com raiva de nosso governo por não fazer mais pelo controle de armas", comentou Rosie Buantel, uma moradora, à AFP.

"Já passamos por isso muitas vezes. E nada foi feito ainda".

O avô de Ramos, Rolando Reyes, de 73 anos, expressou seu pesar pelas famílias enlutadas.

"Sinto muito e estou com muita dor porque muitas dessas crianças são netos de amigos meus", disse à CBS News.

O tiroteio em Uvalde foi o incidente mais mortal desde o tiroteio na escola Sandy Hook em 2012 em Connecticut, no qual 20 crianças e seis adultos foram mortos.

Apontado como affair de Marília Mendonça, o funkeiro Matheuzinho usou as redes sociais, na madrugada deste sábado (6), para relembrar seu último encontro com a cantora e lamentar sua morte. Através de uma postagem em seu Instagram o artista homenageou a sertaneja e comoveu os seguidores com seu desabafo.

Marília e Matheuzinho não haviam oficializado o possível relacionamento publicamente mas, vinham sendo vistos juntos em festas e restaurantes. A cantora estava solteira desde setembro, quando terminou sua relação com o também sertanejo Murilo Huff, pai  de seu filho Léo de quase dois anos. 

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Após a tragédia que ceifou a vida da cantora e chocou todo o país, Matheuzinho fez uma publicação em seu perfil no Instagram falando como foi seu último encontro com sua suposta namorada e a homenageou com palavras carinhosas. Hoje de manhã quando te deixei na academia, nos despedimos e prometemos nos ver domingo, conversamos tanto essa madrugada né Fifi? Vivemos momentos lindos e sei que foram intensos e felizes! A dor que sinto agora é imensa e inexplicável. Fica a saudade eterna que invadiu o meu coração sem data pra sair. Marília, descanse em paz”.

O mundo está acompanhando de perto os desdobramentos do caso da morte de Halyna Hutchins, diretora de fotografia do filme Rush que foi morta por um tiro supostamente acidental disparado por Alec Baldwin. Por meio das redes sociais, o ator se pronunciou pela primeira vez sobre a tragédia.

"Não há palavras para expressar meu choque e tristeza pelo trágico acidente que tirou a vida de Halyna Hutchins, esposa, mãe e muito admirada colega nossa. Estou cooperando totalmente com a investigação policial para resolver como essa tragédia ocorreu", garantiu.

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"Estou em contato com o marido dela, oferecendo meu apoio a ele e sua família. Meu coração está partido por seu marido, seu filho e por todos que conheciam e amavam Halyna", emendou o ator.

A cultura brasileira amanheceu de luto. Depois da morte de Paulo José, a arte também chora com a partida de Tarcísio Meira. O ator faleceu por complicações da Covid-19, em São Paulo. Nas redes sociais, pessoas que trabalharam e admiravam o talento de Tarcísio fizeram inúmeras homenagens, inclusive Lilia Cabral. A atriz, com quem Tarcísio já dividiu cenas na teledramaturgia, foi às lágrimas durante o programa 'Encontro'.

Participando da atração através de uma videochamada, Lilia lamentou o falecimento do colega. "Quando se morre jovem, é uma tragédia, quando vamos envelhecendo, sabemos que vai chegar a hora da partida, mas é difícil acreditar, receber a notícia da morte. Ele viveu o meu pai por duas vezes. Agora só estou pensando na Glória... Através dela eu o conheci. Glória tão minha amiga, tão carinhosa, não dá para desassociar um do outro. Mas tem que aceitar, entender, sei lá...", falou.

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Lilia e Tarcísio Meira viveram pai e filha na novela 'A Favorita', de João Emanuel Carneiro, em 2008. A última vez que Tarcísio Meira atuou na TV Globo foi na obra 'Orgulho e Paixão', há três anos. Casado com Glória Menezes desde a década de 1960, o ator trabalhou na emissora por 53 anos. No ano passado, em entrevista a Pedro Bial, Tarcísio falou do seu desligamento do canal carioca.

"Eu acho que a Globo está tomando novos e diferentes rumos, o que acho muito bom, acho ótimo. Agora, para nós mais velhos, o novo é sempre um desafio. Nos acomodamos bem na Globo. Fizemos boas coisas, bons trabalhos, e temos a certeza de que fomos muito importantes para a Globo, e ela foi muito importante para nós. Nós devemos muito à Globo", contou.

A notícia da morte de Tarcísio Meira, nesta quinta (12), deixou a classe artística brasileira enlutada. O ator estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, com o diagnóstico de Covid-19, há cerca de seis dias, e não resistiu às complicações da doença. Na internet, amigos de profissão e outros artistas se manifestaram e prestaram homenagens ao veterano da TV.  

Grandes nomes da teledramaturgia brasileira homenagearam Tarcisão, como era conhecido, tão logo a notícia de sua morte foi divulgada. Os atores Fábio Assunção, José de Abreu, Humberto Carrão, Alinne Moraes, Marcelo Serrado e Bárbara Bruno lamentaram a perda do colega. Já o também veternao Ary Fontoura, deu uma entrevista ao vivo para Fátima Bernardes, durante o programa Encontro e falou sobre a Glória Menezes, esposa de Tarcísio. “Fico pensando na Glória, era um casal tão unido, era um amor tão profundo entre os dois. Agora eu a vejo tão solitária. Gostaria tanto de abraçá-la, de confortá-la nesse momento difícil”. 

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Várias personalidades da política nacional também se manifestaram. Marcelo Freixo e Guilherme Boulos prestaram condolências pelo Twitter. manuela D’Ávila também lamentou através da mesma rede social: “Hoje, o Brasil perde mais uma pessoa incrível para a Covid-19. Tarcísio Meira foi um artista brilhante que levou alegria para a casa de todos nós. Que sua família e amigos encontrem conforto neste momento tão difícil. Vá em paz Tarcísio”. 


 

Afastada das redes sociais desde o fim de maio, quando virou alvo de haters por causa da morte do filho de Whindersson Nunes, seu ex-marido, Luísa Sonza surgiu em um clique na página de uma marca de roupas, que afirma ter recebido a foto por Whatsapp.

O clique logo viralizou e os internautas ficaram surpresos com o visual diferente que a cantora exibiu desde sua última aparição, quando posou com Vitão, seu atual namorado, no começo de junho. A cantora surgiu com o cabelo loiro platinado, além de uma maquiagem mais pesada, surpreendendo pela mudança na aparência.

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A imagem foi repostada por diversas páginas e os internautas passaram a compará-la com Khloé Kardashian, irmã de Kim Kardashian.

"Nossa, eu estava tentando descobrir qual Kardashian era", escreveu uma internauta.

"Achei que era a Khloé", disse outra.

"Igual a Khloé", disse mais um.

Além da semelhança com a socialite norte-americana, os internautas brasileiros também fizeram comentários sobre o semblante da cantora. Muitos usuários apontaram que Luísa não parece estar bem.

"Esse olhar dela, expressa tristeza", disse um. Luísa está afastada da web desde que enfrentou uma crise por ver comentários a criticando no Instagram.

"Depois desses últimos acontecimentos, dessas ameaças, ficou incontrolável. Eu venho há um ano postando um pouco sobre isso, dizendo parem, gente, eu não traí. Até que chegou um momento de desespero. Eu estava sentada no chão do meu quarto tendo uma crise, abri os Stories e pedi para as pessoas pararem: Parem! Eu não aguento mais. E aí, desse jeito, acabei me pronunciando mais diretamente pela primeira vez", disse ela para a revista Elle sobre o ocorrido, revelando ainda que buscou ajuda profissional para lidar com sua saúde mental.

A cantora Giulia Be, dona do single Menina Solta, foi uma das convidadas do programa Encontro com Fátima Bernardes. Logo após se apresentar na atração da Globo, a jovem foi às lágrimas por ter sido bastante criticada pelos internautas. Ela gravou vídeos falando do assunto nos stories do Instagram.

"Eu estava com muita ansiedade antes de entrar na Fátima. Ninguém achou que eu ia conseguir. A própria produtora falou para eu não entrar ao vivo. Eu consegui, eu entrei. Eu estou em uma semana de lançamento, o mundo está tão estranho. Não está fácil para ninguém", declarou a artista de 21 anos. 

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Assustada com a situação, Giulia se desculpou por não entregar uma performance como muitos de casa estavam aguardando. "Só queria pedir desculpas para os meus fãs e as pessoas que me acompanham, que queria ter visto outra Giulia ali. Para todo mundo que fala mal, só pensem duas vezes. Me deixem em paz, por favor. Eu não quero que pareça ingratidão por essa carreira e esse momento, eu estou feliz. Eu tenho tudo! Saúde, amigos, família, fãs incríveis, uma carreira incrível", afirmou.

E prosseguiu: "Às vezes eu me cobro por estar triste, mas não tem jeito... Às vezes a gente não consegue controlar, mas vai passar". No Twitter, o nome da cantora liderou os trending topics. Diversas pessoas fizeram postagens apoiando Giulia Be.

Veja o desabafo de Giulia Be:

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Uma pesquisa promovida pelo C6 Bank e o Datafolha mostrou, nesta quinta-feira (10), que 64% dos estudantes brasileiros estão mais ansiosos e 52% revelaram que estão mais tristes. O estudo mostrou, ainda, que 54% dos entrevistados ganharam mais peso e 45% se sentem sozinhos. Os dados, segundo o levantamento, são reflexos dos efeitos da pandemia da Covid-19.

Ainda conforme informações da pesquisa, 89% dos estudantes brasileiros passaram a utilizar mais celulares, computadores, TVs e videogames. Outro recorte aponta que sete em cada dez estudantes dos seis aos 18 anos estão mais dependentes dos pais.

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As entrevistas ocorreram no período de 10 a 14 de maio, com mais de 2 mil alunos a partir dos 16 anos, abordando todas as classes sociais e regiões brasileiras. Segundo o C6 Bank, a margem de erro é de dois pontos percentuais.

O levantamento aponta, ainda, que 46% das crianças e adolescentes brasileiros estão com dificuldade de aprendizagem. Desse índice, 53% são estudantes de seis a dez anos e 41% correspondem a jovens de 16 a 18 anos de idade. Ainda sobre esse público, duas em cada cinco pessoas revelam perda de concentração durante os estudos.

Escolas públicas e particulares

A pesquisa revelou que 36% dos estudantes de escolas públicas afirmam ter perdido o interesse pelos estudos, enquanto esse problema afetou 28% dos alunos de unidades privadas. “Nesse grupo, a aprovação do ensino a distância também é maior (43%) do que entre alunos de escolas públicas (37%). A maior disparidade, no entanto, está nos impactos da interrupção da merenda escolar. A alimentação de 11% dos alunos de escolas públicas piorou sem as refeições oferecidas pela escola, enquanto entre estudantes do ensino particular esse percentual é de 4%”, informou o C6 Bank.

O diretor de pesquisas do Datafolha, Alessandro Janoni, acredita que os índices entre escolas públicas e particulares expressam a mazela da desigualdade social intensificada pela pandemia. “As diferenças de resultados entre alunos de escolas públicas e privadas é preocupante e configura mais um sinal do aprofundamento das desigualdades gerado pela pandemia em um país já tão marcado por contrastes sociais e econômicos", comentou o diretor.

Quando a pesquisa foi realizada, 27% dos estudantes brasileiros, de seis a 18 anos, tinham voltado às aulas presenciais. O trabalho estatístico também ouviu alunos que não retornaram às atividades: 65% disseram que não voltaram porque a escola não reabriu. “Outros motivos também foram apontados como o agravamento da pandemia (13%), evitar o risco de contaminação por coronavírus (7%), criança ou adolescente está com problema de saúde (6%) ou porque a escola não garante a segurança de todos (6%)”, indicou o C6 Bank.

