Um encontro de esperança e força na luta contra o câncer

Em Belém, quatro casais comemoram o Dia dos Namorados juntos e fortalecem os laços para enfrentar a doença

por qui, 13/06/2019 - 11:41

Pesquisa feita pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) em 2018 mostra que 29% das mulheres em tratamento contra o câncer consideram o companheiro como a principal fonte de apoio. Pensando nisso, o Centro de Tratamento Oncológico (CTO), em Belém, decidiu valorizar e incentivar os homens que apoiam suas mulheres na luta contra a doença. Médicos e funcionários indicaram pacientes e acompanhantes que vivem juntos a rotina de terapias e tratamentos para um jantar romântico de Dia dos Namorados. Cada detalhe foi pensado para que eles tivessem uma noite inesquecível.

O local escolhido foi o restaurante Buiagu, no hotel Atrium Quinta das Pedras. O cenário intimista ganhou uma decoração temática, com balões em forma de coração, mesas postas com capricho e até um cardápio personalizado para deixar a noite ainda mais prazerosa.

Na entrada do salão, os convidados foram recebidos com música. A violinista Thaís Carneiro e o violoncelista Arthur Alves apresentaram um repertório romântico, certeiro.

Os casais

Josylenne Silva e Paulo Braga já estavam noivos e planejavam o primeiro filho quando ela descobriu o câncer de mama, mas o diagnóstico não abalou o amor entre eles. "Ele tomou as rédeas de tudo, passou à frente e soube conduzir onde nós chegamos até agora. Ele é a minha rocha, a minha fortaleza", diz Josylenne.

Paulo se revelou um especialista em cuidar de pessoas. "Eu falei: poxa, sabe duma qualidade que eu tenho? Eu sei cuidar das pessoas. Eu falei pra ela: eu vou cuidar de você. Se você deixar, eu vou cuidar de você", conta Paulo, que também prometeu estar sempre ao lado da noiva. “Eu falei: vamos pra cima. Você vai olhar para o lado e vai me ver, você vai olhar pra frente e vai me ver, vai olhar pra trás e vai me ver, vai olhar pro seu lado direito e vai me ver. Se você tinha alguma dúvida, você nunca mais vai estar só na sua vida, em qualquer momento", garante.

Élida e Vítor Fleury são casados há 12 anos. A descoberta do câncer de mama foi meio por acaso. Ou por providência divina, acredita o casal. Élida viu nas redes sociais um vídeo de uma amiga batendo um sino, em comemoração ao fim do tratamento de quimioterapia, e, por causa disso e de uma dor no braço, resolveu fazer exames. Foi assim que ela descobriu um nódulo na mama. Hoje, Élida exalta o marido. "Eu não teria chegado nunca até aqui sem o apoio dele, tudo que ele fez por mim, ele foi fundamental. Ele foi a razão no momento em que eu era só emoção. Ele foi a pessoa que me colocou pra cima, que me fez acreditar, que eu ia vencer, que eu ia me curar."

Para Vítor, o diagnóstico precoce ajudou no tratamento, mas ele acredita que os dois teriam que enfrentar tudo juntos mesmo. "Eu acho que primeiro tem que ter muita fé em Deus e ter certeza de que os planos que Ele traçou, tanto pra vida da Élida, quanto pra minha vida, pra nossa família, os planos já estão traçados, entendeu? É uma pedra no meio do caminho. A gente tem que andar, tropeçar, cair e se levantar."

Outro casal que enfrenta o câncer com força, fé e muito amor é formado por Helcio e Elana Arruda. O apoio nos momentos mais difíceis foi fundamental para superar a doença. Elana lembra quando começou a perder os cabelos por causa da quimioterapia. “O cabelo é a moldura do rosto da mulher, é a vaidade da mulher, que gosta de estar no salão. Quando eu vi meu cabelo caindo, não caía pouco, caia um chumaço. Até quando eu fui tomar banho, caiu todo. Nós chorando, eu e o meu marido, fomos pro banheiro e eu disse: raspa tudo. Ele disse: tudo? Eu disse: tudo. Fiquei careca. Acabou o choro", conta.

Para ele, a esposa deu um exemplo de força. “Era o momento de ela entender que precisava se desprender um pouquinho mais da vaidade, que aquilo não é tudo na vida ou é muito pouco pra quem ama. No dia e na hora em que precisou tomar essa decisão, eu disse: eu vou raspar sua cabeça. Pequei o aparelho, raspei. E foi um aprendizado novo pra que a gente fortalecesse mais a relação", conta Helcio.

Paulo Carriço foi o único homem em tratamento convidado para o jantar de namorados. Ele e a esposa Enilda passaram a noite de mãos dadas e comprovaram ser um casal incansável no amor e na fé. "Ela é fundamental nisso tudo. Desde o momento em que nós tivemos a notícia da doença, ela reuniu as crianças, nossos filhos de 29 e 30 anos, e quando nós quatro estávamos unidos, ela disse: teu pai está com câncer e se tivermos que chorar, vamos chorar agora”, lembra Paulo, emocionado. “Desde aí, ela foi incansável no amor que a gente tem. Na verdade, quem tem Deus no coração, tem amor. E ela, ao longo desses três anos, tem sido incansável comigo", diz entre um carinho e outro da esposa. 

Enilda lembra que o marido já passou por duas cirurgias. “Na primeira cirurgia, eu fiquei não sei nem quantas horas na porta do centro cirúrgico. Ele saiu dizendo assim pra mim (sinal de positivo). Rindo, brincando, pedindo para bater uma foto dele. E aquilo me levantou mais ainda. Eu vi que o nosso amor ia conseguir tudo”, conta Enilda, que aconselha: “Não percam a fé. Deus não manda nada à toa pra gente. Sempre tem o lado positivo e o lado negativo. Não olhem para o lado negativo, olhem sempre ara o lado positivo, que vão sempre ter vitórias na vida de vocês", afirma.

Amor em versos

Os casais brindaram com espumante e, graças à cumplicidade dos maridos e da esposa, o momento foi ainda mais emocionante. Helcio, Paulo, Vítor e Enilda indicaram as músicas preferidas de cada casal para serem tocadas no momento do brinde e aí ninguém segurou as lágrimas.

A surpresa final foi o presente aos casais: um porta-retrato personalizado, com uma foto tirada de cada casal durante o jantar. Assim, todos puderam levar para casa o registro de uma noite inesquecível.

Por Dina Santos, especialmente para o LeiaJá.

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