Mesmo dormindo na fila, pacientes do HC ficam sem consulta

Falta de iluminação, infiltração, fios expostos, janelas e paredes quebradas, falta de manutenção e pacientes dormindo no corredor são outros problemas

por Roberta Patu qua, 04/03/2015 - 13:23

A expressão de cansaço e desalento de Maria Herculano, senhora de 60 anos, entreqa sua jornada desde a noite até tarde da quarta-feira (4), sem se alimentar e dormindo na área externa com a expectativa de ser atendida no Hospital das Clínicas de Pernambuco (HC). Moradora da cidade de Vitória de Santo Antão, Zona da Mata, a idosa afirma que precisa chegar 12 horas antes para garantir uma das senhas para a consulta.

Em entrevista ao LeiaJá, a idosa explicou porque chegou com tanta antecedência. “Fiz isso para garantir o atendimento. Quanto à dormida, fiquei por aí, na área externa na unidade de saúde. Passei a noite sentada, em pé até esperar chegar o horário de atendimento”, desabafou a paciente, que já não espera que a situação melhore. “Infelizmente sempre foi desse jeito e não acredito que vai mudar”, concluiu.

O comerciante Edenildo da Silva, morador de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, afirmou que as consultas demoram até dez meses para ser realizadas. Além disso, a marcação é um transtorno. “É um absurdo. Há dois anos fui atendido pelo urologista, e agora, a nova consulta vai demorar dez meses. Como podemos fazer a prevenção desse jeito. O tempo passa e a situação continua a mesma”, criticou.

Já a aposentada Maria Selma, moradora da cidade de Garanhuns, Agreste de Pernambuco, afirma que o ‘calvário’ é apenas para marcação de consulta. “Para conseguir a primeira consulta tive que chegar bem cedo quatro vezes, mas depois disso o próprio médico agenda e fica bem melhor”, falou. Aos 69 anos, ela relata, de maneira conformada, como é o atendimento. “Desde 1996 é desse jeito. Venho para o Recife porque em Garanhuns não tem estrutura e infelizmente tenho que passar por isso. Sinceramente, já estou acostumada”, concluiu.

Depois da longa espera a surpresa. Minutos antes de iniciar o atendimento, centenas de pacientes ficaram em frente da porta principal aguardando o posicionamento de um "vigia", escalado para dar o infeliz recado de que todas as marcações do dia tinham sido canceladas. Confira o vídeo.

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Questionados pelos pacientes, o vigia e uma outra funcionária não souberam informar o motivo do cancelamento. Segundo ela, dependendo da especialidade, o próximo agendamento, como ginecologia, só será no dia 30 de março. Ela ainda explicou que para marcar é necessário possuir encaminhamento de algum médico do próprio Hospital ou "através de algum médico conhecido".

Mesmo com a fachada nova, internamente o HC apresenta precariedade. Nas imagens cedidas, é possível observar falta de iluminação, infiltração, fios expostos, janelas e paredes quebradas, falta de manutenção e pacientes dormindo no corredor do aparelho de atendimento.

Segundo a coordenadora de comunicação do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais de Pernambuco (Sintufepe), Ellen Vilar, há várias denúncias sobre falta de estrutura do aparelho. “Ausência de material, como algodão, soro, seringa e luvas para fazer exames”, apontou. Além disso, ela destaca que há uma grande 'maquiagem' no hospital. “A fachada é linda, com porcelanato, portas de vidro, mas quando você entra, a estrutura está muito precária”, afirmou.

Ainda de acordo com a coordenadora, a paralisação, realizada na última terça-feira (3), durante 24 horas, ocorreu devido essas dificuldades e pela insatisfação da saída da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, que há um ano gere o hospital.

A assessoria do Hospital das Clínicas afirmou que "a marcação de consultas ocorreu de forma plena hoje". Porém, apenas para oftalmologia, já que cada especialidade tem uma data específica. Ainda de acordo com o HC - diferente do que informou a funcionária - os pacientes que vem para a primeira consulta são encaminhados por unidades de saúde, como postos de saúde e UPAs, regularizadas pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).

Sobre a espera dos pacientes pelo atendimento, o HC orienta que os pacientes se dirijam a uma unidade de saúde regulamentada pela SES, que conta com um sistema integrado, onde estão cadastradas todas as vagas disponíveis no Estado para as especialidades indicadas, o que pode acelerar o processo.

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