O Natal este ano será triste em muitos países, com milhões de pessoas obrigadas a cancelar seus planos ou a limitar as celebrações devido às restrições impostas para lutar contra a propagação da pandemia do novo coronavírus.

A Covid-19 provocou mais de 1,7 milhão de mortes em todo o planeta e os focos de contágios que continuam surgindo servem de recordação que, apesar da chegada das primeiras vacinas, a vida não voltará rapidamente à normalidade.

O papa Francisco celebrou sua tradicional missa de Natal com duas horas de antecedência, com apenas 200 convidados, rigorosamente separados e usando máscaras, na imensa Basílica de São Pedro.

"O tempo que temos não é para sentirmos pena de nós mesmos, mas para consolarmos as lágrimas dos que sofrem", declarou o papa argentino, segundo a homilia, dirigida a mais de 1,3 bilhão de fiéis em todo o mundo.

"Falamos muito, mas muitas vezes somos analfabetos quanto à bondade", acrescentou o papa. "Insaciáveis de possuir, nos lançamos em tantos presépios de vaidade, esquecendo o presépio de Belém", explicou.

Do lado de fora, a monumental Praça de São Pedro, iluminada com sua grande árvore de Natal, estava completamente deserta.

Procissão em Belém

Sob um céu nublado, poucas pessoas acompanharam a tradicional procissão de Natal nas ruas de Belém, que normalmente atrai milhares de peregrinos.

Pouco mais de 100 pessoas, de máscara e guarda-chuva, assistiram ao desfile, com bandeiras palestinas e do Vaticano.

"Apesar do medo e da frustração, superaremos esta prova porque Jesus nasceu em Belém", declarou o patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa.

"Este ano é diferente porque não viemos para rezar na igreja da Natividade, nem conseguimos reunir a família. Todos estão com medo", confessa Jani Shaheen, ao lado do marido e dos dois filhos, diante da basílica construída onde teria nascido Jesus Cristo.

Devido à pandemia, a noite de 24 de dezembro não terá missa com público, nem a presença de dirigentes palestinos, apenas uma cerimônia de Natal com a presença do clero e que será transmitida pela televisão.

"Ano triste"

A Austrália, que chegou a ser mencionada como exemplo de boa gestão da crise sanitária, enfrenta atualmente uma nova conda de casos no norte de Sydney, onde os habitantes só podem convidar a suas casas 10 adultos e apenas cinco se moram no epicentro do foco de contágios.

Jimmy Arslan, que possui dois cafés localizados nos bairros mais afetados, registrou queda de 75% no volume de negócios. E não poderá encontrar a família, que mora em Canberra e não pode viajar para o Natal.

"Deveríamos dar as boas-vindas em 2021 e chutar 2020 no traseiro", brinca o homem de 46 anos.

Nas Filipinas, alguns optaram por passar as festas sozinhos devido ao risco de contrair o vírus no transporte público.

"Vou pedir comida, assistir filmes antigos e fazer uma chamada de vídeo com a família", afirma Kim Patria, de 31 anos, que mora sozinha em Manila.

No nordeste da Síria, controlado pelos curdos, os residentes ignoraram a pandemia e participaram de uma cerimônia de iluminação de um pinheiro em um bairro cristão, sob o olhar atento das forças de segurança.

A maior parte da Europa enfrenta um de seus invernos mais tristes, com a aceleração da epidemia em vários países.

A Alemanha cancelou os famosos mercados de Natal e o papa Francisco decidiu antecipar em duas horas a Missa do Galo no Vaticano, para cumprir as restrições na Itália.

Natal em Dover

Milhares de caminhoneiros europeus se preparavam para passar a noite em condições difíceis, bloqueados ao redor do porto de Dover, no Reino Unido, que sai lentamente do isolamento provocado pela detecção em seu território de uma nova cepa do coronavírus.

"Todos nos dizem para esperar, mas não queremos esperar", lamentou na quarta-feira o motorista polonês Ezdrasz Szwajan no aeroporto de Manston, onde o governo britânico organizará testes de Covid-19 em milhares de caminhoneiros.

As festas de Ano Novo também sofrerão as consequências. A cidade do Rio de Janeiro vai fechar o acesso à praia de Copacabana durante a noite do último dia do ano para evitar aglomerações diante do novo aumento de infecções da Covid-19.

A tradicional festa com shows e fogos de artifício que atrai multidões à praia de Copacabana todos os anos já havia sido descartada devido ao vírus, que já deixou quase 25 mil mortos no estado do Rio.

Até o momento, Sydney ainda prevê receber 2021 com o famoso espetáculo de fogos de artifício. A primeira-ministra de Nova Gales do Sul, Gladys Berejiklian, prometeu um show de sete minutos.

A influenciadora, Anna Luiza Nicolau Evangelista, morreu neste sábado (5), no Hospital Meridional, em São Mateus, no Espírito Santo. A garota de 22 anos, teve complicações causadas após contrair um vírus. Ela já estava internada há 15 dias. Antes de contrair a doença, a blogueira já havia vencido cinco cânceres.

Anna sofreu de leucemia aos 10 anos de idade, aos 14, a doença voltou, mas a influenciadora conseguiu sair curada do tratamento.  Porém, apenas um ano depois, a blogueira teve uma lesão pelo excesso de corticóides nos tratamentos, chamada osteômeros, nos dois fêmures e precisou retornar o tratamento. Em 2017, um linfoma nasceu na sobrancelha, sumindo um ano depois. Ao todo foram 23 sessões de radioterapia, para conseguir se curar da doença.

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Anna utilizava as redes sociais para fortalecer outros jovens que também lutavam contra a doença. Seu instagram tinha mais de 100 mil seguidores que acompanhavam seus tratamentos e recuperação. 

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Whindersson Nunes está curtindo uns dias de férias em Tulum, no México. Porém, ao que parece, as lindas praias e paisagens do lugar não estão suprindo certas necessidades do humorista. Alguns tweets do rapaz mostraram que ele não está indo muito bem e os fãs ficaram preocupados. 

Na madrugada desta quarta (23), Whindersson postou em seu Twitter: “Eu tenho saudade de quando era feliz o dia inteiro”. O humorista já veio à público, certa vez, assumir que estava enfrentando uma depressão e o término de seu casamento com a cantora Luisa Sonza, seguido da repercussão do novo namoro dela com Vitão, fizeram acender um sinal de alerta entre os fãs de Nunes em relação à sua saúde mental. 

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Após a mensagem, os seguidores responderam com bastante carinho e demonstrações de apoio. “Cê tá precisando de alguém pra conversar, bicho? Seus últimos tweets revelam uma angústia acumulada aí dentro. Não deixa isso te dominar não. Põe pra fora”, “Tu é LUZ paizinho. Não deixa isso apagar em ti”; “Se quiser conversar com alguém ou desabafar estou aqui, sério de coração”; “Você é uma pessoa muito especial cara, o mundo não te merece”. 

População tem sofrido desgaste emocional diante dos resquícios da pandemia. Cenário é preocupante, mas pode ser combatido. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

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Dedos entrelaçados em sinal de oração, mãos aos céus como forma de agradecimento, rezas ante o mar e uma sintonia de esperança celebravam o novo ano. Sob fogos brilhosos e respingos de champanhe, 2020 chegou. Fotografei abraços e presenciei dizeres otimistas para o ciclo que começara. Tomado pela atmosfera comemorativa do réveillon, não imaginaria naquele momento eufórico que, meses depois, vivenciaríamos o início da mais crítica e enlutada crise de saúde dos últimos tempos. Os mesmos amigos e familiares que, com os pés na areia da praia festejavam o ano novo, hoje pedem às suas crenças que o período corrente leve consigo doença, medo, luto, mazelas, intolerâncias, desemprego, corrupção, entre outros males. O novo coronavírus, literalmente, atormentou o ano novo.

Não tão longe do litoral, *José Silva, 35 anos, reflete em seu apartamento - uma espécie de refúgio ante o cenário desolador da pandemia de Covid-19 -. Em isolamento social – séria e correta medida indicada pelos órgãos competentes de saúde para combater a proliferação da doença -, da janela do edifício ele observa as ruas situadas no coração do Recife, uma das capitais fortemente atingidas pelo novo coronavírus. Praticamente não há pessoas no local, antes de intensa movimentação. *José observa. Analisa. Questiona sua própria mente: “por que isso está acontecendo”?. Também rememora momentos em família, ao sentir falta dos abraços, do calor carinhoso característico da mãe idosa. São meses sem vê-la, sem tocá-la; tudo por amor a ela.

*José observa. Reflete. Agitada, sua mente não cansa, não para. Ao direcionar novamente sua atenção às ruas vazias, paralelamente sente um vazio de incertezas quanto ao seu futuro e das pessoas que ama.

*José viu, repentinamente, sua rotina tomar uma proporção antes inimaginável. Obrigatoriamente e de maneira consciente, afastou-se dos amigos, da família e do local de trabalho. Na mídia, alimentou-se de informações a respeito da problemática e complexa Covid-19, cujo rastro de estrago e morte marca países do mundo todo. *José acompanha, diariamente, as contagens de casos e óbitos, além dos efeitos oriundos da pandemia, que reverberam, além da saúde, na educação e economia de um país desigual, socialmente falando, desde os primórdios. Para *José, a pandemia potencializou os diversos problemas sociais e políticos que acometem o povo brasileiro, assim como instaurou desconfortos mentais.

A mente de *José não pausa. Todos os dias, durante a pandemia, é tomada por uma tempestade de pensamentos; seu corpo já sente os efeitos da ansiedade. Coração e mente acelerados, enquanto as noites não mais servem como um momento reparador, uma vez que, em várias ocasiões, o sono não vem. “Fiquei bastante tenso quando a quarentena, no início de março, começou a se estender. Diversos sentimentos de impotência brotaram em mim. Estou há quase seis meses sem ver minha família, e todo o meu pensamento vai para cada um que está distante de mim. Apesar de conversas por chamadas de vídeo, o contato físico faz falta. Não aguento mais ficar isolado por tanto tempo em casa, longe de quem eu gosto. Minha saúde mental está indo embora”, desabafa.

O medo cerca *José. Ele teme, por exemplo, perder pessoas queridas. Teme, ainda, que a crise econômica acarrete demissões. “É no silêncio da noite que a minha mente projeta um turbilhão de dúvidas e medos. Não sei como mudar a rota do meu pensamento para que eu sinta um certo alívio, de fato, de que as coisas irão realmente melhorar. Meus questionamentos estão sempre relacionados ao meu lado financeiro. Acho que, desde o início da pandemia, sinto instabilidade profissional. Não vejo com entusiasmo a capacidade que eu tenho de desenvolver o meu trabalho”, descreve ele.

É perceptível como *José trava uma luta emocional na qual é difícil desenvolver soluções imediatas. Talvez isso se dê pelo fato de que ele, sozinho, não detém o controle do atual cenário, pois, em suas mãos, não estão as soluções que possam, de uma vez por todas, colocar fim aos resquícios da pandemia em seu cotidiano. Nesse contexto, *José não consegue cessar os próprios medos e nem planejar o próprio futuro.

“Só espero que esse caminho de incertezas e de negatividade que estamos trilhando não deixe marcas profundas na alma, ao ponto de lembrarmos futuramente de tudo isso que estamos presenciando com tristeza e amargor. Me preocupa bastante ver que estou desacreditando a cada dia que se passa do meu potencial, da minha entrega, da garra que um dia eu lutei intensamente para conquistar o meu lugar. Ainda não passou pela minha cabeça buscar apoio psicológico para me dar um norte em meio a esse caos instalado pela pandemia. Não faço a mínima ideia se tenho a capacidade de sair desse mar de consternação sozinho”, diz *José.

