O rock vai sobreviver ao ocaso de suas estrelas?

Com o envelhecimento das estrelas, surge a pergunta: o rock sobreviverá?

qua, 10/04/2019 - 12:07
Michael Hickey Mick Jagger durante um show dos Rolling Stones em Indianápolis, em julho de 2015 Michael Hickey

Mick Jagger acaba de passar por uma cirurgia cardíaca, Ozzy Osbourne adiou uma turnê após uma queda, Pete Townshend está quase surdo. Com o envelhecimento das estrelas, surge a pergunta: o rock sobreviverá ao ocaso?

Alguns grupos importantes como Black Keys e Killers, que acabam de voltar aos estúdios após anos de silêncio, conseguem manter a presença do rock no panorama musical atual.

Mas, de acordo com a consultoria Nielsen Music, nenhum representante do gênero apareceu no Top 10 do ano passado de artistas mais ouvidos na internet, uma lista dominada por nomes do hip-hop e R'n'B.

Até os organizadores de festivais, que durante anos reservaram espaço de destaque para o gênero, colocam cada vez mais o rock nos palcos secundários para dar passagem ao pop, rap, ou música eletrônica.

Como símbolo da mudança, o mítico Woodstock, que celebrará em agosto 50 anos de sua edição original com estrelas da velha-guarda como Santana, John Fogerty e a banda Canned Heat, recorreu a artistas do hip-hop, como Jay-Z, ou pop, como Halsey e Miley Cyrus, para atrair o público mais jovem.

Dan Ozzi, crítico musical da revista Vice, escreveu em 2018 um artigo com o título "O rock morreu, graças a Deus", no qual afirmou que "o gênero foi superado em todos os níveis, em termos de popularidade e rentabilidade, pelo pop, o hip-hop e a música eletrônica".

Muitas pessoas da indústria musical consideram os anos 1990 como a última era dourada do rock, com grupos como Nirvana, The Smashing Pumpkins, The Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam e Soundgarden.

Para Danny Goldberg, ex-empresário do Nirvana, o hip-hop se tornou o "principal vetor de expressão cultural da juventude".

Diante do pop e do hip-hop, um dos principais grupos de rock do momento, Greta Van Fleet, é considerado por vários críticos uma cópia ruim do Led Zeppelin, que exala nostalgia.

Jacqueline Warwick, professora da Universidade canadense de Dalhousie, acredita que o rock foi considerado por muito tempo o gênero dos "artistas sérios", mas isto não é mais verdade.

"O pop atingiu a vanguarda das expressões criativas realmente interessantes e importantes", explica. "E o rock virou uma espécie de dinossauro", completou.

Deanna Adams, autora de livros sobre o tema, afirma que quando os ídolos morrem, "choramos pela perda de sua música, os shows que não poderemos mais ver".

Mas ela considera que a influência do rock sobre os demais gêneros musicais provoca um ar de imortalidade.

"Não existiria metal, punk, ou hip-hop sem o rock", afirma. "O rock não vai morrer nunca, porque é um ramo amplo e sólido em uma árvore muito antiga e robusta", opina.

Alguns astros do hip-hop não escondem a herança que receberam do rock. Para Ice Cube, um dos membros fundadores do grupo californiano N.W.A, o rock "não é um gênero musical, é um estado de espírito".

"O rock não consiste em estar conformado com o que foi feito antes, e sim em traçar seu próprio caminho na música e na vida", declarou em 2016, quando o N.W.A entrou para o "Hall da Fama" do rock.

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