Cruzeiro não pagou babalorixá contratado para evitar queda

O clube mineiro ainda deve R$ 4 mil ao 'pai de santo' Reginaldo Pádua. Ele aponta que foi procurado no fim do ano passado por Zezé Perrella

por Victor Gouveia qui, 23/04/2020 - 11:32
Vinicius Silva/Cruzeiro Após a confirmação do rebaixamento, parte da torcida depredou o Mineirão Vinicius Silva/Cruzeiro

Na luta contra o rebaixamento para a série B, no fim do ano passado, os dirigentes do Cruzeiro apelaram para a fé e contrataram um babalorixá - conhecido vulgarmente como pai de santo - para salvar o clube da queda. O problema é que os serviços do religioso Reginaldo Muller Pádua não foram pagos e, por coincidência ou não, a raposa não conseguiu se livrar da degola.   

Com dificuldades dentro e fora de campo, e sob acusações de corrupção, o clube mineiro fechou um acordo de R$ 10 mil com o babalorixá, de 58 anos. Porém, apenas R$ 6 mil foram pagos em três parcelas até o fim de novembro. Já em dezembro, na 38ª rodada da série A, o Cruzeiro despediu-se da competição derrotado em pleno Mineirão por 2x0. O placar diante do Palmeiras deixou os torcedores furiosos e parte deles depredou o estádio.

Com acesso aos documentos que comprovam a negociação, o Uol Esportes apontou que a primeira transferência foi de R$ 2,5 mil e ocorreu no dia 16 de outubro de 2019. "Conforme nossos entendimentos e considerando os serviços prestados pelo Sr. REGINALDO MULLER PÁDUA ao Cruzeiro Esporte Clube em Brasília, solicitamos a fineza, de que seja pago ao mesmo, a importância de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais)", aponta o documento assinado pelo chefe do departamento técnico, Benecy Queiroz, endereçado à integrante do setor financeiro, Juliana Moreira.

Uma nova transferência, de R$ 3 mil, foi realizada no dia 13 de novembro, e o último pagamento ocorreu em 28 de novembro, no valor de R$ 500. Benecy não afirmou se a dívida foi totalmente quitada, mas confirmou a contratação. "É um serviço religioso realmente que foi prestado na época do Zezé Perrela, entendeu? Foi o Zezé quem solicitou", reforçou.

O próprio Reginaldo esclareceu que manteve contato com o ex-gestor de futebol Perrella e que, de fato, não foi pago integralmente pelo serviço. "Ficou entre eu e ele [Zezé Perrella], como isso chegou até você, não sei. Realmente, eles não mandaram para mim os R$ 4 mil, mandaram só R$ 6 mil. Quem vai poder falar direitinho é o Perrella", garantiu, ao reforçar que tentou entrar em contato com o dirigente por dois números diferentes, mas não conseguiu.

Por mensagem, Perrella negou qualquer envolvimento e disse que desconhece a contratação do pai de santo. No entanto, o então presidente, Wagner Pires de Sá, endossou as versões de Benecy e Reginaldo, e acredita que Zezé foi o responsável pelo contato com o babalorixá. "Não sei se alguém foi lá e contratou. O Cruzeiro não, o clube não. Tem gente que aprova, o Perrella, inclusive, gosta muito. O Cruzeiro não contratou. Não tem nada contratado. É o que chama de fake news", indicou.

Sobrou para o atual presidente, Dalai Rocha, assumir as dívidas da última gestão. Ele admitiu negociar "joias" da base para tentar retomar o equilíbrio financeiro do clube e criticou os antecessores. “Na última administração, o preço que pagamos foi alto demais. O dinheiro evaporou como se fosse álcool ao vento. Quem foi o responsável por isso deve estar arrependido, pois o preço foi alto. O cruzeiro está em uma posição perigosa e difícil. O Cruzeiro foi tão machucado, que hoje nas entidades internacionais sobre futebol, a estrela que a gente sempre venera, marca o case de corrupção mais saliente e importante, drástico, ocorrido no mundo. O nosso renome, hoje, simboliza o maior case de corrupção do futebol sul-americano”, avaliou.

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