*José Silva – nome fictício. Personagem preferiu preservar a sua identidade.

Doença pandêmica, mente em perigo

Mais de 23 milhões de casos confirmados no mundo. Quase 816 mil mortes. Assustadores, os dados globais da pandemia do novo coronavírus, informados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu mais recente balanço, expõem quão crítico é o cenário. Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto da Covid-19 constitui uma Emergência de Saúde Pública Internacional, patamar de alerta mais alto da instituição. Localmente, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa baseado nas informações das secretarias estaduais de Saúde, o Brasil registra mais de 3,7 milhões de pessoas diagnosticadas com o vírus e o número de óbitos passa de 117 mil. Além desse panorama, existem comprovações de que a pandemia tem bombardeado suas consequências na condição mental da população.

Em comunicados oficiais, a OMS já alerta que a pandemia da Covid-19 tem, de fato, forte impacto na saúde mental das pessoas. A entidade demonstra preocupação e orienta os países a tomarem medidas necessárias para ajudar suas nações.

À frente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom explica que os efeitos econômicos e sociais da pandemia, da forma acelerada como se expandem e causam estragos, tendem a aumentar casos prejudiciais à saúde mental dos indivíduos. Depressão, ansiedade e transtornos mentais por uso de substâncias são alguns dos problemas citados pelo diretor-geral da OMS.

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, pede atenção às questões relacionadas à saúde mental. Foto: OMS

Antes mesmo da pandemia, os números de transtornos mentais despertavam preocupação na Organização Mundial da Saúde. De acordo com a entidade, foram registrados 322 milhões de casos de transtorno depressivo em todo o mundo, bem como 264 milhões de pessoas eram acometidas por transtorno de ansiedade. Ainda sobre o período pré-pandemia, o estudo aponta que, no Brasil, 9,3% da população sofria distúrbios relacionados à ansiedade, correspondendo a um quantitativo de 18.657.943 cidadãos.

Se antes da Covid-19 a sociedade já ansiava aportes em relação à saúde mental, agora, mais do que nunca, segundos os especialistas, há a necessidade de cuidarmos com mais afinco de nossas mentes. Os resquícios pandêmicos são, metaforicamente, como uma imensa bola de neve que vai agregando problemas e mazelas, ao ponto de atingir a mente da população. De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcelos, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mortes, luto, desemprego, crise econômica, risco de contágio, incertezas sobre a vida são alguns dos fatos pandêmicos que impulsionam dores emocionais. “Todos esses problemas juntos podem criar um quadro de ansiedade e depressão muito grande. Algumas dessas pessoas, tanto pela ansiedade quanto pela depressão, podem aumentar o consumo de substâncias lícitas e ilícitas. A gente tem também, além da depressão, ansiedade e do transtorno do estresse pós-traumático, o aumento do consumo de drogas, tanto álcool, quanto maconha e cocaína. Muitas crises já vinham acontecendo e já comprometiam a qualidade de vida da população”, explica a médica psiquiatra.

Dados e indícios preocupam

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), instituição vinculada à OMS, estão sendo levantados dados globais que ratificam os indícios de aumentos de ansiedade, depressão, entre outros males psíquicos, em virtude do novo coronavírus, bem como instituições passaram a traçar estratégias preventivas. Em maio deste ano, por exemplo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lançou um relatório sobre políticas públicas para a saúde mental com uma série de orientações aos governantes. “Luto pela perda de entes queridos. Choque com a perda de empregos. Isolamento e restrições à circulação. Dinâmicas familiares difíceis. Incerteza e medo do futuro. Problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade são algumas das maiores causas de miséria no nosso mundo”, alertou Guterres. “À medida que nos recuperamos da pandemia, precisamos transferir mais serviços de saúde mental para a comunidade e garantir que a saúde mental seja incluída na cobertura universal de saúde. Apelo aos governos, à sociedade civil, às autoridades de saúde e a outros que se reúnam com urgência para abordar a dimensão da saúde mental desta pandemia”, acrescentou o secretário-geral da ONU, conforme informações do site da Organização.

O relatório das Nações Unidas destaca, inicialmente, que embora a crise da Covid-19 seja, a priori, de saúde física, ela propagará sementes de uma grande crise de saúde mental, caso ações preventivas não sejam realizadas. O documento aponta que boa saúde mental é “fundamental” para o funcionamento da sociedade, devendo também ser pauta de cada país durante o enfrentamento ao novo coronavírus. Conforme o relatório, pesquisas realizadas em 2020 revelam alta prevalência de sofrimento na população durante a pandemia de Covid-19, como na China, em que 35% da população está angustiada. Nos Estados Unidos esse índice de angústia sobe para 45%, enquanto no Irã o percentual é ainda mais alarmante: 60%.

Ao analisarmos o cenário brasileiro, fica ainda mais evidente a necessidade de o País intensificar, prontamente, um combate dedicado aos problemas oriundos da pandemia que reverberam na saúde mental. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos revelou que quatro em cada dez brasileiros sofrem sintomas de ansiedade como consequência da pandemia. Segundo o estudo, as mulheres são mais afetadas, representando 49% dos casos, enquanto o percentual dos homens é de 33%. O levantamento aponta que o índice de 41% coloca o Brasil na primeira posição entre os países mais ansiosos em decorrência do novo coronavírus. “A gente diz que o Brasil é um país feliz e não é. Na verdade, é um país que tem muita desigualdade, muita gente vivendo em condições grandes de pobreza, o que cria um quadro de ansiedade e depressão muito grande”, acrescenta a psiquiatra Fátima Vasconcelos.

 

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

Aliado fundamental do bem-estar, o sono, antes reparador, perdeu efeito para muitas pessoas. A pesquisa do Instituto Ipsos indica que, de dia, a preocupação é com a utilização segura de máscaras e com a limpeza correta das mãos e objetos, enquanto ao anoitecer, a luta de muitos brasileiros é contra a insônia. Segundo o levantamento, 26% da população nacional relatou dificuldades para dormir na pandemia; as mulheres são as mais afetadas, apontou a pesquisa. De novo, o Brasil aparece nas primeiras posições, quando analisamos os efeitos da falta de sono entre os países: no topo da tabela está o México, com 38% da população afetada, e em segundo lugar está o Brasil, com o percentual de 26%; em terceiro estão a África do Sul e a Espanha, ambos com 25% dos seus povos atingidos pela insônia. Em contraponto, as nações menos afetas foram Japão (6%), Coreia do Sul (10%) e Austrália (12%).

Ainda de acordo com o estudo do Instituto Ipsos, um em cada dez entrevistados no Brasil disse estar enfrentando sintomas depressivos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Fátima Vasconcelos reitera que existe uma relação muito clara com a disseminação dos sintomas e as mazelas pandêmicas. “Na pandemia, nós já temos mais de 100 mil pessoas mortas no Brasil. Claro que tivemos índices de recuperação, mas como ficaram os familiares das pessoas que já faleceram? E mais: há o risco de mais pessoas falecerem. Algumas se internaram para o tratamento da Covid-19 e se recuperaram, mas se recuperaram com um grau de sofrimento muito grande. Existem mães que perderam filhos e mães que tiveram filhos e esperaram um mês para vê-los. Depois da pandemia, todo mundo de alguma forma foi atingido”, comenta a psiquiatra.

Já no recorte das nações em que a população menos sente os sintomas de depressão, a pesquisa mostra que chineses (4%), japoneses e franceses (5%), e por fim os alemães (8%), são os povos menos deprimidos. Ainda segundo o Instituto Ipsos, a pesquisa aponta que, no Brasil, apenas 22% dos entrevistados disseram que não foram impactados por nenhum dos problemas identificados no estudo.

O próprio Ministério da Saúde brasileiro oficializou, publicamente, sua preocupação com a piora dos índices de problemas emocionais atribuídos aos efeitos da pandemia. A pasta realizou a “Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico COVID-19 (Vigitel)” e apresentou, no fim de maio, seus resultados, entre eles os oriundos da saúde mental da população. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 2 mil pessoas foram ouvidas neste estudo. Confira, a seguir, os problemas relacionados à saúde mental que incomodaram os cidadãos entrevistados no levantamento e seus respectivos percentuais das pessoas afetadas:

Após os resultados oriundos da Vigitel, o diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância em Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, reforçou a necessidade de o Brasil oferecer atenção especial às questões de ordem mental, segundo ele, em alguns momentos colocadas de “lado”. Para o diretor, “eventos relacionados à saúde mental muitas vezes são colocados de lado numa situação como a que estamos vivendo”. Ele complementa: “Mas é fundamental serem monitorados e acompanhados”.

Cresce o número de atendimentos psiquiátricos durante a pandemia

Pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria, a ABP, realizada em maio deste ano, identificou que, entre seus médicos associados, 47,9% dos entrevistados notaram aumento em seus atendimentos após o início da propagação do novo coronavírus. Levando em consideração esse grupo, o levantamento revelou um crescimento de até 25% nos atendimentos, quando comparados ao período anterior à pandemia para cerca de um terço dos participantes.

Um dos objetivos do trabalho estatístico da ABP foi identificar os atendimentos a novos pacientes. De acordo com a Associação, quase 68% dos psiquiatras entrevistados receberam pacientes novos após o começo da pandemia; são pessoas que nunca apresentaram sintomas psiquiátricos anteriormente. A apuração do estudo informa também que 69,3% dos médicos disseram que receberam pessoas que já haviam tido alta médica, porém, sofreram o reaparecimento de seus sintomas mentais; esses pacientes voltaram aos consultórios ou realizaram novos contatos para atendimentos. Ao todo, médicos de 23 estados, além do Distrito Federal, participaram da avaliação.

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

O levantamento da ABP, no que diz respeito aos médicos que não notaram aumento nos atendimentos, identificou um cenário contrário ao mencionado anteriormente: queda na quantidade de demandas. Esse decréscimo, no entanto, também pode ser entendido como uma consequência da proliferação do novo coronavírus, uma vez que entre os principais motivos revelados sobre a queda, está a interrupção do tratamento porque o paciente sente medo de sair de casa e ser contaminado pela Covid-19. Diminuíram, claramente, atendimentos às pessoas do grupo de risco, tais como idosos e brasileiros afetados por comorbidades, bem como foram empecilhos para os acolhimentos presenciais as restrições de circulação determinadas pelo poder público em algumas cidades.

"Essa pesquisa identificou dois cenários preocupantes como consequência de uma única possibilidade. O aumento dos atendimentos foi motivado, em sua maioria, pelo agravamento dos transtornos ou desenvolvimento de novas patologias psiquiátricas devido ao medo da Covid-19. Entretanto, a redução dos atendimentos àqueles que assim identificaram também se deve ao medo da contaminação e às estratégias para evitar o contágio", avalia o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, conforme informações da assessoria de imprensa da entidade.

De acordo com os especialistas, a quebra da rotina também é um fator que pode potenciar desgastes emocionais na sociedade. Adaptar-se à uma nova realidade de trabalho, como nos casos do home office e das restrições impostas pelo isolamento social, é difícil e cria desafios. “Quando saímos de nossa homeostase, ou seja, o nosso modo usual de funcionamento, cognitivo, comportamental e emocional, temos que usar nossos mais nobres recursos para adaptação. É nesse sentido que muitas pessoas, ao não conseguirem fazer esse ajuste, adoecem e necessitam de atendimento especializado. É de se supor que, num momento de grande mudança e necessidade de adaptação, sintomas de ansiedade, depressão e relacionados a trauma aumentem e precisem de uma abordagem imediata", acrescenta o presidente da ABP ao site da instituição.

