Entre desfiles e passarelas: saiba como se tornar modelo

Veja dicas importantes para se tornar um modelo, seja comercial ou fashion

por Caio Moraes ter, 19/12/2023 - 14:18
Divulgação/ Emporio Armani Navegando entre desafios, modelo revela a verdade dos bastidores da moda Divulgação/ Emporio Armani

Trabalhar como modelo não é fácil. Glamourizada, a profissão proporciona os bônus, como vigens e reconhecimento internacional, além dos ônus, como o cansaço, as viagens contantes e mudanças de ambiente. Apesar disso, ser modelo ainda é sono de jovens e rapazes que se veem nas passarelas e estúdios fotográficos. 

Como começar

A primeira pergunta que vem à cabeça é como ser agenciado, ou seja, como começar a carreira mesmo sem ter conhecimento prévio do mercado. Segundo a agência TC Fashion, localizada em Pernambuco, para começar uma carreira de modelo, é crucial entender os perfis comercial e fashion. Enquanto os modelos comerciais podem ser de todas as idades para trabalhos variados, os modelos fashion seguem padrões internacionais, focando em passarelas e carreiras globais. Podendo atuar em publicidade, o modelo comercial pode atuar em fotos, comerciais de TV, também no cinema, na figuração, novelas, séries com figurante, além de pode fazer fotos também com marcas de roupa.

Embora o mercado local destaque modelos comerciais, há exemplos de sucesso para modelos fashion atuando nessa área. “Geralmente o modelo fashion é um modelo que segue um padrão de moda internacional, e tem que se adequar às medidas que o mercado internacional pede, que são meninas a partir de 16 anos, 1,75 de altura no mínimo, meninos a partir dos 16, com no mínimo 1,85 de altura, e até 24, 25 anos”,  detalha a TC Fashion.

Dicas importantes

Sabryna Oliveira é modelo desde 2022 e conta que é importante pesquisar bem as agências locais para evitar fraudes. A jovem recomenda que os interessados verifiquem a reputação online, entre em contato com modelos já agenciados e faça um casting para avaliação. Encontrar uma agência confiável interessada no seu perfil é essencial, pois nem sempre se encaixa nos requisitos de todas as agências, mesmo em castings internacionais.

“Teve muito casting de agência internacional que eu não passei porque a agência não era o perfil que eles estavam procurando. Acontece muito, mas você pode com certeza achar uma agência que queira o seu perfil, que queira vender o seu perfil”, complementa a modelo. 

Vontade interior 

A modelo Sabryna Oliveira, aos seus 20 anos, conta que sempre teve o desejo de ser modelo desde a infância, mas, devido a limitações financeiras, não pôde explorar essa paixão. Morando em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, a ideia de se tornar uma modelo parecia distante. A falta de acesso e conhecimento sobre o mundo da moda também dificultou a entrada nesse universo. Apesar de fazer cursos profissionalizantes por pressão da família, Sabryna sempre manteve o desejo de se envolver no mundo da moda, inspirada por figuras como Beyoncé, diz ela. A conexão com a moda começou na infância, com um desfile na escola, e desde então, minha paixão por ser modelo cresceu, impulsionada por diversas influências artísticas ao longo do tempo.

Campanha Emporio Armani 'Virtual reality experience FW 23/24'  Crédito: Divulgação/ Emporio Armani

Entre bastidores, revelando verdades e desconstruindo mitos

“Inicialmente, criei o mito de que a carreira de modelo seria fácil, mas percebi que é desafiadora e estressante, especialmente lidando com clientes e pessoas. O trabalho afeta emocionalmente, especialmente para quem está constantemente viajando. Um grande equívoco é pensar que todos os modelos estão enriquecendo, quando, na realidade, a remuneração varia significativamente. Alguns ganham bem, mas outros enfrentam dificuldades financeiras, dependendo da temporada e das oportunidades. O estresse psicológico, a distância da família e a pressão para ter sucesso são aspectos frequentemente subestimados na indústria da moda”, conta Sabryna.

Depois de trabalhar como modelo por um tempo e enfrentar a realidade da profissão, Sabryna completa: “Uma das grandes verdades na carreira de modelo é a incerteza do sucesso. Alguns modelos podem levar anos para obter uma oportunidade significativa, enquanto outros conseguem rapidamente. O realismo do book é crucial ao iniciar, destacando as variabilidades da profissão. Embora haja a possibilidade de se tornar uma modelo renomada, também existe a chance de enfrentar desafios. A perseverança é fundamental, e, pessoalmente, tive sorte ao começar do zero e já ter a oportunidade de viajar e morar em vários países. Reconheço a competição intensa, especialmente em lugares como Paris e Milão, onde conseguir desfilar na Fashion Week é extremamente desafiador devido à alta qualidade de modelos concorrentes”.

"Um equívoco é pensar que ser modelo é fácil e lucrativo. O trabalho envolve longas horas e o cachê varia conforme o cliente e o papel na campanha. Além disso, há mitos sobre altura em modelos comerciais, e a carreira exige investimento e comprometimento, sem garantias de sucesso fácil. A verdade é que a carreira de modelo demanda paixão e investimento, sendo única para cada agência”, diz a produtora e fotógrafa da TC Fashion, Andréa Franco.

