Sem apoio, mestre Zeca do Rolete planeja desistir do coco

Renomado coquista pernambucano está em dificuldades e desabafou: “Vou parar, não estou aguentando mais”

por Paula Brasileiro qua, 21/02/2018 - 16:37
Chico Peixoto/LeiaJáImagens Chico Peixoto/LeiaJáImagens

São 74 anos de vida, 60 deles dedicados à cultura popular. José Galdino dos Santos, o Zeca do Rolete, é coquista de bisavô, avô e pai. A arte do coco de roda está em sua família há quatro gerações, e continua sendo repassada, através dos filhos e netos de Zeca. Hoje, ele tem o título de Mestre Griô, pelo Ministério da Cultura, disco gravado, uma turnê pela Europa no currículo e a admiração de seu público, porém, a dificuldade de manter o trabalho artístico, pela falta de apoio governamental e visibilidade, está fazendo o mestre pensar em parar.

Zeca do Rolete vive em uma casa simples, na comunidade do Tururu, em Paulista (Pernambuco), ao lado da esposa, SIlvânia Maria, e de alguns filhos e netos. Todos são  envolvidos no coco de roda e cada show é também, uma reunião familiar. Mas os palcos são apenas uma pequena parte da renda desta família, a subsistência vem mesmo da aposentadoria de Zeca e dos roletes de cana, que vira e mexe, ele ainda sai às ruas para vender e assim garantir mais uma renda, como quando era jovem: “Eu vivo pela misericórdia de Deus. Vou parar, não estou aguentando mais não”, desabafa.

O mestre coquista lamentou a ausência de seu nome nas programações oficiais do Carnaval do Recife e Região Metropolitana, em 2018, e diz ter feito apenas duas apresentações mas por conta de alguns contatos seus: “Eu tentei, pelas amizades que eu tenho, e ganhei um show no interior (em João Alfredo). Mas eu tive que tirar dinheiro do meu suor para poder ir. Em Olinda eu tive um show por causa do conhecimento que eu tenho.”  E acrescentou: “Eu tenho visto muita publicidade por aí, com meu nome, mas é só na teoria, na prática, não tem nada. Eles fazem um paliativo tão bonito que a gente fica até sem ter o que dizer”.

Reconhecendo a importância da sua contribuição na cultura popular pernambucana, Zeca demonstra indignação pela falta de valorização de seu trabalho: “Eu sou um dos representantes do coco aqui. Acho que o pessoal deveria dar um pouco mais de atenção. Isso dá um desgosto. Como é que eu sendo Griô, conhecido em todo canto, passei um ano dentro da faculdade federal ensinando o saber popular e aprendendo o saber científico e eu tô numa situação dessa?! Isso é egoísmo, é discriminação”, argumenta o mestre.

Zeca enumera o que precisa pagar a cada apresentação, como produtor, transporte e impostos: “A gente está pagando para tocar”, é sua conclusão. As dificuldades acabam desanimando o mestre e a vontade de largar o ofício de vida tem sido uma constante: “Eu tô com vontade de vender isso aqui, pegar minha velha, e ir pro interior, plantar minha banana, meu inhame, e deixar isso tudo de mão. Dá revolta. Não tenho necessidade de estar passando por isso.” A insistência na sua arte tem se dado por apenas um motivo, o amor pelo coco de roda: “Só continuo porque tá no sangue.”

COMENTÁRIOS dos leitores