Sentimentos revelados

Um levantamento do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, entidade vinculada ao Centro Universitário Maurício de Nassau, reuniu informações acerca dos efeitos do novo coronavírus na rotina de moradores do Recife. Um dos pontos abordados na capital pernambucana analisou a relação da Covid-19 com a saúde mental dos populares.

Segundo o Instituto, a pesquisa teve como objetivo “investigar a opinião da população residente na área de abrangência em relação à pandemia do novo coronavírus”. O universo do estudo corresponde a eleitores com 18 anos ou mais de idade, cujo grau de instrução vai do ensino fundamental incompleto ao nível superior concluído, entre outras características. No total, foram realizadas 628 entrevistas, no período de 11 a 14 de junho de 2020

Ao questionar os entrevistados sobre questões ligadas à saúde mental em meio à pandemia, a pesquisa reuniu vários sentimentos. As revelações expressaram incertezas quanto ao futuro, medos, angústias, entre outros declínios emocionais demonstrados pelos cidadãos. Acompanhe informações apuradas pela pesquisa no vídeo a seguir. Também registramos o comentário da psiquiatra Catarina Moraes, médica associada à Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, acerca dos efeitos pandêmicos nas questões psicológicas.

Indicativos ou transtornos em vítimas da Covid-19

Pesquisadores e profissionais da saúde já admitem que pessoas acometidas pelo novo coronavírus podem desenvolver transtornos mentais e até problemas neurológicos. Um estudo da Universidade Oxford, da Inglaterra, publicado no dia 16 de agosto, revelou que uma em cada 16 vítimas da Covid-19 desenvolveu alguma espécie de transtorno mental no período de três meses após a doença. Segundo a pesquisa, o risco é duas vezes maior para as pessoas que necessitaram de hospitalização por causa dos efeitos do vírus.

A pesquisa da Universidade de Oxford avaliou mais de 60 mil pessoas que apresentaram recuperação após o diagnóstico do vírus pandêmico, bem como o estudo científico identificou que indivíduos que já apresentam doença mental têm um risco maior de serem acometidos pela Covid-19. Nas avalições, foram realizadas comparações com o surgimento de transtornos durante o tratamento de outras enfermidades, entre elas infecções respiratórias e de pele, pedra na vesícula e nos rins, fraturas consideradas graves e influenza.

O estudo da universidade inglesa somou seus resultados aos de outras pesquisas que também provaram relação entre transtornos mentais e o novo coronavírus. Cientistas ainda apontam que, mesmo sendo uma doença nova, cujo vírus acomete pessoas de faixas etárias diferentes, a Covid-19 pode castigar o cérebro e o sistema vascular, além do coração, pulmões, intestino e os rins.

Em outra conclusão científica, pesquisadores da University College London (UCL), de Londres, publicaram um artigo, em julho deste ano, em que mostra uma análise de 43 pessoas vitimadas pelo novo coronavírus. Segundo o artigo, os pacientes apresentaram complicações neurológicas, tais como psicose, delírio, tremores e até danos ao cérebro, ocasionando derrame.

A comunidade científica brasileira também tem desenvolvido importantes estudos acerca da relação da pandemia com a sanidade mental da população. A Universidade de Fortaleza (Unifor), por exemplo, realizou uma pesquisa que tem como principal questionamento “Quais os impactos psicossociais que a pandemia do novo coronavírus tem causado na saúde mental do brasileiro?”. O trabalho foi financiado pela Fundação Edson Queiroz, por meio da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (DPDI).

De acordo com a Unifor, a pesquisa revelou que os piores índices de saúde mental aconteceram com pessoas que já foram diagnosticadas com a Covid-19, além das que integram o grupo de risco, residem com pessoas desse grupo ou concordam com o isolamento social indicado pelos órgãos competentes. O mesmo estudo mostrou também que apresentaram maiores indícios de adoecimento as pessoas em maior nível de adesão aos protocolos de combate à pandemia.

Em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora do projeto de pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, Cynthia Melo, explanou os resultados dos principais pontos do estudo. Uma das constatações indica que quem teve Covid-19 apresentou maior nível de ansiedade. Para a docente, isso se explica pelo fato de que as vítimas vivenciaram um risco alto de óbito. “É uma possibilidade de morte muito maior do que quem não teve a doença. Essa pessoa sabe da gravidade da doença mais de perto do que os outros”, esclarece.

Cynthia Melo é coordenadora do estudo desenvolvido pela Universidade de Fortaleza. Foto: Cortesia

O estudo da Unifor indicou, ainda, que os entrevistados que moram com pessoas do grupo de risco apresentaram mais indícios de adoecimento mental. De acordo com a coordenadora da pesquisa, uma das hipóteses para esse resultado é que os indivíduos temem sair de casa com receio de se contaminar com o novo coronavírus e, se saírem, colocarão em risco todas as pessoas com as quais moram. Há, portanto, um clima de tensão.

Em outro recorte do levantamento, foi identificado que quem concorda com o isolamento social apresenta indicadores de pior saúde mental. No entanto, a professora Cynthia alerta veemente que o isolamento é uma estratégia fundamental no combate à Covid-19, devendo, portanto, ser respeitado e praticado conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde.

“O isolamento e o distanciamento social, apesar de necessários - devendo ser respeitados para a contenção da doença -, podem causar estresse. Por esses e outros fatos, a pandemia nos convoca a cuidados com a saúde mental. Além de ser um problema de crise epidemiológica com alto nível de contágio e de mortalidade, ela também é uma crise do ponto de vista psicológico. Tudo que envolve a doença, sensação de vulnerabilidade, risco de morte, incertezas sobre o futuro e isolamento, é adoecedor”, explica a professora.

A docente continua sua fala orientando a população sobre ações que contribuem para o bem-estar social durante o isolamento: “Para a população, existe a necessidade de se cuidar, de se prevenir, organizando os espaços da casa; tem o lugar certo para cada coisa, organizando a rotina, melhorando a ambientação do lar e fazendo uso de espaços verdes. Tenha hábitos que fazem bem, tais como aula de exercício físico ou assistindo uma live de um cantor que você gosta, ou conversando com os amigos em vídeo conferência. Pode estudar, ver um filme. Conseguimos manter essas práticas de forma adaptada. Além disso, algumas cidades abriram os espaços públicos; existem espaços verdes que são muito bons para serem usados, com liberdade e sem colocar os outros em risco, respeitando o distanciamento”.

No total, 2.705 brasileiros participaram da pesquisa da Universidade de Fortaleza. Além de Cynthia Melo, outros professores – doutores - trabalharam no levantamento e na análise das informações reveladas pelos entrevistados, bem como contribuíram para o projeto alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor. A coordenadora ressalta que o estudo apresenta indicadores de depressão, ansiedade e estresse, mas não crava que, de fato, as pessoas ouvidas sofrem literalmente esses transtornos mentais, porque, para a conclusão dos diagnósticos, devem ser feitas avaliações contínuas com instrumentos psicossociais.

A história e o anseio humano pelo bem-estar mental

Somos movidos a realizações. Buscamos - às vezes desenfreadamente - conquistas pessoais e profissionais, assim como bem-estar físico e mental. Nesse processo, porém, as pessoas podem encarar de diferentes formas êxitos, frustrações e problemas. Historicamente, a humanidade viveu desafios, transformações sociais, conflitos e fatos – acontecimentos históricos com impactos na condição mental dos indivíduos -, ao mesmo tempo em que caminha ao encontro da paz física e emocional.

A Organização Mundial da Saúde define saúde mental como um “estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, pode funcionar de forma produtiva e frutífera e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”.

“O ser humano sempre está, de certa forma, em busca de uma felicidade, de bem-estar, de ter satisfação na vida. Isso acontece desde a primeira infância, depois na pré-adolescência, adolescência, vida adulta e entre os idosos. O ser humano tem algo dentro de si que vai buscando sentindo na vida, seja na escolha profissional ou mesmo na criança, por exemplo, quando ela faz a escolha de jogos que dão prazer. É a relação com a vida que tenha significado. Quando isso não acontece, os problemas aparecem. Problemas emocionais, sofrimentos, isso faz parte da vida humana, só que quando esses sofrimentos acabam por incapacitar as pessoas de trabalhar, estudar, de conviver em grupo, acabam se tornando transtornos, muitos deles de base genética, com componente hereditário muito forte”, comenta o professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Instituto de Psicologia da instituição de ensino, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, em entrevista ao LeiaJá.

Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, coordenador do Instituto de Psicologia da USP, alerta que problemas emocionais fazem parte da vida humana. Porém, quando começam a incapacitar as pessoas, eles podem virar transtornos mentais. Foto: Cortesia

Na corrida pelo bem-estar mental e físico, há pessoas que sentem a necessidade de expor à sociedade essa condição de realização humana. No entanto, isso não quer dizer que, verdadeiramente, elas vivenciam esse bem-estar. “Vários sociólogos falam que a gente vive em uma sociedade acelerada, cansada, ou a sociedade dos espetáculos. A gente tem hoje um ritmo acelerado de cotidiano. Você é acordado por um despertador, pula da cama, se arruma e vai trabalhar. E depois volta, corre, vem e vai. Você não tem tempo para o outro, não tem tempo para pensar no seu dia, no seu cotidiano, na sua vida. Ao mesmo tempo, a gente vive na sociedade dos espetáculos. É essa sociedade em que eu posso até não viver bem, mas eu tenho que mostrar, aparecer que estou bem. No Orkut, Facebook e Instagram. Às vezes, a gente está em um restaurante, e você vê um casal, amigos, cada um com o seu celular e não vivem o momento. Às vezes nem estou curtindo o restaurante, mas já estou ali fazendo uma foto para mostrar que estou no restaurante, mesmo que fisicamente apenas. É a sociedade que mostra que está tudo perfeito e as relações são muito descartáveis. Como dizem os jovens nas relações amorosas, a fila não anda, ela voa. As coisas vão girando. E no meio da Covid-19, essa sociedade se viu obrigada a parar. Pela primeira vez, nós fomos obrigados a parar”, reflete Cynthia Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza.

O filósofo coreano Byung-chul Han defende a ideia de que a sociedade contemporânea é marcada por um excesso de positividade. Para o estudioso, essa característica pode resultar em patologias psicológicas. “O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão de desempenho. O que torna doente, na realidade, não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho”, defende o filósofo.

O estudioso continua: “Mas em relação à elevação da produtividade não há qualquer ruptura: há apenas continuidade. Alain Ehrenberg localiza a depressão na passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho: 'A carreira da depressão começa no instante em que o modelo disciplinar de controle comportamental, que, autoritária e proibitivamente, estabeleceu seu papel às classes sociais e aos dois gêneros, foi abolido em favor de uma norma que incita cada um à iniciativa pessoal: em que cada um se comprometa a tornar-se ele mesmo. O depressivo não está cheio, no limite, mas está esgotado pelo esforço de ter de ser ele mesmo”. No áudio a seguir, o professor de filosofia e sociologia João Pedro Holanda traz mais detalhes acerca das ideias de Byung-chul Han. Clique na barra cinza:

Nos registros históricos, existem descrições de como o homem debatia questões sobre saúde mental. “Essa discussão sobre saúde mental é anterior à Segunda Guerra Mundial, porque já no final do século 19, começam a chegar discussões sobre isso. Freud já discutia a questão do homem moderno e as questões relativas ao mundo moderno, que têm muito do impacto da Revolução Industrial. Com os efeitos da Primeira Guerra Mundial, aconteceram os famosos traumas de guerra, resultando no aumento dessas discussões. O próprio Freud tratou alguns soldados. Alguns livros são bem emblemáticos sobre isso, como ‘Nada de novo no front’, escrito por Erich Maria Remarque, ex-soldado que vivenciou os conflitos. É um romance de um autor que lutou na guerra, em que ele fala como era o cotidiano no front e como isso impactava os soldados”, explica a professora de história Thais Almeida. “Essas discussões, porém, ganham os espaços públicos a partir da década de 50, após a Segunda Guerra Mundial. Foucault, por exemplo, publica o livro ‘História da Loucura’ em 1961”, complementa a docente.

