Prêmio Shell pulveriza troféus e é palco de protesto

qui, 20/03/2014 - 13:10

A exemplo do que já havia acontecido no Rio, o Prêmio Shell de São Paulo pulverizou as premiações e não elegeu um grande vencedor. Cantata para Um Bastidor de Utopias foi a única peça a acumular dois troféus: melhor cenário, para Rogério Tarifa, e melhor música, por Jonathan Silva e William Guedes. Grande favorita da noite, Cais ou da Indiferença das Embarcações estava indicada para seis categorias (autor, direção, ator, cenário, figurino e música). Levou apenas o prêmio de melhor autor, para Kiko Marques.

Houve também tom de crítica durante a cerimônia. Lembrada como melhor atriz, Fernanda Azevedo, da peça Morro como Um País - Cenas Sobre a Violência do Estado, fez um protesto contra a empresa petrolífera que patrocina o prêmio. Em seu discurso, ela leu um trecho de um livro do autor Eduardo Galeano e relembrou um episódio de 1995, quando o gerente-geral da Shell da Nigéria explicitou o apoio de sua empresa à ditadura militar no país: "Para uma empresa comercial, que se propõe a realizar investimentos, é necessário um ambiente de estabilidade. As ditaduras oferecem isso". O espetáculo da Kiwi Cia. de Teatro, pelo qual Fernanda foi premiada, refletia sobre práticas ditatoriais e autoritárias em diversos contextos políticos.

Em 2011, a cerimônia do prêmio também foi palco de protesto. O grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica, que recebeu o troféu na categoria especial, manifestou-se contra a multinacional durante o seu discurso. À ocasião, os atores derrubaram óleo sobre suas cabeças. O restante da festa seguiu o tom de celebração, com a maioria dos prêmios voltada à produção do teatro independente e de grupo produzido na cidade. Na categoria melhor ator saiu premiado Chico Carvalho, de Ricardo III. Ele concorria com fortes candidatos, entre eles Cassio Scapin - muito elogiado por sua interpretação em Eu Não Dava Praquilo.

O grupo os Satyros foi agraciado na categoria inovação pela realização do evento Satyrianas. A companhia, que acaba de completar 25 anos, realiza a mostra anualmente, desde sua fundação. Em 2007, o evento já havia recebido o Prêmio Especial da Crítica da APCA - Associação Paulista dos Críticos de Artes.

Eva Wilma, que completou 60 anos de carreira, foi a homenageada especial da noite. Alguns dos momentos mais marcantes de sua trajetória foram lembrados. Eva foi aplaudida de pé. Em seu discurso, ela relembrou antigos companheiros de palco, como José Renato (1926-2011) e Sergio Brito (1923-2011).

Quem também recebeu homenagens durante a noite foi Paulo Goulart (1933-2014). "Perdemos uma grande referência e um amigo apreciado por todos", disse Renata Sorrah, que apresentou o evento.

A presença de Sorrah, aliás, arejou a cerimônia - usualmente morna, marcada por um tom excessivamente formal que destoa dos convidados da festa. Mesmo o carisma da atriz não foi capaz de dissipar a má impressão causada pelos textos que introduzem o anúncio dos agraciados em cada categoria.

Ano após ano, repetem-se descrições constrangedoras do trabalho dos profissionais. "Seria a vingança a roupa que se veste quente?", era o gracejo que abria a categoria figurino. Com "o deleite de um cenógrafo pode ser o delírio da plateia", foi descrito o quesito cenografia. "Como uma estrela que não planeja brilhar e brilha" surgiu como mote para o prêmio de melhor atriz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

COMENTÁRIOS dos leitores