Ministro quer olhar questões do Enem antes da prova

Chefe do MEC afirmou querer ter acesso ao exame para evitar questões "ideológicas e subjetivas"

por Ruan Reis ter, 08/06/2021 - 14:49
Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo Ministro da Educação, Milton Ribeiro Rafael Bandeira/LeiaJáImagens/Arquivo

Estudantes que farão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 poderão encontrar uma prova diferente da habitual. Isso porque o ministro da Educação, Milton Ribeiro, em entrevista à emissora CNN, manifestou interesse em fazer parte da comissão que elabora a prova.

O ministro visa ter acesso ao conteúdo do exame para evitar, segundo ele, questões ideológicas e subjetivas. Ele objetiva que os estudantes, ao abrirem as provas, possam encontrar questões mais técnicas, deixando a subjetividade apenas para a redação. "Muitas vezes haviam perguntas subjetivas ou até mesmo de cunho ideológico, e isso nós não queremos, queremos provas técnicas que vejam e avaliem o aluno naquilo que ele sabe e que é necessário para ele poder acessar ensino superior", disse à CNN.

De acordo com Milton Ribeiro, os participantes do Enem estão sendo surpreendidos com questões que não avaliam exatamente o conhecimento necessário para ingresso ao ensino superior e a grande maioria dos brasileiros estão querendo uma alteração no conteúdo do vestibular.

Na entrevista, ele afirmou que o Enem não terá “questões desnecessárias" e citou como exemplo duas alternativas, uma sobre a diferença salarial entre os jogadores de futebol Neymar e Marta, e outra que abordava expressões associadas aos gays e travestis que, segundo o ministro, “a grande maioria do povo e dos alunos desconheciam".

A pergunta do Enem 2018 citada por Ribeiro, no entanto, não cobrava o conhecimento do que se tratava o pajubá, dialeto criado por gays e travestis. De acordo com o professor de português Diogo Xavier, a questão apenas exigia o conhecimento teórico sobre o conceito de língua e dialeto. “Essa questão não exigia que o fera conhecesse o dialeto pajubá, não exigia que ele conhecesse o vocabulário ou entendesse nada disso, a questão avaliava o  conhecimento teórico sobre o conceito de língua e dialeto. Mais do que isso, a própria alternativa trouxe o conhecimento necessário para respondê-la”, explicou o docente.

Questão 31 da prova amarela do Enem. (Reprodução)

O ministro da Educação compreende que a questão do Enem 2020, que comparava os salários dos jogadores Neymar e Marta, seria “desnecessária para avaliar o conhecimento de alguém”. Além dele, o presidente Jair Bolsonaro também criticou a alternativa e a chamou de “ridícula”.

Inep poderá realizar o desejo do ministro

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Danilo Dupas, afirmou, em entrevista à Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, nessa segunda-feira (7), que o ministro "de forma alguma disse que participará da elaboração" do conteúdo do Enem, mas que ele deseja ter acesso prévio do exame.

O desejo do ministro pode ser atendido. Dupas disse, em entrevista, que a equipe técnica do Inep vai avaliar essa questão. "Ele expôs um desejo, o desejo do líder máximo do Ministério da Educação de ter conhecimento prévio da prova. E, durante a fala dele, ele deixou claro que a equipe técnica iria analisar sobre essa viabilidade. Em momento algum ele falou em influência ideológica, ele falou em influência técnica, garantir que a prova seja realmente garantida tecnicamente", garantiu.

O presidente do Inep complementou: "A influência não é ideológica, é para resguardar que a prova tenha 100% de técnico. Como líder de um ministério é um desejo dele. Agora é a equipe técnica que vai avaliar".

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