Para o médico psiquiatra e historiador da Associação Brasileira de Psiquiatria, Walmor Piccinini, cuja atuação na medicina soma 54 anos de experiência, a Segunda Guerra Mundial marcou de maneira emblemática a psiquiatria. “No meu ponto de vista, embora a gente possa traçar vários aspectos filosóficos, a Segunda Guerra Mundial mudou a maneira de se olhar os problemas emocionais e mentais, porque os psiquiatras aprenderam a lidar com os soldados em estado de choque, em estado de crise, e a lidar de uma forma de recuperá-los para eles voltarem ao combate. Durante a guerra, não se fazia mais internamentos em hospitais, o atendimento era feito na linha de frente, e isso mudou a maneira de se ver o doente, porque, até então, o doente mental era recolhido para o asilo e lá ele era isolado. Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiram medicamentos”, explica Piccinini.

De acordo com o historiador da ABP, a partir dos anos 90 a depressão passou a ter um crescimento expressivo. “Também a partir dos anos 90, existe um lado bem concreto disso tudo, que é o aumento das licenças médicas para o trabalho por depressão. Nós tivemos um esvaziamento dos hospitais psiquiátricos, a maioria das pessoas foi tratada nas comunidades com antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos. Isso aconteceu em todo o mundo”, recorda o médico psiquiatra.

Outras pandemias, ao longo da história, também desencadearam efeitos de ordem mental na sociedade. Há mais de dez anos, a proliferação da H1NI deixou sequelas físicas e, consequentemente, emocionais nos acometidos pela doença, segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, metade das pessoas diagnosticadas com o vírus teve ansiedade, 25% apresentou depressão e em 40% dos pacientes foi identificado risco de transtorno pós-traumático. Por outro lado, ao analisarem o período após a epidemia de SARS na Ásia, ocorrida em 2003, os estudiosos documentaram um sentimento positivo: 60% dos pacientes passaram a valorizar mais a família, em uma comprovação de que, o isolamento social também pode aproximar as pessoas e fomentar uma atmosfera de solidariedade e união.

Acolhimentos e estratégias em prol da sanidade mental em meio à Covid-19

Sob o risco de uma crise global de ordem mental, instituições públicas e privadas tentam intensificar acolhimentos psicológicos e psiquiátricos durante a pandemia do novo coronavírus. Muitos profissionais realizam atendimentos de forma remota, uma vez que os serviços estão autorizados nesse formato durante a pandemia, em virtude da necessidade de manter o distanciamento social. A Lei 13.989/2020 regulamenta e autoriza a telemedicina nesse período, assim como os respectivos conselhos regionais de psicologia, orientados pelo Conselho Federal da área, permitiram os acolhimentos por meio de comunicação a distância.

Um dos serviços de acolhimentos remotos é desenvolvido em Campina Grande, na Paraíba, por meio do trabalho da Clínica Escola da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau. Antes mesmo da pandemia, a instituição de ensino oferecia atendimentos psicológicos presenciais de forma gratuita à comunidade acadêmica e ao público externo, porém, após o agravamento da Covid-19 no Brasil e da necessidade de valorizar o distanciamento social, o projeto passou a disponibilizar escutas de forma on-line, mediante a marcação dos interessados por meio da internet. O serviço se manteve sem custo para os usuários.

A psicóloga do serviço de acolhimento da UNINASSAU, Carla Correia, explica que os atendimentos anteriores à pandemia continuam sendo feitos, mas de maneira remota, somados às novas demandas advindas do período pandêmico. “A gente já oferecida os serviços presencialmente. Com a pandemia e diante da preocupação da universidade com a saúde mental dos alunos, colaboradores e da comunidade, sentimos a necessidade de estender o serviço e dar continuidade às escutas de forma on-line. Como o Conselho Federal de Psicologia permite, os psicólogos puderam atender de forma remota. Para isso, é preciso fazer um cadastro no e-Psi, um site do Conselho. Pessoas da Paraíba, Bahia, Pernambuco, Alagoas, entre outros estados, estão sendo atendidas no nosso projeto. O atendimento é realizado por meio de vídeo chamadas”, explana a psicóloga. De abril deste ano até agosto, mais de 160 pessoas foram acolhidas pela iniciativa, apresentando, principalmente, sintomas relacionados à depressão e ansiedade. “A própria pandemia desencadeou muitos sintomas obsessivos compulsivos, como na questão de aferir a temperatura repetidamente, por várias vezes ao dia. Na ansiedade, por exemplo, uma das características é a falta de ar e, em alguns momentos, nessa falta de ar, as pessoas se confundiam com alguns sintomas da Covid-19. Muitas vezes não tinham relação com o vírus e sim era algo relacionado à ansiedade. Notamos intensificação do medo, da insegurança. Tivemos pacientes de todas as faixas etárias, a partir de 18 anos; foi algo bem misto”, acrescenta Carla Correia.

Na visão da psicóloga, o atendimento remoto, diante do cenário difícil imposto pelo novo coronavírus, surge como uma alternativa importante para os acolhimentos dos pacientes. “Foi algo realmente novo para alguns profissionais, visto que o atendimento on-line só se dava apenas em alguma vezes, quando, por exemplo, um paciente viajava. No atendimento remoto, o lugar do paciente e do psicólogo não se altera, visto que é a fala - o que está sendo dito - que é relevante. Diante desse momento de pandemia, o atendimento on-line veio realmente para somar”, opina.

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o Brasil tem registrados 375 mil psicólogos. Diante da proliferação do novo coronavírus e consequentemente da necessidade de realização dos atendimentos psicológicos de maneira remota, o site e-Psi – plataforma de cadastro dos profissionais que almejam atender remotamente – registrou um crescimento superior a 800%.

No âmbito do poder público, a Prefeitura de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, por exemplo, é uma das gestões municipais que oferecem acolhimento remoto a pessoas com sofrimento mental durante a pandemia, além de encaminhamentos para aportes presenciais quando necessário. No caso de Olinda, a cidade é integrada à Rede de Atenção Psicossocial preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cujo funcionamento ocorria antes mesmo da Covid-19. A partir da pandemia, em março deste ano, foram necessários ajustes na oferta dos serviços, porque com o isolamento social, as escutas precisaram ser feitas em formato remoto, bem como os profissionais da rede municipal previram que com as mudanças bruscas ocasionadas pela propagação do vírus, havia o risco de aumento nos números de casos relacionados à saúde mental entre a população.

Segundo a coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Olinda, Cíntia Mota, os teleatendimentos foram oferecidos, desde marco, a pessoas que, antes do contexto pandêmico, não apresentavam sintomas de transtornos emocionais. “Nós deixamos disponíveis dez números telefônicos, dos quais dois foram específicos para profissionais de saúde, porque a gente também percebeu um aumento desses profissionais em sofrimento mental, alguns na linha de frente do combate ao coronavírus”, explica a coordenadora. 

Também houve aumento de demanda nos atendimentos presenciais nos três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do município. “O acolhimento individual presencial começou a aumentar muito. Em um Caps que a gente tinha por dia de cinco a dez acolhimentos de porta aberta, chegamos a ter 25 pessoas e um único dia, para que a equipe pudesse dar conta de fazer o primeiro atendimento, acolhimento e orientação. Na população em geral, sintomas de ansiedade estão muito presentes. Sintomas ligados a depressão também aumentaram, assim como as ideações suicidas, que são outras questões ligadas a sofrimento mental”, detalha Cíntia.

De acordo com a Prefeitura de Olinda, cerca de 2 mil intervenções são realizadas por mês em cada Caps da cidade. No que diz respeito especificamente aos teleatendimentos como suporte psicológico durante a pandemia de Covid-19, mais de 600 acolhimentos foram registrados até o momento. No áudio a seguir, em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora de saúde mental detalha como são feitas as escutas telefônicas:

Cíntia ainda alerta que os usuários do SUS não devem ter preconceito contra os atendimentos psicossociais, uma vez que, principalmente no atual cenário, qualquer pessoa corre o risco de sofrer desgaste emocional. “A gente previu que isso aconteceria e criamos estratégias para atender a essa população mesmo de forma isolada. Costumo dizer que produzimos em 2020 mais tecnologias de cuidado do que anos atrás. Em saúde mental, ainda existe muito preconceito no acesso a serviços especializados, porque a gente tem o adoecimento mental distante das nossas vidas, como se a gente não estivesse propenso a isso. E a pandemia aproximou muito a população geral ao sofrimento mental. Ou seja, eu posso adoecer porque não estou preparado para todas as dificuldades da vida. Por mais que tenhamos um repertório de estratégias para lidar com as dificuldades, a pandemia apresentou um cenário muito novo, de muita incerteza, que causou muito sofrimento”, comenta a coordenadora de saúde mental de Olinda.

Os teleatendimentos são gratuitos e estão disponíveis de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, mesmo horário de funcionamento dos Caps. Confira os endereços dos Centros de Atenção Psicossocial, além dos números para contatos no teleatendimento.

Recife, cidade-irmã de Olinda, também apostou no teleatendimento psicossocial para tentar diminuir as dores emocionais da população. Por meio da Secretaria de Saúde da capital pernambucana, o serviço foi batizado de “teleacolhimento” e, desde março deste ano, oferece escutas gratuitas via vídeos e telefones a pessoas que estão sentindo impactos na saúde mental. Os agendamentos são realizados por meio da ferramenta Atende em Casa, criada pelo poder público com a finalidade de promover atendimentos iniciais em formato digital, direcionando os usuários para profissionais de saúde que dão orientações em casos suspeitos de Covid-19. Após passar por um questionário, o público é perguntado se precisa de apoio emocional; havendo resposta positiva, é feito o direcionamento ao teleacolhimento.

Segundo a coordenadora do serviço, Angélica Oliveira, mais de 2 mil atendimentos relacionados a sofrimento mental foram realizados até o momento. Além do agendamento para o público geral, existe um e-mail exclusivo para profissionais da rede municipal de saúde do Recife, que estão atuando na linha de frente contra o novo coronavírus.

Angélica Oliveira, coordenadora do teleacolhimento oferecido pela Secretaria de Saúde do Recife. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

“O que mais aparecem são ansiedade, depressão e, de junho para cá, começou a surgir muito luto, pessoas sofrendo pela perda de parentes. Há muito medo de pegar a Covid e medo de perder o emprego. Por isso que o apoio é psicossocial, porque existem muitos problemas de ordem financeira”, explica a coordenadora.

O projeto conta com um trabalho multiprofissional, envolvendo 80 servidores municipais, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outras funções. A coordenadora do teleacolhimento ressalta que o serviço não oferece consultas e nem receita medicamentos, pois, para isso, são necessárias avaliações presenciais e criteriosas com médicos psiquiatras da rede municipal de saúde ou em hospitais privados. “Por isso que nós chamamos de acolhimento psicossocial”, enfatiza Angélica, complementando que, havendo necessidade, os usuários podem ser encaminhados para os serviços presenciais. “É uma escuta qualificada e, quando necessário, fazemos o encaminhamento com qualidade, fazendo o contato com o serviço; a gente diz como a pessoa vai chegar e passa os contatos. Fazemos toda uma regulação desse cuidado para que quando ele – usuário - chegue no lugar do atendimento presencial, o local já esteja sabendo e o atenda de uma forma benéfica. É um trabalho integrado”, acrescenta Angélica.

