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O ex-policial dos Estados Unidos, Derek Chauvin, de 45 anos, foi condenado a 22 anos de prisão pelo assassinato de George Floyd. Em maio de 2020, o agente ficou, por nove minutos, de joelhos no pescoço de Floyd, que morreu asfixiado.

Por conta disso, a Justiça americana condenou Chauvin por homicídio culposo. Floyd estava sendo preso em Minneapolis sob suspeita de usar uma nota de 20 dólares falsa. Com o policial de joelho em seu pescoço, ele chegou a gritar que não conseguia respirar, mas foi ignorado e consequentemente morto por Derek.

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O policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, 24 anos, foi desligado da PM do Rio Grande do Sul após ser preso em flagrante pela morte de Beto Freitas, 40 anos. A vítima foi espancada até a morte no Carrefour de Porto Alegre e o PM, que fazia a segurança do local é um dos acusados.

No dia do assassinato de Beto, Giovane estava de folga e fazia um "bico" na unidade do Carrefour pela primeira vez. A decisão do desligamento de Silva ocorreu na última quinta-feira (3) - ele está preso desde o dia 19 de novembro.

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Segundo a Folha de São Paulo, o órgão considerou que ele cometeu transgressão disciplinar grave.

Os advogados de defesa do PM afirmaram que o desligamento já era esperado e, no momento, o maior problema é que ele foi transferido paga uma prisão comum "onde a sua integridade física não fica garantida", revelam.

Beto Freitas morreu após ser asfixiado por quase quatro minutos. O PM Silva e o segurança Magno Braz são apontados como principais responsáveis pelo assassinato.

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Nos últimos dias, eclodiu no mundo, com foco nos Estados Unidos, um novo movimento de luta contra o racismo. O lema “Black lives matter” (“Vidas negras importam”) gerou diversos e grandes protestos após a morte de George Floyd, negro estadunidense de 46 anos que morreu após ser sufocado por quase 9 minutos no chão de uma avenida em Minneapolis por um policial. Fica a pergunta: até quando atos como este irão se repetir? Até quando iremos fazer esta irracional distinção de pessoas pela cor da pele?

O caso reacendeu conflitos raciais latentes nos Estados Unidos e motivou atos em diversos países, como o Brasil, em que se lembraram também outras vidas, como a do garoto João Pedro, morto durante uma operação policial no Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos ou no Brasil, fato é que a população negra tem sido historicamente minorizada (apesar de, aqui, representar a maioria dos cidadãos). Assim como outras parcelas também são minorizadas. Estamos em 2020 e ainda se discrimina pretos, pobres, imigrantes, LBGTQIA+, enfim, qualquer pessoa que não se “encaixe” nos padrões estabelecidos há muito tempo. Essa situação não pode perdurar.

George Floyd foi mais um exemplo de como as vidas negras ainda são menosprezadas. Por quase 9 minutos com a cara no asfalto e o joelho do policial em seu pescoço, ele gritava: “Não consigo respirar!”. Uma cena lamentável. Trazendo esse caso e o que ele revela para a realidade do empreendedorismo, minha seara, basta pensarmos em quantos donos de empresas ou profissionais em altos cargos de gestão conhecemos que são negros. Em alguns casos, é possível contar nos dedos. Se compararmos com a ocupação branca, a balança não se equilibra. E nem sempre o preconceito está nos processos seletivos de contratação de pessoal, mas vem de muito antes, da formação básica do cidadão. No Brasil, o negro, geralmente pobre, tem menos oportunidade de estudo e inclusão, o que dificulta, mais tarde, acesso a faculdades e universidade e uma consequente barreira ao desenvolvimento pessoal e profissional. É preciso que se invista maciçamente em programas que quebrem esses obstáculos e promovam, desde a base, a ascensão da população negra.

Nessa discussão, também surgem os críticos do movimento negro ou os que pregam que “todas as vidas importam”. Defender essa ideia, embora um conceito correto – afinal, nenhuma vida pode ser menos importante que outra –, retira o mérito do movimento de defesa da população negra. Se todas as vidas importam, é verdade que uma vida negra, atualmente, parece ter menos valor. E é preciso se repetir que “vidas negras importam” até que essa frase se torne realidade. Não é “mimimi”, é realidade. Triste realidade.

Pensando mais racionalmente, nenhum desses movimentos de defesa de “minorias” deveria existir, porque não deveriam ser necessários. Mas, infelizmente, são. É preciso lutar pelos direitos das mulheres, é preciso lutar pelos direitos dos LBGTQIA+, é preciso lutar pelos direitos do ser humano.

Devemos, sempre, buscar a igualdade em todos os espaços. Hoje, jogamos luz sobre o movimento negro e sua luta histórica e necessária. Amanhã, precisamos também voltar os olhos a outras parcelas da população que ainda sofrem discriminação e são preteridas. Nenhuma vida deve ser deixada de lado, nenhum grito deve ser sufocado.

