Interdisciplinaridade no Enem: saiba como identificar

Muito comum no Enem, questões contendo duas ou mais disciplinas no mesmo enunciado devem receber atenção redobrada

por Francine Nascimento dom, 25/08/2019 - 09:40
Júlio Gomes/LeiaJá Imagens . Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Além da contextualização, a interdisciplinaridade é outra forte característica das questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e que, provavelmente, você já deve ter notado. Se não, a gente te explica. As questões interdisciplinares, segundo a professora de ciências humanas Cristiane Pantoja são duas ou mais disciplinas interligadas numa mesma questão e que não necessariamente têm o mesmo ponto em comum. "Importante também não confundir interdisciplinaridade com multidisciplinariedade”, diz. Esse tipo de questão está espalhada por todas as áreas de conhecimento da prova do Enem e que, portanto, exige do aluno atenção redobrada para que ele possa identificar e responder o que a questão está pedindo.

Ainda de acordo com a professora Cristiane Pantoja, questões desse tipo são ainda melhores quando bem elaboradas. “Questões assim são extremamente bem-vindas quando bem construídas e não deixam margem para mais de uma interpretação e resposta, situação que já aconteceu”, pontua.

Tomemos, como exemplo, a prova de Ciências Humanas e suas Tecnologias, a qual é muito comum ter duas ou mais matérias em uma única questão. O professor de história Everaldo Chaves diz que há uma tendência ainda maior nas questões de história, que por sua vez, podem abordar assuntos de filosofia. “A gente observa muito isso quando a questão trata da Grécia Antiga e filosofia grega, bem como o iluminismo e filosofia moderna, filosofia absolutista. Então, realmente é muito comum aparecer no Enem questões nesse sentido. Esse padrão faz com que o aluno tenha uma visão mais completa, que ele entenda que as ciências se conectam”, avalia.

O professor também reforça que a lógica da resposta é sempre a mesma, ou seja, o próprio texto. E a dica, segundo ele, é a atenção na leitura, interpretar o texto, identificar o que o texto fala e tomar cuidado para não marcar o distrator. “O distrator normalmente é uma alternativa 'correta', que parece perfeita, mas que não tem uma relação com que o texto diz”, explica. Ou seja, a famosa ‘casca de banana’.

E já que estamos falando de história, filosofia e disciplinas afins, a professora Cristiane Pantoja traz uma questão do Enem de 2009 que tem muito a ver com o que estamos falando. Veja abaixo a resposta e o comentário da docente.

(Enem 2009) Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas”.







VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.

O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania:

a) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar.

b) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade.

c) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica.

d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais.

e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver os problemas da cidade.

Resposta: b) 

“É uma questão de filosofia que fala sobre cidadania ateniense. Falar sobre normas e valores sempre atenta para a época qual a pergunta indicará. Filosofia e História andam juntas. Ter uma questão sobre Aristóteles, cidadania, democracia também implica a história grega qual está na matéria História Antiga Clássica”, esclarece Cristiane Pantoja.

 

COMENTÁRIOS dos leitores