Ainda de acordo com a coordenadora do teleacolhimento, os atendimentos específicos aos profissionais de saúde devem ocorrer de maneira continuada. “A gente está com uma demanda, desde junho, regular de profissionais que apresentam todos os tipos de sofrimento, tais como medo de pegar a Covid-19 e porque estão na linha de frente. Esse acompanhamento vai durar até o final da pandemia”, finaliza.

O cidadão que necessita do aporte psicológico, dependendo da situação, pode ser acolhido em mais de uma ligação ou vídeo. Caso apresente sofrimento grave, ele deve, ainda, ser encaminhado a um serviço presencial. O teleacolhimento está disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Veja endereços dos Caps, indicados a quem precisa de socorro presencial.

No vídeo a seguir, a coordenadora – e psicóloga de formação - do teleacolhimento dá mais detalhes a respeito do serviço, bem como revela dicas sobre como a sociedade pode combater desgastes psicológicos. Também participa da entrevista o assistente social Airles Ribeiro, que divide com Angélica a coordenação do teleatendimento da Prefeitura do Recife. Assista:

Quarta onda – Entre os profissionais de saúde mental, existe um entendimento de que os efeitos da pandemia da Covid-19 desencadearam uma nova “onda”. Miriam Gorender, professora de psiquiatria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), detalhada as etapas: “A primeira onda é da doença em si. A segunda seria das complicações trazidas pela doença, como pessoas que ficam com lesões no pulmão, neurológicas e cardiológicas. Você tem ainda uma terceira onda das pessoas que adoecem de enfermidades que vinham sendo tratadas, como diabetes e pressão alta, e que deixam de ser tratadas porque toda a atenção está na Covid-19. Nesse caso, a pessoa fica com medo de ir ao médico, se consultar para continuar o seu tratamento, ou não tem uma UTI. A quarta onda é de doença mental, que deve acompanhar a gente por muitos anos, porque doença mental é crônica”.

Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva reitera o alerta e enfatiza a necessidade de ações imediatas. "A quarta onda, que é a onda das doenças mentais, já chegou e não temos mais tempo a perder. Temos que atuar firmemente para minimizar os prejuízos que todos terão deste momento, monitorando a saúde mental da população e o atendimento psiquiátrico”, defende Antônio.

Durante entrevista ao LeiaJá, a psiquiatra Fátima Vasconcelos – também vinculada à ABP – elencou uma série de atitudes que podem ajudar as pessoas, mesmo em casa, a tentar diminuir os impactos emocionais e o agravamento de casos da quarta onda. A médica alerta, porém, que não se trata de uma receita pronta, uma vez que nem todas as atividades são indicadas a todas as pessoas de maneira generalizada, já que cada indivíduo tem suas preferências cotidianas e particularidades. Acompanhe as dicas:

1 – Crie uma rotina: você irá sentir-se mais calmo e no controle de suas emoções; leia livros, veja televisão, filmes, series, documentários, mas evite ficar o tempo todo vendo notícias. É importante se informar, mas, o excesso de informação gera estresse. Ao invés disso, ligue para seus amigos e sua família. Uma rede de suporte social faz toda a diferença. A solidão pode levar a depressão.

No home office, crie uma rotina. Acorde, vista uma roupa confortável e comece seu o trabalho, mas, estabeleça horários. Para se distrair, jogue com crianças e idosos – desde que preservados os protocolos de saúde -, respeitando suas preferências. Um dos aspectos positivos do “fique em casa” foi a maior aproximação das famílias, que estão em home office e podem conviver mais com seus filhos e pais.

2 – Faça atividades físicas: caso não tenha a orientação de um profissional, a pessoa pode optar por realizar exercícios simples, como pular corda, realizar apoios, abdominais, agachamentos e polichinelos. É indicado variar o tipo de treino a cada dia, evitando a monotonia. Este tipo de atividade pode ser realizado tanto por adultos quanto por idosos que não possuam nenhuma doença cardiovascular, respiratória ou nas articulações.

3 – Mantenha uma boa alimentação: alimentar-se de forma saudável é fundamental para superar essa pandemia. Uma dieta equilibrada evita não apenas o ganho de quilos extras, garante também uma boa imunidade do corpo. Sendo assim, evite refrigerantes, doces e pratos gordurosos. Dê preferência aos alimentos naturais como frutas, verduras, vegetais e cereais e beba bastante água. O ideal mesmo é procurar um nutricionista para montar uma dieta adequada às necessidades do seu corpo. Evite bebidas alcoólicas. Definitivamente, neste momento não abuse de bebidas.

4 – Durma bem: é quase impossível dormir quando se está ansioso ou preocupado. Uma boa ideia para regular o sono é manter-se ativo durante o dia. Quanto mais atividades físicas fizer, mais cansado ficará e melhor será o seu sono e, por consequência, sua saúde.

5 - Tenha uma boa rotina de higiene: se for necessário quebrar o isolamento social, siga estes passos: use máscara quando sair; carregue álcool em gel a 70% para higienizar as mãos na rua; lave bem as mãos quando voltar; retire os sapatos na porta de casa; coloque as roupas usadas para lavar; tome um banho e lave os cabelos. Além disso, higienize tudo que veio do supermercado e mantenha a casa sempre limpa, inclusive maçanetas, puxadores e controles remotos. Lavar as mãos antes de preparar os alimentos sempre foi um hábito básico de higiene, mas é necessário reforçar essa dica em tempos de coronavírus.

Também em entrevista ao LeiaJá, o coordenador do Instituto de Psicologia da USP, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, destacou orientações para a população que corre risco de sofrimento mental. Entre elas está a busca de informações em fontes confiáveis, como as produzidas pelos cientistas das universidades. Para casos graves, o coordenador também exalta o trabalho do CVV - Centro de Valorização da Vida, por meio do telefone 188. Ouças as dicas no áudio a seguir:

O médico psiquiatra Walmor Piccinini compactua da ideia que é importante filtrar informações sobre o novo coronavírus. Receber um fluxo intenso de notícias negativas pode potencializar adoecimento psicológico, segundo o especialista. “As pessoas têm que evitar passar o dia inteiro presas no WhatsApp, na tevê, recebendo informações negativas. É preciso preservar a sanidade. Não se deixar bombardear por informações negativas. Também não adianta imaginar soluções mágicas: a pessoa tem que ter tranquilidade e saber o melhor a fazer no momento. Ficar mais em casa, se for possível, evitar o contato, diminuir essa ansiedade de ir à praia, de ir a um mercado, enfim, a pessoa deve se expor o menos possível tanto psicologicamente e quanto fisicamente. É indicado ouvir uma boa música, brincar com os filhos”, aconselha Piccinini.

A Associação Brasileira de Psiquiatria divulgou, em seu site oficial, uma série de orientações para a população e profissionais de saúde que devem ser compartilhadas durante a pandemia. "Com o intuito de orientar seus associados e a população em geral, a ABP tem publicado informações voltadas aos cuidados em saúde, tanto física quanto mental, direcionadas aos diversos públicos que a acompanham", destaca a ABP. Também no site da instituição, foi publicado um comunicado com o presidente da Associação; confira no vídeo produzido pela entidade:

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), umas das instituições mais atuantes no combate à pandemia de Covid-19, por meio do seu Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES), publicou o documento em que traz recomendações à população. Intitulada “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19”, a publicação explica por que estamos sob o risco de uma carga grande de estresse.

“Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Os fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados a magnitude da epidemia e o grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento”, diz um trecho do documento.

Segundo as orientações da Fiocruz, a sociedade deve seguir ações de cuidado psíquico. São elas:

“Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenham usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);

Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual;

Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia, busque colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas; investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário);

Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia;

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas; evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;

Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;

Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde; reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas;

Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social; estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade”.

Ainda de acordo com a Fiocruz, “caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (SMAPS) para receber orientações específicas”. Leia o documento na íntegra.

De acordo com a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-02), Alda Roberta Campos, é preciso deixar claro que sofrimento psíquico é algo comum em meio ao cenário conturbado da pandemia. “Sofrimento psíquico todo ser humano tem, uns mais, outros menos. Em um momento de pandemia, todo mundo vai sofrer de algum jeito, pelo medo, dificuldade de sono, aumento de ansiedade, diminuição ou aumento de apetite. Vai ter interferência na vida, ninguém está imune ao sofrimento psíquico. Sofrimento não é doença”, comenta a presidente.

Alda Campos orienta que o autocuidado é um comportamento importante no processo de combate ao sofrimento psíquico, uma vez que caso esse sofrimento comece a impedir que o indivíduo realize suas atividades cotidianas, como trabalho, estudos, projetos, convivência social e higiene pessoal, começarão os indícios de que a pessoa pode, de fato, estar sendo acometida por um adoecimento mental.

“Olhar para si, se autoconhecer para entender qual é a sua demanda e quais são os seus limites. O que você consegue fazer? Qual o reconhecimento do seu sentimento? A partir disso, você faz o seu projeto. Não existe uma receita de autocuidado. Oriento que olhe para você, enxergue o seu contexto. Como você pode acolher e ser acolhido? Com quem você conta? Amigos, amigas, familiares são as pessoas que você pode contar. O que você tem feito em relação à construção da rotina, para ressignificar seu dia e seu tempo? O autocuidado é isso, é olhar para si mesmo, para tornar esse período menos difícil”, explica psicóloga.

Saiba mais - No site da Organização Pan-Americana de Saúde, órgão ligado à OMS, são publicadas informações sobre autocuidados durante da pandemia de Covid-19. Entre eles, está uma série de infográficos que destacam atividades importantes para o nosso dia a dia que nos ajudam a preservar o bem-estar e, por consequência, a nossa saúde mental. Confira, a seguir, um deles:

Folheto produzido pela OMS traz orientações sobre saúde mental em meio à pandemia do novo coronavírus. Imagem: Divulgação - Opas/OMS

Atuação do poder público é necessária. Saúde é um direito de todos os brasileiros

O LeiaJá ouviu especialistas em saúde mental e fontes de entidades que representam a atuação de profissionais da área, para refletirmos a respeito de ações e políticas, por parte do poder público, que possam ajudar a população brasileira a se proteger dos sofrimentos psicológicos e do adoecimento mental. Alda Campos, presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, compartilhou a sua análise, projetando iniciativas em prol da saúde – física e psíquica - da sociedade.

Para Alda, inicialmente é preciso compreender que o conceito de saúde envolve um bem-estar que possui várias esferas. Questões financeiras, de moradia, perspectivas de vida, acesso à transporte, alimentação saudável, lazer, educação, entre outras, são algumas dessas vertentes. Segundo a presidente do CRP-02, combater desigualdades é um dos primeiros passos para garantir o bem-estar dos cidadãos. “Quando a gente está falando de saúde mental, não estamos falando apenas de ter ou não um diagnóstico. Estamos falando de uma qualidade de vida que precisa ser cumprida diante da nossa Constituição. Na nossa Constituição Federal, saúde é um direito de todos e dever do Estado”, destaca. “A nossa orientação em relação ao poder público é que ele deve oferecer cuidado interdisciplinar e intersetorial para a população, isso quer dizer, condições de vida, acesso à educação e à água, por exemplo. Como vai lavar a mão quem não tem água? É dever do poder público promover condições melhores de moradia, de acesso à educação e à saúde”, complementa.

