Os 10 anos do pentacampeonato mundial

Liderada por Ronaldo "o Fenômeno", Ronaldinho Gaúcho e pelo pernambucano Rivaldo, Brasil conquistava a sua última Copa em 2002

por Thiago Graf sab, 30/06/2012 - 00:48
Joel Calderon/LeiaJáImagens Copa de 2002 foi marcada pela redenção de Ronaldo, o fenômeno Joel Calderon/LeiaJáImagens

Faz dez anos. Pouco tempo para apagar da memória as lembranças daquele domingo de manhã. Era 30 de junho de 2002, dia em que o futebol brasileiro ampliava sua hegemonia perante as outras seleções, conquistando a sua quinta Copa do Mundo – disputada, pela primeira vez, em dois países: Japão e Coréia do Sul.

O Brasil vinha de um revés nada agradável contra a França, na final da Copa de 1998. Jogando em casa, os europeus golearam o time de Zagallo na decisão, aplicando 3x0, em um jogo em que os mistérios preliminares perduram até hoje em dia, sem respostas totalmente conclusas. Era também a oportunidade de redenção para os jogadores que fracassaram em 98.

O caminho não foi fácil. O primeiro problema estava no comando do time. De 1998 até 2002, quatro técnicos passaram pela chefia da seleção: Vanderlei Luxemburgo, Candinho, Emerson Leão e Luiz Felipe Scolari, que liderou a equipe até o final do mundial. O grupo brasileiro só conseguiu a classificação na última rodada, quando venceu a Venezuela por 2x0, com gols de Luizão, em partida realizada no Maranhão.

Após assegurar a vaga, começou outra fase: a convocação. O tempo era curto e o elenco precisava ser montado para iniciar os treinamentos. A maior dúvida era se Romário seria chamado. O baixinho marcou 26 gols pelo Vasco só no primeiro semestre e vivia esta expectativa. Mesmo com a imprensa e os torcedores pedindo, Scolari deixou o jogador de fora da lista e também não convocou o meia Djalminha, os dois por motivo de indisciplina e por não se encaixar no estilo da “Família Scolari”. As surpresas ficaram por conta de Vampeta e Kaká, que na época despontava no São Paulo.

Sobre a ausência de Romário, o técnico disparou no dia da convocação: “Ganhando ou perdendo, a escolha seria minha. Prefiro passar por bode expiatório, resolver com a minha cabeça do que com a dos outros e ser crucificado da mesma maneira. Não ganhou, está morto igual".

A lista geral foi a seguinte. Goleiros: Marcos (Palmeiras), Dida (Corinthians) e Rogério Ceni (São Paulo); zagueiros: Lúcio (Bayern Leverkusen), Roque Júnior (Milan), Edmílson (Olympique Lyon) e Anderson Polga (Grêmio); laterais: Cafú (Roma), Roberto Carlos (Real Madrid), Belletti (São Paulo) e Júnior (Parma). Do meio campo para frente, a seleção tinha os volantes Gilberto Silva (Atlético-MG), Kléberson (Atlético-PR), Vampeta (Corinthians); meias: Ricardinho (Corinthians), Juninho Paulista (Flamengo) e Kaká (São Paulo); atacantes: Ronaldo (Inter de Milão), Rivaldo (Barcelona), Ronaldinho Gaúcho (PSG), Denílson (Betis), Edilson (Cruzeiro) e Luizão (Grêmio).

O Brasil foi o cabeça de chave do Grupo C e ficou ao lado da Turquia, China e Costa Rica. A seleção de Scolari se hospedou na Coréia do Sul durante a primeira fase. No confronto de estreia, realizado dia 3 de junho de 2002, na cidade de Ulsan, a equipe canarinho venceu os turcos, de virada, por 2x1. Os gols foram marcados por Ronaldo e Rivaldo, após a marcação de um pênalti polêmico em cima de Luizão.

Na segunda rodada, em Sogwipo, o Brasil não teve muitas dificuldades diante dos estreantes chineses. A equipe fez 4x0, com gols de Roberto Carlos, de falta; Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. Mesmo com a vaga praticamente assegurada, o time não poupou esforços e aplicou outra goleada na terceira partida. A vítima da vez foi a Costa Rica, em Suwon. Com mais uma boa atuação do “Fenômeno”, que marcou dois gols, a seleção anotou 5x2 no adversário. Rivaldo, Edmilson e Junior fizeram os outros tentos. (foto: CBF)

Brasil x Bélgica: o primeiro mata-mata

Após a primeira etapa, o Brasil conseguiu aliviar a visão desconfiada dos críticos e dos torcedores, avançando com 100% de aproveitamento para a próxima fase. O adversário das oitavas de final foi a Bélgica, que deu muito trabalho para o time de Scolari e chegou até a marcar uma vez, mas o gol foi anulado.