Após o segurança de uma unidade do Supermercado Extra, no Rio de Janeiro, ter matado por estrangulamento o jovem Pedro Gonzaga, 19 anos, algumas pessoas começaram a se perguntar por que o assassinato do rapaz não gerou tanta revolta e movimentação de grande parcela da sociedade, principalmente nas redes sociais, como aconteceu no episódio do cachorro morto em uma unidade do Carrefour de São Paulo.

Em novembro de 2018, um dos fatos mais virais nas redes sociais e na imprensa brasileira foi o assassinato do animal. Por dias, o assunto ficou entre o mais comentado na internet, vários artistas, ativistas e até autoridades bombardearam as redes sociais do Carrefour, prometendo um “boicote”.

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Já o assassinato do Pedro Gonzaga não despertou tanta euforia. No dia de sua morte (15), causada pelo segurança Davi Ricardo Moreira Amâncio, de 32 anos, rapidamente a hashtag Vidas Negras Importam figurou entre as mais usadas nas redes. No dia seguinte (16), segundo verificado pelo LeiaJá, a tag nem sequer aparecia como as mais virais do Twitter - o que pode demonstrar a pouca importância gerada pelos usuários.

Movimentações pontuais foram realizadas em Pernambuco, São Paulo e no Rio de Janeiro, cidade que, segundo o dirigente nacional do Movimento Negro Unificado (MNU), Marcelo Dias, reuniu protestantes - cerca de 1 mil pessoas no último domingo (18). 

No entanto, mesmo com essa movimentação, Marcelo acredita que o assassinato do jovem Pedro passaria em “brancas nuvens” se não fosse um caso surreal, já que a vítima, que estava desarmada, foi estrangulada pelo segurança do supermercado na frente da própria mãe, sem que ninguém que estava em volta tentasse tirar o Pedro do “mata-leão” dado pelo acusado.

“A repercussão foi menor porque virou banalidade a morte do jovem negro no Brasil. A sociedade não se importa com a situação de perigo que vive a juventude negra nas favelas. O que existe na periferia é o genocídio e essa palavra não é banal”, ratifica Marcelo Dias.

Para a mestranda em história e especialista em gestão pública, Anna Karla, isso é um retrato da construção histórica e social de nosso país, “onde a vida da pessoa negra é banalizada”. “Por isso que por muito tempo os negros foram tratados como mercadoria no processo de escravidão e, depois do período escravocrata, ela (a pele preta) foi banalizada pelo processo eugênico (‘higienização’ da sociedade realizado a partir de 1880)”, explicita Anna, que também é uma das lideranças do Frente Favela Brasil, mobilização política que atua nas periferias do país.

Uma pesquisa realizada pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPIR) e pelo Senado Federal constatou que 56% da população brasileira concorda com a afirmação de que "a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco". O estudo demonstra ainda que, para 55,1% dos entrevistados, é correto afirmar que "a principal causa de homicídios de jovens negros é o racismo".

Genocídio

Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), compartilhados na campanha "Vidas Negras", mostram a extensão do genocídio da população negra. Segundo a entidade, sete em cada dez pessoas assassinadas no Brasil são negras. Na faixa etária de 15 a 29 anos, são cinco vidas perdidas para a violência a cada duas horas.

Enquanto de 2005 a 2015 a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no país registrou uma queda de 12% para os não-negros, entre a população preta houve o aumento de 18,2% dos assassinatos. A Unicef alerta para o fato de que, de cada mil adolescentes brasileiros, quatro vão ser assassinados antes de completar 19 anos. Se os assassinatos da população negra continuarem nesse ritmo, serão 43 mil brasileiros entre 12 e 18 anos mortos de 2015 a 2021 - três vezes mais negros do que brancos.

“A banalidade da violência, que só cresce em nossos corpos, faz com que as pessoas tratem isso (o genocídio da população preta) como algo corriqueiro e desumanizam a população negra”, reforça Anna Karla.

Suspeito responderá em liberdade

O segurança do supermercado irá responder o processo em liberdade após pagar fiança de R$ 10 mil, sob a acusação de homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. Em sua defesa, o suspeito diz que achou que a vítima estava passando mal e abaixou para prestar os primeiros socorros. Ao colocar o jovem de lado, o segurança diz que "percebeu que ele estava simulando" e que (a vítima) "não tinha nenhum problema". O '"mata-leão" dado pelo suspeito em Pedro Gonzaga foi filmado pelas câmeras de segurança do Extra. A vítima ficou, pelo menos, dois minutos imobilizada pelo segurança.

Morte do Cachorro

No dia 30 de novembro de 2018, denúncias de que um segurança envenenou e espancou um cachorro abandonado causou uma onda de protestos contra uma loja da rede Carrefour, em Osasco, na Grande São Paulo. Defensores dos animais usaram as redes sociais para pedir o boicote à rede. O fato teria acontecido no estacionamento do hipermercado. Conforme o relato, o funcionário teria oferecido veneno de rato ao cão em meio a um pedaço de mortadela. Em seguida, agrediu o animal com pauladas.

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