O peso do padrão: Desafios na vida dos modelos

Além de estar longe de casa, longe da sua cultura, modelos enfrentam pressões intensas para se conformar a padrões inatingíveis de beleza. Essas expectativas muitas vezes resultam em desafios emocionais, afetando sua autoestima e bem-estar psicológico. Superar essas dificuldades torna-se uma jornada constante na busca por sucesso na indústria da moda, Sabryna relata que “A pior coisa que me assombra é relacionada ao meu peso. Eu engordei em Istambul, e quando você está no meio da moda, há padrões diferentes para todos os modelos. Apesar de haver mais espaço para diferentes tipos de corpos, a indústria em geral continua a mesma. Em Istambul, lutei para perder peso, consegui, mas quando cheguei em Milão com medidas acima do padrão, tive problemas com as agências. Essa situação estressou todo mundo e ainda me assombra. O mundo parece desabar quando você sai das medidas, e isso mexeu muito comigo, causando baixa autoestima. Perdi trabalhos por causa disso, e isso me deixou muito chateada. Passei meses mal, tentando emagrecer sem sucesso, o que mexeu com minha mente. Foi uma das piores coisas que aconteceram comigo este ano, realmente fiquei muito mal. A mente influencia o corpo, e isso foi terrível para mim”, adiciona.

A modelo também relata experiências como racismo, que afetaram muito seu psicológico durante seus castings (processo de seleção). “Acontece, principalmente em mercados asiáticos, enfrentar muito racismo, situações bem constrangedoras devido à cor da minha pele. Isso me afeta, especialmente em castings, como o que ocorreu em Istambul, onde fui rejeitada de forma dolorosa. Mesmo estando com outras modelos, me senti sozinha nesse momento. Embora eu compreenda a falta de contato com estrangeiros, essas experiências magoam de verdade’, relata.

"Nenhuma agência pode garantir trabalhos para modelos, pois a escolha é sempre do cliente. Durante o período de agenciamento (um ano), o modelo pode fazer vários ou poucos trabalhos, dependendo do perfil desejado pelos clientes. É crucial entender que o sucesso não está nas mãos da agência. Alguns modelos podem passar um ano sem trabalhar e só encontrar oportunidades após renovar seu contrato. A preparação é essencial, já que há seleções baseadas apenas em fotos ou que exigem vídeos de apresentação. Modelos fashion devem manter padrões específicos, enquanto modelos comerciais têm mais diversidade de perfis aceitos. Cuidados com a pele, cabelo e corpo são fundamentais, mas a preocupação com padrões é menos rigorosa para modelos comerciais", comenta Andréa Franco.

Desenvolvendo habilidades na moda: Experiência prática, Capacitação e Catwalks 

"As aulas de passarela que tive foram oferecidas pela agência após ser agenciada. Essas aulas, ministradas pelos bookers, eram ocasionalmente realizadas para os modelos aprenderem sobre passarela, polaroid, entre outras coisas. Em resumo, aprendi principalmente por experiência prática, tendo apenas cerca de três sessões para praticar a passarela e entender os fundamentos. Na passarela, é importante primeiro aprender o básico e, em seguida, incorporar a personalidade, mostrando uma marca única. A ideia é que os clientes e as marcas apreciem a autenticidade e a individualidade na passarela” explica Sabryna sobre a visão perante ao mercado.

Sobre como criar essa desenvoltura para as fotos em tão pouco tempo ela relata que é algo que você pode praticar por conta própria, tirando fotos no celular. “Antes de iniciar minha carreira como modelo, sempre fui muito vaidosa e gostava de tirar fotos. No início da carreira, fiquei nervosa porque achava que qualquer pessoa que tirasse uma foto minha me deixaria feia. No entanto, percebi que é uma questão de ângulo. Ao trabalhar com fotógrafos, é essencial criar um vínculo para entender poses e ângulos que valorizam a imagem. É importante analisar as fotos, experimentar diferentes ângulos e luzes para alcançar a perfeição. Conheço pessoas que praticam na frente do espelho, embora eu nunca tenha feito isso, é válido para entender preferências de ângulos e poses que funcionam melhor para cada um”, orienta. 

Em relação ao comercial, a produtora Andréa Franco afirma que não necessariamente precisa de um curso “Para o perfil comercial, 90% das pessoas que se escrevem na agência não têm curso, elas nunca fizeram curso, mas elas já têm uma desenvoltura para foto, gostam daquela área. E assim, temos na agência cursos voltados para essa parte de modelo comercial. É importante fazer, é, porque vai agregar, mas não é necessário, não é obrigatório, digamos, para atuar”, aconselha.

Então, o que é preciso para ser modelo?

Segundo Franco, qualquer pessoa pode ter perfil para comerciais, dependendo do desejo e da vontade de se envolver na área. No caso de crianças, é crucial observar se elas realmente gostam de fotografar, se respondem aos comandos e se sentem confortáveis tirando fotos. O mesmo se aplica a jovens e adultos, sendo necessário um gosto genuíno pela fotografia e pela área em geral. No entanto, a decisão sobre quem será selecionado para os trabalhos é tomada pelo cliente. Para modelos no perfil fashion, é essencial atender aos critérios de idade, altura e medidas estabelecidos pelo padrão internacional antes de serem avaliados pela agência.

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