Mesmo não jogando bem, a seleção ganhou o duelo por 2x0, no dia 17 de junho, no Wing Stadium, no Japão. Novamente, o pernambucano Rivaldo e o carioca Ronaldo foram decisivos. Eles marcaram os gols da vitória, garantindo uma vaga entre os oito melhores da disputa.

Inglaterra x Brasil – o padrão azul e o gol “sem querer”

Pela primeira vez no mundial de 2002, o Brasil jogaria com o seu uniforme número 2, o azul e branco. Os ingleses abriram o placar com um dos jogadores de maior destaque da época, Michael Owen, aos 23 minutos do 1º tempo, após falha do zagueiro Lúcio. O empate veio no último minuto da primeira etapa. Ronaldinho Gaúcho fez grande jogada, passou para Rivaldo e o pernambucano mostrou porque vestia a camisa 10, marcando um belo gol: 1x1.

Ronaldinho Gaúcho garantiu a virada. Ele cobrou uma falta da direita para a esquerda. Todos esperavam um cruzamento, mas a bola foi direto para o gol. Até hoje, o jogador diz que fez "de propósito", mas muitos discordam dessa tese. Veja o vídeo abaixo e tirem suas próprias conclusões:

Brasil x Turquia: Reencontro e “biquinho” de Ronaldo nas semifinais

Na semifinal, o Brasil reencontrou a Turquia - agora, em solo japonês. Se o jogo foi complicado na estreia, a dificuldade aumentou na luta por uma vaga na decisão. Motivados pela oportunidade de jogar pela primeira vez uma final, os turcos tiveram três chances de abrir o placar, mas não conseguiram. A partir daí, o Brasil cresceu no jogo e passou a desperdiçar boas jogadas.

Se ninguém resolvia, de novo brilhou a estrela de Ronaldo. Ele recebeu na intermediária, passou por um defensor, invadiu a área e, de bico, marcou o gol da partida, sacramentando a classificação brasileira para a sétima final de Copa do Mundo. O jogo também ficou conhecido pela marcação de quatro turcos contra o atacante Denílson. (foto: CBF)

Brasil x Alemanha: a redenção de Ronaldo e a consagração do pernambucano Rivaldo

A final era importante por quatro motivos: seria o penta brasileiro, a chance de minimizar o sofrimento da Copa da França, a redenção de Ronaldo após as lesões e poder calar o goleiro alemão Oliver Kahn, que provocou os brasileiros durante toda a semana da final.

O palco da final foi o International Stadium Yokohama, no Japão. (foto: WAKA77/Wikimedia Commons)

Defendendo a Inter de Milão em jogo contra o Lecce, Ronaldo sofreu as mais graves lesões de sua carreia, quando estourou o joelho. Muitos jornalistas e torcedores chegaram a apontar aquilo como o fim da carreira do jogador. Ele se recuperou e, cinco meses depois, voltou aos gramados, no dia 12 de abril de 2000, em uma das finais da Copa da Itália, frente à Lazio. O que era uma felicidade se transformou em tristeza. Após o primeiro lance, ele tenta o drible e cai com o joelho deslocado. 

Desacreditado, Ronaldo tornou-se a principal estrela da Copa. Era a chance de cumprir a promessa. “Se possível, daria minha vida pelo penta”, disse Ronaldo em 1998. Era um acerto de contas com a vida e com o futebol.

Rivaldo também foi um dos principais jogadores da Copa e dividia com Ronaldo a responsabilidade de conquistar o título. Eles não decepcionaram e tanto ele como Ronaldo foram os destaques do jogo.

No lance do primeiro gol, Ronaldo perde a bola e cai, mas se levanta, corre, rouba a pelota e passa para Rivaldo, que de perna esquerda manda para o gol. Oliver Kahn, que tanto havia falado durante a semana, falha e dá rebote - o “Fenômeno” só teve o trabalho de completar para o gol.

O segundo não demorou a sair e aconteceu também no segundo tempo. Em jogada rápida pela direita, Cafú lançou Kleberson, que passou para Rivaldo, na meia lua. O pernambucano fez um belo corta luz para Ronaldo, que dominou e chutou no canto direito de Oliver Kahn, sem chances de defesa, decretando o pentacampeonato brasileiro. Na comemoração, de braços abertos, o "Fenômeno" faz as pazes com o futebol definitivamente.

Para finalizar a conquista os brasileiros inovaram. O lateral direito Cafú, capitão da seleção, subiu no local onde estava a taça, e lembrou da esposa: “Regina, eu te amo”. A prova de amor ganhou repercussão mundial e foi o início das festividades do penta. Confira abaixo os gols da partida:

Ficha técnica da final

Brasil 2 x 0 Alemanha - Estádio Internacional de Yokohama (Japão)

Público: 69.029 espectadores

Árbitro: Pierluigi Colina (Itália)

Gols: Ronaldo (2)

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