Balé Popular do Recife pede socorro para continuar ativo

Com problemas financeiros e estruturais, a companhia lançou uma campanha de financiamento colaborativo para arrecadar fundos

por Paula Brasileiro ter, 22/05/2018 - 15:43
Reprodução/Facebook O Balé pede ajuda pela internet Reprodução/Facebook

No último domingo (20), o Balé Popular do Recife - companhia responsável por disseminar as danças e culturas populares de Pernambuco dentro e fora do Brasil - completou 41 anos de história. Mas, ao invés de comemoração, o aniversário foi marcado pelo vencimento de mais um prazo para quitação do aluguel do imóvel onde funciona sua sede, hoje atrasado em 50 meses. As dificuldades estruturais e financeiras da companhia se acumulam e, em um pedido de socorro para continuar atuante, foi lançada a campanha virtual Salve Balé Popular do Recife, com o objetivo de levantar fundos e sanar as dívidas da instituição.

Os problemas do Balé Popular do Recife começaram quando o número de apresentações diminuiu. A diretora artística da companhia conversou com o LeiaJá, por telefone, e explicou que as apresentações são a maior fonte de renda da instituição e que, através delas, o Centro Cultural Brasília - escola de dança do Balé -, atrai novos alunos: "A dificuldade em conseguir apresentações fez com que nossa escola tivesse uma diminuição de alunos, já chegamos a ter 500 e hoje, apenas 50. Não dá para fazer a manutenção da escola com esse número. Se a gente tiver apresentações, vai começar a vir gente e a gente poderá organizar nosso espaço."

Angélica também comentou sobre os obstáculos para colocar os espetáculos na rua: "É uma dificuldade nos teatros. Quando a gente procura um teatro o valor é muito alto para conseguir uma pauta". E fez questão de frisar que este não é um problema exclusivo do Balé Popular do Recife: "Não é só o Balé que vive essa realidade difícil. Muitos outros grupos terminam se desencantando e acabam por não ter um espaço, não ter apresentações. Não é só uma causa do Balé, é para toda a parte cultural do Recife."

Precisando de cerca de R$ 10 mil por mês para funcionar razoavelmente bem e arcar com despesas como aluguel, infraestrutura, salários de funcionários e elenco, o Balé procura por parceiros para dar continuidade às suas atividades: "Quando conseguimos atingir um mês, no mês seguinte ficamos torcendo para conseguir novamente. Então, tem mês que a gente não tem nada. Nós estamos atrás de parcerias. A gente precisa o mais rápido possível."

Estrutura

A sede do Balé, onde funciona a escola e os ensaios da companhia, na Rua do Sossego, bairro da Boa Vista, carece de reparos urgentes. Das três salas de aula, apenas uma está em condições de uso, as demais têm problemas como infiltração e, em uma, parte do teto desabou. O dinheiro arrecadado pela campanha virtual também será destinado para esta parte estrutural. "O que a gente deseja mesmo é ter um espaço próprio, é o nosso sonho. Não é só para a gente, é para o Recife, pro Brasil, pro mundo. Quantas pessoas de fora já vieram ter aulas conosco? Quantos bailarinos passaram por nós e hoje vivem da dança popular por conta do Balé, que levou a nossa riqueza pra fora", confessou a diretora artística.

Em março de 2018, o Balé Popular do Recife recebeu o título de Patrimônio Cultural do Recife. Porém, o título apenas homenageia a companhia, não havendo qualquer tipo de recurso atrelado a ele. Apesar disso, Angélica diz que a Prefeitura da Cidade do Recife tem ajudado na luta do Balé: "É a única que está nos dando apoio. O que ela pôde fazer de imediato foi ceder todo mês uma apresentação, para a gente começar a se organizar. Mas uma apresentação mensal apenas não cobre nossos custos".

A diretora artística acredita que a campanha possa ser o início de uma reviravolta na realidade do Balé e da Escola, e diz que as conversações com alguns empresários e possíveis parceiros já começaram. "O Balé não morreu. Continuamos ensaiando, vivíssimos, trabalhando em prol da cultura", assegurou.

História

O Balé Popular do Recife foi fundado em 1977, sendo assim um dos mais antigos e tradicionais do Brasil. Coma proposta de pesquisar e difundir a cultura popular, a companhia, criada por André Madureira, foi apadrinhada pelo então Secretário de Educação e Cultura do Recife, Ariano Suassuna. Seus trabalhos de pesquisa resultaram na dança brasílica, com a criação de passos e movimentos que resgatavam os festejos e folguedos populares do Nordeste brasileiro, também em sintonia com o teatro e a música.

Há 28 anos, o Balé mantém a Escola Brasílica de Expressão, com aulas e oficinas de danças como maracatu, afoxé, bumba meu boi, xaxado e reisado, entre outras. A escola já formou cerca de cinco mil bailarinos, muitos deles, já levaram a arte do Balé Popular do Recife para lugares como Estados Unidos, China, Europa e Oriente Médio.

 

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