Unesco faz campanha contra assédio à Assistentes Virtuais

Instituição pede mudança nas respostas de assistentes com voz feminina, que reagem passivamente quando verbalmente assediadas

por Katarina Bandeira ter, 14/01/2020 - 15:17
Reprodução/Instagram Magalu, Assistente Virtual do Magazine Luiza, chegou a reclamar de cantadas desrespeitosas Reprodução/Instagram

A Unesco lançou, essa semana, uma campanha inusitada contra o preconceito de gênero e o assédio sexual às Inteligências Artificiais (AIs). Apesar de soar estranho e incômodo em um primeiro momento, a instituição a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, conseguiu, através de um estudo chamado “I’d Blush If I Could” (Eu ficaria corada se pudesse, em tradução livre), identificar que as assistentes virtuais - criadas em sua maioria com voz feminina - não apenas sofrem assédios de usuários masculinos, como também reagem passivamente quando verbalmente assediadas.

“Hey, Atualize Minha Voz”

Magalu, Siri, Alexa, Nat, Bixby, a Google Assistente. O que todas elas carregam em comum, além do fato que estão cada vez mais presentes em nossas vidas, é a voz padrão do gênero feminino. Todas são mulheres. Porém, isso não deveria ser motivo para os resultados descobertos no estudo da Unesco. A organização constatou que, como essas assistentes são programadas basicamente por homens, que representam 90% da força de trabalho na criação de IA, elas aprendem que, quando são verbalmente assediadas, suas respostas devem ser tolerantes, subservientes e passivas.

A campanha, chamada de “Hey, Atualize Minha Voz” apresenta também dados de outros estudos que corroboram com o cenário de assédio tanto no mundo virtual, quanto fora dele. De acordo com a Kering Foundation, 73% das mulheres no mundo já sofreram algum assédio online, 55% delas relatam ter passado por estresse, ansiedade ou ataques de pânico após sofrer esses abusos ou assédios em ambiente virtual. Essa realidade parece reflexo do que já é enfrentado por mulheres fora das redes, em que 97% das mulheres brasileiras, por exemplo, afirmam já terem sofrido assédio em transportes públicos ou privados.

E se você ainda duvida que as pessoas estão realmente assediando Assistentes Virtuais, basta lembrar do caso da Magalu, a Assistente Virtual do Magazine Luiza. A “personagem” da loja de varejo chegou a reclamar de cantadas desrespeitosas no Twitter e Instagram, após um post do BuzzFeed denunciar o assédio sofrido pelo avatar.

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Não está Ok, Google, mas pode ficar

O intuito da campanha vai muito além de tornar as assistentes mais empoderadas, mas também busca educar o usuário e as gerações futuras contra esse tipo de atitude. Para isso ele apela tanto para as empresas desenvolvedoras atualizarem as vozes de suas assistentes, quanto para os próprios usuários, que podem enviar respostas que as assistentes virtuais poderiam dar caso em casos de assédios. 

É possível fazer isso fazendo login com a conta do Google ou do Facebook. A instituição espera que, com a mudança, as assistentes tenham voz ativa, para dar respostas sérias e educativas quando sofrerem qualquer tipo de assédio.

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