Músico paraense Reiner fala sobre um ano do EP “Breu”

Artista mergulha no experimentalismo e mistura música eletrônica do trip hop com os ritmos regionais da Amazônia

sex, 06/05/2022 - 17:49

O cenário musical paraense vem ganhando diversos nomes de destaque. Entre as novidades está o músico Reiner, que comemora um ano do lançamento do EP “Breu”, importante registro da musicalidade paraense.

“O meu primeiro contato com a música é desde muito pequeno. Lembro de pedir para tocar Renato Russo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Ramones", disse o artista sobre sua formação.

Aos 12 anos, Reiner começou a pesquisar música. "Eu escutava bastante Ramones nessa época e fiquei enchendo o saco do meu pai para me dar uma bateria para eu aprender a tocar, ao invés disso ele me deu um violão de náilon. Eu comecei a tentar aprender a tocar e desde do primeiro momento eu queria fazer as minhas próprias coisas, criar e tal”, contou o músico.

O EP “Breu” foi lançado em abril de 2021. Representa a descoberta do estilo musical de Reiner, uma mistura entre o trip hop e o regional amazônida. “O processo criativo de 'Breu' foi 100 por cento consciente de onde eu queria estar e o som que eu queria fazer. Eu fiquei três anos estudando trip hop, que é um gênero musical da Inglaterra no qual os caras desaceleravam o rap, o disco music, para fazer uma música mais introspectiva, meio psicodélica até. Basicamente eu fui atrás de tudo isso, toda essa história para fazer uma coisa que eu queria, que é pegar o trip hop como base do trabalho e misturar ele com música negra e música regional”, afirmou.

Reiner diz que, além dessa musicalidade na melodia, o trabalho também possui um discurso político muito forte que vem a partir de sua vivência trabalhando numa empresa. Além de músico, ele é engenheiro elétrico. “Eu tive uma experiência muito negativa nessa empresa. Acordava às 5 da manhã e chegava em casa 6 horas da tarde todos os dias e foi uma época que o governo Bolsonaro tinha acabado de chegar ao poder e a maioria dos trabalhadores de lá são bolsonaristas e eles não percebem o quanto de exploração que está sendo aplicada ali nesse cotidiano e que essa rotina aliena e impede essas pessoas de pensarem criticamente sobre diversos assuntos. Então isso me motivou muito a escrever músicas e a falar sobre o que eu queria falar e de cada vez mais estar alinhado à esquerda radical”, ressaltou.

“Eu passei muito tempo fazendo coisas e escrevendo músicas que não refletiam a musicalidade daqui. Eu queria negar isso durante muito tempo, depois eu fui entendendo que não tinha como eu fugir disso, porque eu acredito que o povo paraense é muito conectado à cultura tradicional e à cultura popular, o que é muito diferente de outras cidades do país”, contou Reiner sobre seu entendimento da cultura do Estado e também sobre si mesmo. Por muito tempo ele disse ter se enxergado como uma pessoa branca, até perceber que não se encaixava nisso nem na musicalidade que esse público produzia.

O músico também falou sobre a música amazônida e como ele a vê como um todo experimental. “O meu lance é que as minhas coisas não são óbvias, elas são bem conceituais, e eu vejo que tem uma porta muito fechada para o tipo de som que eu faço. A música que eu faço ao mesmo tempo que ela é daqui e ela é universal. Algumas coisas são muito fechadas, aqui dentro de Belém mesmo. No Brasil, chegar no público é difícil porque a distância física ainda é um empecilho muito grande pro nosso trabalho”, destacou.

Reiner vai lançar um single em breve com o cantor Rasec e um outro com Antonio de Oliveira. Ele disse que tem um disco a caminho para dar continuidade ao trabalho que o  “Breu” começou, com assuntos políticos, porém de maneira mais leve. “A gente está fazendo show todo mês e estou organizando alguns eventos com o Pratagy, a gente tem um selo junto, e a gente está promovendo eventos todos mês com artistas que a gente gosta. Na arte que está sendo feita aqui em Belém tem muita coisa para ser mostrada e muita gente para ser ouvida”, concluiu o artista.

Reportagem de Yasmin Ismael Seraphico (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

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