Em alerta, moradores de morros temem risco vindo do céu

Deslizamento de barreiras é medo constante em épocas de chuvas nos diversos bairros do Recife

por Naiane Nascimento ter, 19/04/2016 - 07:21

Ter o Recife aos pés e uma visão panorâmica da cidade parece privilégio, mas não é a realidade dos moradores do Alto José Bonifácio, Zona Norte da capital pernambucana, e de tantos outros cidadãos que moram em áreas de morro na Região Metropolitana. Em épocas de chuvas o clima de tensão toma conta das comunidades que vivem sob risco de deslizamento de barreiras, pois, caso a percepção de risco não for mantida, o final pode ser trágico.

“Quando começa a chover a gente não dorme. Fica todo mundo na porta de casa pronto pra correr quando o pior acontecer. Todo mundo fica em alerta, olhando para a barreira da frente e avisando um ao outro caso veja alguma coisa”, relata a moradora Kátia Maria. 

No último domingo uma barreira deslizou no Alto José Bonifácio vitimando um homem que não resistiu e faleceu. Essa foi a primeira morte registra por deslizamento neste ano. De acordo com Erick Andrade, chefe de divisão de engenharia da Defesa Civil e que trabalhava em operação no bairro, na segunda-feira (18), explicou que foi feita a remoção de entulhos, erradicação de árvores – e retirada de bananeiras -, colocação de lonas, notificações de reocupações irregulares, trabalho de percepção de riscos, além de vistorias. “A Defesa Civil também cadastra as famílias no serviço de SMS e quando a Apac emite alerta, nós enviamos a essas famílias uma mensagem informando sobre as providências a serem tomadas como a saída da residência e a procura de abrigos seguros”. 

No entanto, apesar da afirmação de operações permanentes realizadas pela Defesa Civil, as famílias do local informam que o trabalho de contenção de barreiras é feito, mas abandonado antes do fim. Assim como essa crítica a essas ações, o auxílio dado às famílias cadastradas pela Prefeitura do Recife também foi desaprovada. “A gente só recebe R$ 200 e com isso não dá pra pagar aluguel, luz e água. Há 14 anos eu espero uma casa prometida depois que derrubaram a que eu estava construindo. Eles falaram que estava em área de risco e eu ia receber outra. Espero até hoje”, Kátia desabafa revoltosa. Em visita ao local, o Portal LeiaJá encontrou diversos moradores que preferiram não relatar sua situação por medo de perder o auxílio dado pela prefeitura.  

“É muito tenso viver aqui. Pago essa casa, mas só uso quando faz sol. Quando chove eu vou para a casa da minha mãe porque aqui é muito arriscado. A barreira, no domingo, invadiu a casa da minha vizinha e invadiu o quintal da minha casa”, conta Edilson Rodrigues, auxiliar de sushiman. O rapaz explicou que quando a chuva começa a cair, os moradores abrem valas para que a água possa escoar e não mine as barreiras, evitando assim, as possibilidades de deslizamento, por conta disso, a população vive em situação de alerta o tempo inteiro. 

Situação de alerta

Sendo formado por 80% da sua área por morros, o município de Camaragibe emitiu estado de emergência. Para prevenir deslizamentos e acidentes, os locais de risco receberão geomantas e muros de arrimo. 

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