Estreia da semana: O "making off documentado" de Glee
Filme expande temas abordados na série, como o orgulho de ser “loser”
Logo na pré-estreia do filme foi possível perceber o que faz de Glee um sucesso. Quando garotas de 11 anos falam que uma das melhores músicas da série é “aquela, como se chama, ‘Total Eclipse of the Heart’” (original de Bonnie Tyler, mas, quem se importa?), percebe-se que tem algo de muito positivo nesta série.
“É um musical mais atualizado, trata de histórias reais, não é que nem High School Musical. Todo mundo apóia Quinn quando ela soube que estava grávida” consente Vitorya Carolyna, de apenas 11 anos, que foi acompanhada por sua irmã, de 23. “Ela assiste 10 vezes se deixar, baixa na internet e fica escutando todas as músicas”, complementa Rebeca Camila, escolhida para “tutelar” a garota na sessão, mas que revela: “Eu também gosto das versões”.
Gravado em Nova Jersey, nos Estados Unidos, o filme, que tem um 3D admirável, segue com talvez um único erro: ser considerado um filme. “Glee live! 3D” é antes um misto entre uma apresentação musical, um making off dirigido e depoimentos de fãs que se identificam com a trama (e que se pretendem reais).
O diretor Kevin Tancharoen resolveu intercalar três desses depoimentos com as músicas: a história de um gay, que assumiu sua opção sexual ainda no colégio -por uma fatalidade do destino- e se identifica com o personagem de Chris Colfer na série, o Kurt; a anã líder de torcida que vence diariamente o desafio de se aceitar “do jeito que ela é” e acaba vencendo o concurso de rainha do baile do seu colégio, e uma garota com síndrome de Asperger, que encontrou em outros fãs da série amigos que nunca poderia ter. Em resumo: todos tiveram suas vidas drasticamente modificadas pelo enredo de Glee.
É como se Glee tivesse acompanhado o primeiro público de High Scholl Musical, que agora está bem mais crescidinho. “A série veio para mostrar o que a gente pode passar em um colégio de verdade” conta Mateus Andrade, de 13 anos, que foi a pré-estreia com mais duas amigas do colégio.
Então, o que sobra desse misto de “documentário dirigido” é o ponto forte da série: a música. Hinos como “Don’t stop believin’”, de Journey, o duo “Lucky”, de Jason Mrz e Colbie Caillat e “Born this way”, de Lady Gaga foram algumas delas. Destaques para as bem executadas “I’m a slave for u”, de Britney Spears, interpretada pela engraçada Brittany da série, a famosa “I want to hold your hand” dos Beatles, que ganhou conotação homoafetiva com a interpretação do personagem Kurt e a bem sucedida “Don’t rain on my parade”, brilhantemente interpretada pela cantora e atriz Lea Michele, que faz a Rachel da série.
O clube Glee foi ainda mais além: apesar de não ousar no figurino, assim como na série (as roupas são bem minimalistas, próximas ao cotidiano do público colegial da série) traz a participação especial da atriz Gwyneth Paltrow, que canta a divertida “Forget you”, de Cee–Lo Green com o pessoal do clube.
Mas apesar da série e do filme pregarem como sendo o máximo o jeito “loser” (perdedor, em inglês) de ser, há algumas falhas nessa iniciativa “politicamente correta”. Uma delas é o fato de os cantores principais serem Lea Michele e Cory Monteith (dois bonitões, que não ficariam em nada atrás dos mais populares do colégio); outra é a cena em que o personagem nerd Artie, interpretado pelo ator Kevin McHale, levanta da cadeira de rodas (?) e começa a dançar e cantar no palco; ou quando executa a canção “Fat Bottomed Girls”, que fala sobre um flerte com uma garota gorda, mas com quatro dançarinas de estereótipo “bonitonas” dançando em cima do palco.
Falhas comuns de uma série politicamente tentando ser correta.