Na visão da presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, a pandemia denunciou uma falta de assistência à nossa população e potencializou as diferenças e desigualdades sociais que o povo enfrenta, tais como saúde e educação precárias. Segundo Alda Campos, o Governo Federal precisa pensar um cuidado de reestruturação e reorganização social para a redução dessas desigualdades. “Essas desigualdades têm um impacto imenso na saúde mental das pessoas”, comenta Alda.

De acordo com a gestora do CRP-02, é importante que o Governo Federal, por meio dos Estados e municípios, fortaleça a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Sistema Único de Saúde. “Precisamos de cuidados multidisciplinares. São zelos com vários profissionais que vão ofertar cuidados interdisciplinares. O governo precisa aumentar investimentos na saúde coletiva, com acompanhamento médico, psicológico, com terapia ocupacional, assistência social, enfermagem. Cuidado não só através do SUS, mas também com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Proponho ações do governo que vão ofertar, por exemplo, centros de convivência, locais de apoio onde as pessoas podem pernoitar, como as pessoas em situação de rua, acessando uma alimentação adequada. A gente precisa ter trabalhos que vão fazer a oferta de profissionalização. É um cuidado geral”, complementa.

Sobre o oferecimento de profissionalização, estratégia para o campo social e, inclusive, da saúde, Alda defende que o trabalho é um instrumento essencial na vida do brasileiro. “O trabalho garante a sobrevivência e traz a ideia de perspectiva de projetos. Precisamos resgatar na população o desejo de crescimento, de sonhos, projetos. Quando a gente pensa em um trabalho psicoterápico da psicologia, buscamos tratar o outro com igualdade para ele entenda que precisa cuidar dele próprio. A população precisa mais do que cesta básica, precisa voltar à possibilidade de a pessoa desejar e querer crescer, tendo projetos e geração de renda”, opina.

Outro ponto mencionado pela psicóloga diz respeito ao sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate à Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, 257 mil profissionais de saúde foram infectados pela doença até então; 226 morreram. Na análise da presidente do CRP-02, o autocuidado é peça fundamental para que esses trabalhadores sigam firmes no acolhimento da população. “Estamos trabalhando o autocuidado, os profissionais precisam se cuidar para puder ter uma oferta de cuidado maior para o outro. A ideia do autocuidado é você poder garantir o cuidado com a sua saúde para cuidar das outas pessoas. É necessário para todas as pessoas, mais ainda para quem está na linha de frente. Terapeutas ocupacionais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais, médicos, todos os profissionais que estão tendo cuidado direto com a população que está buscando saúde. Vigilantes, pessoal da cozinha, copa, pessoal da limpeza, nutricionistas, pessoas na reta guarda e na linha de frente dos hospitais também precisam desse cuidado, porque é um sistema de saúde composto por uma série de profissionais que estão envolvidos. Todo mundo precisa dessa atenção, acolhimento e escuta especializada”, alerta Alda Campos.

Por fim, a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco destaca a necessidade do zelo pelos psicólogos e psiquiatras. “As pessoas têm uma ideia de que os psicólogos não têm problema. Fazem uma associação do profissional de saúde, de uma forma geral, com heróis e heróis passam a ideia de que têm super poderes, que são imbatíveis. Mas nós temos um índice de mortalidade grande entre profissionais de saúde. Nós somos profissionais que precisamos de equipamento de proteção individual, de acolhimento, de salários dignos, respeito, descanso. São pessoas que estão com medo, preocupadas em contaminar a própria família, que adoecem. Não existem heróis no sentido mágico de super poderes. São pessoas que escolheram uma profissão, que se dedicam à ela e precisam de condições mínimas de trabalho”, reivindica.

A presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ana Sandra Fernandes, reitera que políticas públicas de saúde mental são essenciais para a sociedade brasileira. No entanto, na visão da presidente, o Governo Federal não tem valorizado essas políticas nos últimos anos. “Se a gente não tiver um investimento efetivo nas políticas públicas de saúde e assistência social que garantem à população serviços de qualidade, teremos problemas, principalmente em um país com o nível de desigualdade como o nosso. O que a gente vê no Brasil, infelizmente, é o processo oposto. A Emenda Constitucional 95, que congelou por 20 anos investimentos em políticas públicas, como saúde e educação, a curto, médio e longo prazo, tende a trazer uma desassistência de forma muito marcante para a população em geral”, critica.

Ana Sandra Fernandes, presidente do Conselho Federal de Psicologia. Foto: Comunição CFP

Para a presidente do CFP, o Estado precisa aplicar recursos financeiros em políticas públicas com financiamento adequado. “Deve investir nos sistemas que já existem e facilitar a criação e a promoção de políticas públicas que, efetivamente, garantam o acesso da população a serviços essenciais, garantindo desde as coisas mais simples, como a presença dos insumos necessários para o funcionamento de um serviço, até a presença de profissionais qualificados, enfim, tudo isso é necessário e tudo isso precisa ser garantido. A população tem direito constitucional a esses serviços”, comenta.

Ana Fernandes ainda tece uma crítica aos poderes públicos de uma forma geral. Segundo a presidente do CFP, o País não apresentou, até então, uma política pública de aporte à saúde mental da população durante a pandemia do novo coronavírus. “No Brasil, a gente não tem acesso à política pública, a um projeto explícito, de um programa de saúde mental, posto, principalmente, para o País nesse contexto de pandemia que a gente está vivendo. Nós desconhecemos qual é o projeto, qual é a proposta, qual é o plano dos órgãos governamentais para uma política efetiva de saúde mental. Até hoje, o Conselho Federal de Psicologia nunca foi chamado para a construção de um projeto. Sinto pessoalmente falta de uma política clara, definida, sobre como esse enfrentamento vai ser feito neste momento e no pós-pandemia”, diz a presidente.

Ainda de acordo com a gestora do Conselho Federal de Psicologia, cabe aos governos federal, estaduais e municipais promoverem o funcionamento de suas redes de atenção psicossocial e de todos os seus equipamentos, bem como os gestores públicos devem garantir o acesso da população – principalmente da parcela mais pobre - a elementos básicos, como alimentação, educação e até internet – ferramenta que propicia os atendimentos psicológicos remotos -. “Nós somos um ser integrado, não é possível falar de saúde fazendo recortes. Para que a gente possa ter saúde em uma visão muito mais ampla, que tem a ver com saúde mental, física, entre outras esferas, precisamos estar bem do ponto de vista físico, e precisamos ter as nossas necessidades garantidas socialmente. Acredito que a saúde mental entra em um conjunto de bem-estar, não só importante, mas também fundamental. O Governo Federal precisa trabalhar para que a gente viva de uma forma mais organizada, em uma sociedade mais justa e mais igual, porque isso também contribui de uma forma significativa para o nosso processo de saúde física e de saúde mental por consequência”, finaliza sua análise a presidente do Conselho Federal de Psicologia.

O professor de psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bruno Monteiro, enxerga um cenário preocupante nos serviços públicos de saúde mental. De acordo com o docente, essa é uma das áreas mais carentes entre os segmentos de saúde direcionados à população. “A assistência em saúde mental já é um problema, uma área muito subvalorizada. Área muito pouca vista, é a última vista entre nas gestões públicas, em sua maioria. Você tem uma carência de serviço, pouco ambulatório, pouca psicoterapia, pouco médico psiquiatra. Os Caps não dão conta. Não estou vendo iniciativa no sentido de incremento do cuidado em saúde mental das populações”, avalia o professor, alertando que já havia, antes do cenário pandêmico, um contexto muito sério em relação à saúde mental da sociedade, potencializado após a Covid-19. “Já está tendo uma explosão de adoecimento mental, a pandemia potencializa e desencadeia um estado de mal-estar que já está presente nas pessoas. Sem pandemia, a situação da saúde mental já era um problema, as pessoas estavam muito ansiosas, deprimidas, tensas”, adverte o educador universitário.

Nascimento indica uma orientação que tem a ver com a forma que os governantes conduzem seus trabalhos sob os efeitos sociais do novo coronavírus. Segundo o professor da UFPE, os discursos dos gestores devem transmitir conforto. “Uma medida de saúde mental nessas horas é um grande sentimento de apaziguamento dado pelas autoridades. A medida terapêutica para aplacar o sofrimento dessas pessoas é tudo o que os políticos não estão fazendo agora. É o cara cuidar bem dessa população, dizer que está tomando as medidas: ‘vocês podem contar com a gente nisso, teremos assistência aqui, vai estar sendo resguardado financeiramente ali’. Claro que as pessoas vão precisar de um psicólogo e eventualmente de uma medicação. Mas, além disso, a forma como é conduzida a catástrofe, por parte do poder público e das autoridades sanitárias, também tem influência sobre a saúde mental das pessoas”, explana.

Ao sugerir possíveis estratégias de combate aos males mentais, o professor da UFPE destaca que são fundamentais o planejamento e a execução de ações emergenciais por parte dos governos. Entretanto, o docente de psiquiatria não acredita na celeridade dos poderes públicos nesse sentido. “O Ministério da Saúde, fundamentado nas instituições consultivas, como a Associação Brasileira de Psiquiatria, que é uma entidade de referência técnica, deveria criar políticas públicas cuja a tradução seja a implantação de algumas medidas específicas em curtíssimo prazo, começando com as medidas para dar uma acalmada na população, propiciando espaços de lazer, de convivência segura presencial ou on-line. No último estágio, deve haver o aumento da assistência à saúde, com maior disponibilidade de mais psicólogos e psiquiatras para a população. É fundamental um aumento da oferta e disponibilidade de profissionais de saúde mental, sobretudo psicólogos e psiquiatras na rede pública. A gente sabe que vai ser muito difícil de ser implementado”, diz o professor da UFPE.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também reforçou seu alerta em orientação aos chefes de poder de todos os países que enfrentam a problemática pandemia do novo coronavírus. “Devemos aproveitar esta oportunidade para criar serviços de saúde mental adequados para o futuro: inclusivos, baseados em comunidades acessíveis. Porque, em última análise, não há saúde sem saúde mental”, frisa o gestor da OMS.

O que diz o Ministério da Saúde?

O LeiaJá também entrou em contato com o Ministério da Saúde em busca de um representante que pudesse nos responder questionamentos a respeito da postura do Governo Federal no âmbito da saúde mental em meio ao cenário pandêmico. Por meio da sua assessoria de imprensa, a pasta respondeu com informações oriundas de suas equipes técnicas. Confira:

LeiaJá - A partir dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, tais como crise econômica, luto, medo da doença, entre outros, profissionais e entidades ligadas à saúde mental alertam que o Brasil pode ter aumento de casos de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. O Ministério da Saúde concorda com esses alertas? De que maneira a pasta interpreta e explica o atual cenário de saúde mental da população? 

Ministério da Saúde - A literatura científica sugere que medidas restritivas como quarentena, isolamento e distanciamento social têm um impacto sobre o bem-estar psicológico das pessoas, bem como reações em decorrência do medo da contaminação e/ou do luto pelos óbitos de pessoas próximas. As reações psicológicas às pandemias incluem comportamentos desadaptativos, angústia emocional e respostas defensivas como: ansiedade, medo, frustração, solidão, raiva, tédio, depressão, estresse, comportamentos de esquiva, assim como diversas outras manifestações psíquicas e/ou físicas. Esse é o fenômeno que os especialistas estão chamando de “quarta onda da evolução da pandemia de Covid – 19”. 

LeiaJá - Quais são as ações promovidas pelo Ministério da Saúde, a nível federal, em prol da saúde mental da população? E durante a pandemia, quais ações foram criadas para atender os usuários do SUS? 

