'Íbis é feito cachaça, é um vício'

Depoimento é do presidente do 'Pior time do mundo'. Sem patrocinadores, sede ou centro de treinamento, o clube ainda é movido por colaboradores que trabalham por amor

por Martina Arraes ter, 18/07/2017 - 08:35
Chico Peixoto/LeiaJáImagens O que faz o íbis existir é a tradição familiar e a causa social, segundo Ozir Chico Peixoto/LeiaJáImagens

“Pior time do mundo”. Esse título fez com que o Íbis Sport Club, do Recife, se tornasse conhecido no Brasil e no mundo. O time passou quase quatro anos sem ganhar uma partida, na década de 80, justificando a titulação. Para completar, o maior ídolo do clube, o irreverente Mauro Shampoo, marcou apenas um gol em toda a sua passagem pela equipe, que durou oito anos. Com seus 79 anos de história, o time criado de forma despretensiosa resiste a todas as dificuldades e realiza um projeto social por meio das suas categorias de base.

O Íbis nasceu dentro da ábrica de Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco (TSAP), localizada no bairro de Santo Amaro, em Recife. Seu fundador, Onildo Erasmo Pires Ramos, montou o time com o propósito de servir como lazer para os funcionários da fábrica, mas depois a recreação acabou se tornando um clube profissional. O nome do clube e as cores foram inspirados no escudo da fábrica, era um pássaro preto envolvido pela cor laranja.

Desde então, a família Ramos sempre esteve à frente do Íbis. “O que faz o clube resistir até hoje é a tradição familiar, porque as dificuldades não são poucas, principalmente financeiras. Mas eu costumo dizer que o Íbis é feito cachaça, é um vício. Quem entra não sai mais”, ressaltou o atual presidente Ozir Ramos Junior, filho de Ozir Ramos, que também presidiu o Íbis, e neto do fundador Onildo. 

Sem patrocinadores, sede ou centro de treinamento, o clube é movido por colaboradores que trabalham por amor a causa. Além do time profissional, o Íbis realiza um projeto de futebol de base com as categorias Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-20. “É só a gente. Acabam os treinos, pego o material, levo para casa e mando lavar. As pessoas que trabalham comigo não recebem nada, são todos abnegados como costumo dizer. Os jogadores também, estão aqui para vitrine e para crescerem no futebol”, conta o presidente.

A última vez que o Íbis disputou o Campeonato Pernambuco da Série A1 foi no ano de 2000. “É uma disputa desigual. Por exemplo, em agosto o profissional vai jogar no Campeonato Pernambucano da Série A2 com o Porto, de Caruaru, que é um time de empresários. Vamos enfrentar Chã Grande, Pesqueira e Limoeiro que são patrocinados por suas prefeituras. A gente não. A gente vai por amor a causa, amor a camisa”, comenta.  

Segundo Ozir, a despesa é muito alta e a burocracia para poder jogar é cada vez maior. O que dificulta ainda mais a manutenção do clube. “Cada dia vai ficando mais difícil para um time ‘pequeno’ como o nosso, infelizmente. Nos jogos que somos mandante, por exemplo, o gasto é em torno de R$ 3.500. É arbitragem, ambulância, bilheteiro, taxas da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), entre outros gastos. Fora as viagens. A única coisa que recebemos de forma regular são os uniformes, que a Tronadon nos fornece apenas em troca de exclusividade da venda do material”, detalha.  

Apesar de ser conhecido como o pior time do mundo, o Íbis também teve seus momentos de glória. Abaixo, as vitórias do pássaro preto diante do Trio de Ferro do Recife, Náutico, Sport e Santa Cruz:

28/08/1947 - Íbis 5 x 4 Sport (Aflitos)

29/01/1948 - Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)

01/08/1948 - Íbis 5 x 3 Náutico (Aflitos)

30/11/1952 - Íbis 2 x 0 Sport (Ilha do Retiro)

16/06/1961 - Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)

18/07/1965 - Íbis 1 x 0 Santa Cruz (Aflitos)

10/05/1970 - Íbis 1 x 0 Sport (Arruda)

25/03/2000 - Íbis 1 x 0 Náutico (Aflitos)

“A fama pegou porque passamos quase quase quatro anos sem ganhar uma partida. Porém, foram apenas 13 jogos durante esse tempo. As competições eram curtas. A gente jogava dois meses e passava dez parado. Mas eu não acho ruim. Isso só trouxe coisas boas para o Íbis, somos conhecidos mundialmente”, avalia Ozir. 

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Íbis da zoeira

Outra fama já consolidada pelo Íbis é a de ser um time muito zoeiro, por causa das redes sociais do Ibismania. Jogadores e outros times de futebol que não estão em um bom momento  não passam despercebidos pelo administrador das páginas, o publicitário e estudante de jornalismo Nilsinho Filho. 

“A ideia surgiu em 2012, quando o jornalista Israel Leal criou o projeto para ajudar o clube a ter mais visibilidade e notícias na mídia, e me chamou para fazer parte. Criamos várias campanhas engraçadas que repercutiram na mídia e, em 2014, Israel e outro integrante, Márcio Constantino, saíram do projeto. De lá para cá consegui atrair 142 mil seguidores no Facebook e quase 70 mil no Twitter”, conta.

Nilsinho faz a cobertura de todos os jogos do Íbis e publica as informações em tempo real, com fotos e vídeos para o público poder acompanhar as façanhas do Pior Time do Mundo. “Faço tudo por amor e não recebo nada do clube. Minhas ideias são sempre ficar no pé dos times que perdem, lançando desafios e cutucando jogadores e treinadores que vão mal no momento” ressalta.

O publicitário explicou que o Twitter funciona mais como um portal institucional, no qual publica as notícias do clube e cutuca os times e jogadores do mundo do futebol. Já o Facebook é focado mais na zoação. “No Facebook o foco maior é brincar com Sport, Santa Cruz e Náutico”, diz.

Recentemente, a página do Twitter do Ibismania postou uma publicação provocando o São Paulo, que não vem muito bem no Brasileirão da Série A. O time está na zona de rebaixamento. Confira na imagem abaixo:

 

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