O sofrimento da mãe de uma vítima de torcidas organizadas

Mães dos torcedores Lucas Lyra e Paulo Ricardo, Cristina Lyra e Joelma Valdevino conversaram com o Portal LeiaJá

por Nicoly Moreira dom, 11/05/2014 - 10:00
Chico Peixoto/LeiaJáImagens Joelma Valdevino, mãe de Paulo Ricardo sobre este Dia das Mães: "Não consigo nem imaginar como será" Chico Peixoto/LeiaJáImagens

“Espero que nenhuma mãe passe por esse sofrimento que eu estou passando”. Em poucas palavras, a mãe de Paulo Ricardo, Joelma Valdevino demonstrou que após os sete dias do assassinato do filho, a indignação e a saudade tomam conta do seu coração. Bastante emocionada a mãe de “Paulinho” ainda não conseguiu expressar em letras seu sentimento com a perda do filho, mas, sim, em lágrimas. Muitas lágrimas.



No dia do assassinato, Joelma estava em casa e recebeu a noticia por telefone, mas custou a acreditar que o fato fosse verdade. Em seguida, no enterro do jovem, apenas o choro demonstrava o sentimento. Foi vestida com a jaqueta de trabalho do filho, que era soldador de uma refinaria em Suape (na Região Metropolitana do Recife). Na missa de sétimo dia, o olhar mirava apenas o cartaz do filho no altar da igreja do bairro do Pina. No término da cerimônia, os familiares e amigos se uniram para abraçá-la, que permaneceu chorosa.

Apenas um fato conseguiu amenizar a tristeza: a prisão dos suspeitos pelo crime. Para Joelma, “os órgãos responsáveis estão cumprindo com

as obrigações”. E declara: “Apesar de saber que não teremos o Paulinho de volta, isso já mostra que a situação não vai ficar impune”, disse, rapidamente.  Nem ela mesma sabe expressar como será seu primeiro Dia das Mães sem Paulinho, neste domingo (11). “Não consigo nem imaginar”, finalizou e caiu no choro.



Dor compartilhada



Em 2013, quem sofreu com a dor da violência no futebol foi a mãe do jovem Lucas Lyra, Cristina (na foto abaixo). O torcedor do Náutico foi baleado na cabeça em frente ao estádio dos Aflitos pouco antes de um jogo entre o Timbu e o Central, pelo Campeonato Pernambucano. Diferente do caso de Paulo Ricardo, o acidente não foi fatal. O filho de Cristina Lyra ainda permanece hospitalizado depois de um ano dois meses e 25 dias do acidente.



Lucas já retirou o traqueóstimo e a sonda alimentar, mas a parte esquerda do seu corpo ainda não está respondendo bem ao tratamento. “Estamos aguardando a traqueostomia fechar. Esse procedimento será realizado espontaneamente. Depois disso, ele passará para recuperação motora em casa”, afirmou Cristina Lyra.



A mãe de Lucas reviveu os momentos de desespero com o filho, quando soube da morte de Paulo Ricardo. “Eu fiquei arrasada. No momento, percebi que a ferida estava aberta. Todos os momentos com o Lucas voltaram e reconheci que passei muito perto da dor que a mãe do Paulo está sentindo. Um sentimento que toca na alma da gente e que não tem palavra que simbolize. Infelizmente, nunca mais ela voltará a ser a mesma pessoa”, contou.



A dor da tragédia com o filho também não foi apagada. Cristina acredita que nunca mais ficará tranquila, caso Lucas resolva voltar a assistir um jogo em um estádio de futebol.  “Eu olho para ele e vejo os seus sonhos e projetos sendo adiados ou talvez ele nem tenha mais capacidade de vivenciar os planejamentos”, explicou.  “Ainda lembro-me da oração no dia do ocorrido, agradecendo a Deus pela confiança que Ele depositou em mim como mãe dele”, completou.



Na cama de acompanhante do hospital, ao lado do filho: é onde Cristina vai passar o Dia das Mães. “Os momentos que passo com ele são muito preciosos. Cada segundo que passo com ele são de extrema felicidade. Agora, o quarto dele é a minha segunda casa”, revelou.



Cristina Lyra espera das mães, que passaram por situações parecidas ou piores se lembrem, que seus filhos desejam que elas levantem a cabeça e sigam em frente. “O amor que nós sentimos pelos nossos filhos nunca vai deixar de existir. Esse sentimento extrapola todo o limite da razão e do conhecimento humano”, disse. E completou: “O conforto chegará um dia”.

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