Ministério da Saúde - A Política Nacional de Saúde Mental compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo País com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em Saúde Mental, visando fortalecer a autonomia, o protagonismo e promover uma maior integração e participação social destas pessoas. A atenção às pessoas com necessidades relacionadas aos transtornos mentais, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, são assistidas nos pontos de atenção à saúde da Rede de Atenção Psicossocial, no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é composta atualmente pelos serviços Atenção Primária à Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)  em suas diversas modalidades, Serviços de Residência Terapêutica (SRT), Unidades de Acolhimento, Unidades de Referência em Saúde Mental em Hospitais Gerais, Leitos em Hospitais Psiquiátricos Especializados e Equipes Multiprofissionais em Saúde Mental. 

No âmbito Nacional, já foram realizadas diversas ações relativas à saúde mental no contexto da pandemia: 

Nota Técnica elaborada pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (CGMAD), com as recomendações à Rede de Atenção Psicossocial sobre as estratégias de organização no contexto da infecção de Covid – 19; 

Parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) com a oferta de uma campanha para promover a saúde mental no contexto de Covid-19, através de materiais voltados aos profissionais de saúde, familiares, idosos e cuidadores e população em geral, com o objetivo amenizar os efeitos negativos da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos brasileiros. 

Projeto Telepsi, realizado em parceria com o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, que oferece teleconsulta psicológica e psiquiátrica para manejo de estresse, ansiedade, depressão e irritabilidade em profissionais do SUS que enfrentam a Covid-19 - e mais recentemente ampliada para os trabalhadores dos serviços essenciais. 

Desenvolvimento de um questionário on-line através do FormSUS, com o objetivo avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 e do distanciamento social na saúde mental da população brasileira. 

Lançamento de uma série de ações com o objetivo de informar à população sobre questões envolvendo doenças mentais, na expectativa de promover saúde e bem-estar do brasileiro diante da pandemia da Covid-19. A primeira iniciativa consiste em três eventos virtuais do programa “Mentalize: sinal amarelo para atenção à saúde mental” que está marcado para os dias 25, 26 e 27 de agosto, sempre às 19h, no canal do Youtube do Ministério da Saúde. Serão encontros on-lines, abertos ao público em geral, que reunirão especialistas para falar sobre temas que envolvem saúde mental com o foco na saúde da criança e do adolescente, dos trabalhadores e dos idosos. O objetivo é desmistificar e reduzir estigmas sobre doenças mentais. Acompanhe: youtube.com/minsaudeBR.

LeiaJá - De que forma o Ministério da Saúde trabalha, em parceria com os estados e municípios, para oferecer serviços gratuitos de atendimentos psicológicos e psiquiátricos, além dos serviços de acolhimento psicossocial?  

Ministério da Saúde - A gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é tripartite, ou seja, compete à União, aos estados e aos municípios a prestação de ações e serviços de saúde. O Ministério da Saúde atua por meio de repasse de recurso financeiro de incentivo e de custeio para habilitação dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). 

LeiaJá - Psiquiatras alertam que, no pós-pandemia, pode haver um aumento expressivo em casos de ansiedade e de pressão. Quais são os planos do Governo Federal para combater um possível surto de transtornos mentais no pós-pandemia?  

Ministério da Saúde - O Ministério da Saúde tem trabalhado para ampliação dos serviços de atendimento à saúde mental, em 2020 foram incentivadas as aberturas de 18 novos CAPS, 8 Serviços de Residência Terapêutica (SRT) e 29 novos leitos de saúde mental em hospital geral. Está prevista a habilitação de 77 novos CAPS, 100 SRT e 144 leitos em hospitais gerais. 

LeiaJá - Em 2019, quanto foi investido em serviços de saúde mental e quanto já foi investido em 2020? Já há uma projeção de recursos para 2021? 

Ministério da Saúde - Em 2019 foi incorporado no teto dos Fundos Municipais e Estaduais de Saúdeo valor de R$ 85,9 milhões. Foram ainda investidos R$ 12 milhões para estruturação e abertura de novos serviços. 

Em 2020, foi incorporado o valor de R$ 5,4 milhões no teto e pago R$ 814 milhões de incentivo para abertura de 18 CAPS, 8 SRT e 29 leitos em hospital geral. Está em tramitação a habilitação de novos serviços que alcançarão um total de R$ 66,6 milhões/ano. Para 2021, o planejamento orçamentário ainda está em elaboração. 

A pandemia de coronavírus continua a atormentar o mundo e, além de quase 16 milhões de infecções e mais de 640.000 mortes, deixa um rastro de dificuldades e desconfiança.

Alguns, contudo, comemoram: o presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou que testou negativo para a Covid-19 após ser diagnosticado em 7 de julho, uma recuperação que ele atribuiu ao tratamento com hidroxicloroquina.

O Brasil é o país latino-americano mais afetado pela Covid-19, com quase 2,4 milhões de casos e mais de 86.000 mortes. A doença tem um impacto muito desigual no território de 212 milhões de habitantes.

Em algumas regiões, está apenas começando e em outras se estabilizou depois de deixar milhares de mortos, embora haja preocupações com uma segunda onda devido às políticas erráticas de Bolsonaro para combater a pandemia, que ele descreveu como "gripezinha" e que não parece afetá-lo politicamente. O presidente teve um crescimento nas pesquisas de popularidade divulgadas nesta semana.

- Desconfiança -

Nesta semana, e pela primeira vez desde o surgimento da pandemia, mais de 280.000 infecções foram diagnosticadas em todo o mundo em 24 horas, um número que força os governos a intensificar as restrições e que geram desconfiança em relação às autoridades.

"Em muitos países, o apoio aos governos está caindo este mês", apontou o relatório da consultoria Kekst CNC, que destacou que os entrevistados de países como França, Alemanha, Reino Unido, Japão, Suécia e Estados Unidos acreditam que os números oficiais são menores que os reais.

Na América Latina e no Caribe, onde os casos ultrapassam os 4,2 milhões e os óbitos se aproximam de 180.000, alguns países iniciam um desconfinaento gradual, como o Peru. O Chile fará o mesmo a partir da próxima semana em sete comunas de Santiago.

O Equador, que neste sábado ultrapassou 80.000 casos, estendeu até meados de agosto o estado de emergência que está em vigor desde março para deter o vírus. No entanto, desde meados de maio, começou a aliviar as medidas restritivas.

Em outros países, a pandemia aprofunda a crise política, como na Bolívia, onde o Supremo Tribunal Eleitoral (TSE) adiou novamente as eleições para 18 de outubro.

Na Argentina, na próxima semana começarão os testes clínicos em pacientes que usam uma solução hiperimune com base em soro de cavalo, informou a empresa de biotecnologia Inmunova em comunicado.

- Sem festas -

Eventos e festividades continuam sendo cancelados no mundo. O Rio de Janeiro cancelou a tradicional festa de Réveillon que reúne milhões de pessoas na praia de Copacabana para assistir aos fogos de artifício.

A prefeitura do Rio espera uma assembleia das escolas de samba na próxima semana, que definirá o destino do carnaval. São Paulo já cancelou seu carnaval de 2021.

Neste sábado, entretanto, o futebol voltou à China, após uma pausa de cinco meses e o campeonato local recomeçou com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da pandemia.

Nos Estados Unidos, onde já existem mais de 145.000 mortes e mais de 4 milhões de infecções, a epidemia não para. Os mais atingidos agora são os estados sul e oeste do país, incluindo o Texas, que neste sábado foi atingido pelo furacão Hanna.

- Novos surtos na Europa -

Os surtos na Europa, que ultrapassa 3 milhões de infecções e 207.000 mortes, levaram a OMS a manifestar sua "preocupação" e insistir que, "se a situação exigir", sejam introduzidas "medidas mais rigorosas".

O Reino Unido uniu forças com França, Alemanha e Áustria para forçar o uso de máscaras em locais públicos fechados e para realizar mais testes de diagnóstico.

Os surtos na Espanha, especialmente nas regiões de Aragão e Catalunha, levaram a França e a Noruega a impor restrições a quem chegasse da península. No entanto, e apesar das recomendações de seu governo, as famílias francesas viajaram para a Catalunha para se bronzear na praia.

Da mesma forma, a França agora exige testes de diagnóstico obrigatórios para viajantes de 16 países, incluindo Estados Unidos e Brasil, os dois mais afetados no mundo, e Peru, o segundo com o maior número de infecções na América Latina.

A Ásia também é motivo de preocupação, à medida que novas fontes de contágio estão surgindo. A Coreia do Norte, que dizia não ter infecções, informou na noite deste sábado ter detectado o primeiro caso "suspeito".

A vizinha Coreia do Sul registrou o maior número de casos em quase quatro meses e o Vietnã detectou o primeiro contágio por transmissão local em 100 dias.

Na última quarta-feira (8), Naya Rivera desapareceu após um passeio de barco com o fillho em um lago de Ventura, na Califórnia. De acordo com o site TMZ, o corpo encontrado nesta segunda-feira (13) é o da atriz. Os investigadores chegaram a dizer, durante as buscas, que era mínima a chance de Naya estar com vida. Mesmo assim, os familiares dela começaram a procurá-la por livre e espontânea vontade.

George Rivera, pai da atriz, realizou por conta própria alguns mergulhos para ver se encontrava a filha. A mãe dela e o ex-marido, Ryan Dorsey, estavam acompanhando o processo de buscas na localidade. Segundo as autoridades, o filho de Naya, de apenas quatro anos, afirmou que ela pulou na água. Sucesso na série Glee, Naya Rivera também participou de Um Maluco no Pedaço, Baywatch e CSI: Miami.

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Uma recente pesquisa realizada pela DeltaFolha, que coletou dados de 34 países do top 200 do Spotify, mostra que o Brasil é o país que mais consome músicas tristes no mundo durante a pandemia. Sendo este hábito um reflexo do momento que o mundo enfrenta, o psicólogo Reinaldo Braga explica que a música, de qualquer gênero, serve para externalizar sensações que, às vezes, são difíceis de colocar em palavras. "A música, desde tempos muito antigos, é usada pela humanidade para expressar nossos sentimentos, contar histórias e entreter. Muito fácil nos identificarmos com alguma música, principalmente as que remetem a vivências pessoais", explica. "Algumas pesquisas apontam que a música pode ser um mecanismo facilitador para as pessoas se expressarem. Entretanto, tal movimento está vinculado às vivências de cada um, bem como a maneira subjetiva que cada ser lida com situações que geram questões emocionais", complementa.

A estudante de Pedagogia Thainá Santos, 24 anos, conta que a música a ajuda a entender emoções que podem ser confusas. "Sinto que a melodia, assim como a sonoridade, me ajuda a expressar sentimentos. A melodia dita triste, como as do folk e música clássica são as que mais me atraem", conta.

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O mesmo acontece com a estudante de Psicologia Giovanna Alves, 22 anos, que afirma ter na música um refúgio. "Gosto de músicas mais lentas, não necessariamente preciso estar mal para ouví-las, mas, com certeza, são meu refúgio, quase uma trilha sonora da minha vida, que reflete meu estado mental. Minha playlist, composta por grunge e rock alternativo é, praticamente, o mapa da minha personalidade", diz.

O estudante de Biologia Vinícius Nunes, 27 anos, afirma que as músicas servem para expressar aquilo que não pode ser dito. "Músicas tristes existem em todos os gêneros: rock, rap, reggae e até eletrônicas. Consigo identificar sons que me atingem de formas diferentes. A música serve para isso", comenta.  

O psicólogo Braga afirma que apenas a música não serve de remédio. "É fundamental que possamos conversar com amigos, familiares, profissionais, entre outros. A troca entre o ser humano é muito importante, ainda mais nesse período de quarentena que todos enfrentamos e que, para a população brasileira, dotada de uma intensa aproximação com o próximo, pode ser ainda mais difícil de lidar", finaliza.

 

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