Um em cada cinco brasileiros usa o celular enquanto dirige

Os motoristas que mais assumem esse comportamento de risco têm entre 25 e 34 anos e nível superior de escolaridade

por Nataly Simões seg, 24/06/2019 - 17:16

Dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2018 divulgados nesta segunda-feira (24) pelo Ministério da Saúde mostram que 19,3% da população das capitais brasileiras usam o celular enquanto dirigem, ou seja, um em cada cinco motoristas cometem essa infração.

Os condutores que mais assumem esse comportamento de risco têm entre 25 e 34 anos (25%) e nível superior (26,1%), com 12 anos de estudo ou mais. E as capitais que apresentaram o maior número de condutores que usam o celular ao volante foram Belém (24%), Rio Branco (23,8%) e Cuiabá (23,7%), seguido por Vitória (23,3%), Fortaleza (23,2%), Palmas (22,4%), Macapá e São Luís (22,3%). Já as com menor uso foram Salvador (14,1%), Rio de Janeiro (17,1%), São Paulo (17,2%) e Manaus (17,7%).

Apesar de os números serem expressivos, a especialista em segurança e educação no trânsito Roberta Torres salienta que ainda existem pessoas que não assumem que usam o celular enquanto dirigem ou que pensam que essa infração não gera nenhum risco. “A falta de atenção é um dos principais motivos dos acidentes de trânsito e em relação ao celular, o que as pessoas precisam entender é que se você estiver dirigindo a uma velocidade de 50 km por hora, por exemplo, ao pegar o celular para ver quem te mandou uma mensagem, você vai gastar em torno de três segundos. Nessa velocidade, o seu carro percorre 42 metros sem você enxergar o que está acontecendo na sua frente. É como dirigir completamente cego por quase meio campo de futebol”, explica.

Além do uso do celular associado à direção, a pesquisa revela que os acidentes de trânsito são a segunda maior causa de mortes externas no país. Somente em 2017, 35,3 mil brasileiros morreram em decorrência de acidentes no trânsito e 166.277 foram hospitalizadas. Os gastos com as internações chegaram a R$ 229,2 milhões.

Mudanças no Código de Trânsito Brasileiro

No início de junho, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) entregou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 3267/19, que altera trechos do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O texto propõe mudanças nas regras para obtenção e manutenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), como o aumento do número de pontos para sua suspensão e a ampliação de sua validade, além de acabar com as multas para quem transporta criança de até 7,5 anos sem cadeirinha e derrubar a obrigatoriedade do exame toxicológico para motoristas profissionais.

Roberta afirma que, se as mudanças propostas por Bolsonaro forem aprovadas, os índices de mortes e vítimas graves de acidentes de trânsito podem aumentar. “É isso que eu e outros especialistas tememos. Nós tivemos vários avanços com a publicação do Código de Trânsito Brasileiro, como a Lei Seca, os limites de velocidade, a melhoria do processo de formação de condutores, o uso do cinto de segurança, da cadeirinha, entre outros. Mas o que tem havido é um retrocesso em pontos importantes, indo na contramão das medidas orientadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo que estávamos conseguindo, ainda que timidamente, reduzir os números da violência no trânsito”, pondera.

“Essas propostas de desburocratização e de jogar a responsabilidade única e exclusivamente para a sociedade com o discurso de que ‘todo mundo sabe que é proibido isso ou aquilo’ ou que ‘quem deve cuidar da segurança do seu filho são os pais’, vai contra os princípios do próprio Código, que diz que o trânsito seguro é um direito do cidadão e um dever dos órgãos de compõem o sistema nacional de trânsito. Isso significa que cabe aos governos municipal, estadual e federal fiscalizar e investir em engenharia e educação. Algo que não acontece no Brasil há anos”, conclui a especialista.

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