A cara de Belém: Hildely Porpino (Tieta), a feirante

A rotina difícil, os desafios, a cobrança e a esperança de quem vive há 30 anos no Ver-o-Peso

por qui, 11/01/2018 - 16:29

Hildely Maria Porpino, mais conhecida como Tieta, paraense, feirante, 56 anos, há 30 trabalhando com venda de refeições no complexo do Ver-o-Peso, mora em Icoaraci, distrito de Belém. Tieta acorda quase todos os dias às duas horas manhã para trabalhar (não trabalha na segunda-feira) e sai de casa por volta de três horas, para retornar somente no final da tarde. A rotina não é fácil, os desafios da profissão são muitos, mas ela garante que todo esforço vale a pena.

“Meu ex-marido era da Polícia Militar, trabalhava como cozinheiro. Vivíamos muito bem e na minha casa nada nos faltava, porém há tempos que ele já estava bastante descontente na PM. Na época, José Sarney era presidente da República e os salários estavam caindo, atrasando, logo meu então esposo pediu demissão e foi aí que os transtornos começaram. Eu decidi que tinha que trabalhar, minha sogra na época tinha um quiosque no Ver-o-Peso e eu comecei a frequentar o local com ela”, conta a feirante.

Tieta diz que o fato de o ex-marido ser cozinheiro não teve influência alguma na profissão dela. Ela explica que sua família tem descendência italiana e todos gostam muito de cozinhar, e que cresceu na cozinha da avó materna e da mãe.

Hildely Porpino é bastante conhecida por seus pratos diferenciados. Já participou de algumas edições do programa É do Pará, da TV Liberal, e do evento Ver-a-Boia, em 2016, um projeto para desenvolvimento turístico e gastronômico de Belém. No Ver-a-Boia, Tieta participou de cursos teóricos e práticos oferecidos pelo Sebrae.

Quando perguntada sobre a maior dificuldade que ela passou nesses 30 anos trabalhando como feirante, ela não hesitou em responder que foi não ter tido a oportunidade de estar presente na vida dos quatro filhos. “Me orgulho e amo o que faço, cozinhar é um dos maiores prazeres que eu tenho nessa vida e faço com muito amor. Porém o que me faz sentir um aperto e tristeza no coração é o fato de eu ter me dedicado tanto à minha profissão e não para meus filhos. Minha ausência se deu pelo fato de ter a obrigação de colocar a comida na mesa todos os dias. Da feira eu tiro o sustento da minha família e hoje, graças a Deus, meus quatro filhos são pessoas de bem e eles compreendem que todo meu sacrifício foi por eles”, desabafa Tieta, emocionada.

A boieira afirma que tem orgulho do que a cidade tem a oferecer, principalmente na área gastronômica, sabores, diversidades. Ela apenas cobra mais dos gestores que não atribuem o devido valor ao Ver-o-Peso, segundo ela. Tieta defende que a feira é uma fonte de riqueza cultural e política no Pará, e pede um olhar com mais carinho para o lugar.

Entre os diversos pratos exóticos que Tieta prepara estão o vatapá de açaí e a farofa de pirarucu com jambu. “O vatapá de açaí e a farofa de pirarucu com jambu são dois pratos que eu idealizei na teoria e logo foram para a prática, e fizeram o maior sucesso. Eu faço muitos pratos por encomenda, coxinha sem massa, somente com o recheio, caldos de tucupi com camarão ou caranguejo, para muitos turistas, inclusive do exterior”, acrescenta.

Tieta trabalha em um dos quiosques do mercado. O ambiente é simples, mas limpo, e bastante alegre, assim como o humor dela, com venda de café da manhã e refeições na hora do almoço. No entorno de sua barraca, os amigos confirmam a mulher guerreira que ela é. Apesar de sua luta diária não ser fácil, ela sempre leva um sorriso no rosto e muitas histórias divertidas para contar.

A feirante é bastante extrovertida e tem um ótimo relacionamento com os colegas de profissão. Conta piadas e até canta, e diz que dessa forma o clima permanece em paz, que é uma coisa que ela preza no seu ambiente de trabalho. “A Tieta nos ensina que, mesmo com dificuldades, devemos levantar as mão para o céu e agradecer pelo que temos. Ela é uma guerreira e aqui na barraca dela eu almoço quase todos os dias, é o melhor quiosque do Ver-o-Peso”, disse Aldo Vieira, colega e cliente de Hildely.

Para finalizar, Hildely Porpino, a Tieta do Ver-o-Peso, deixa um recado para a cidade de Belém. Ela deseja que a cidade seja reconhecida pelo melhor que traz de cultura e gastronomia para o Brasil e o mundo. Volta a mencionar as melhorias que precisam ser feitas no complexo, mas ressalta ainda que o dever de progresso da cidade das mangueiras está, também, nas mãos dos belenenses.

Por Ângela Reis. Vídeo: Joyce Cursino.

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