Por que agosto tem essa fama de "mês do desgosto"?

Superstição, folclore e coincidências ajudaram a fazer desta época do ano um sinônimo de azar

por Alex Dinarte qua, 07/08/2019 - 16:05

As lendas sobre a maré de azar do mês de agosto são históricas. Do povo da Roma Antiga às grandes tragédias com nomes da arte e da política mundial, passando por outras catástrofes causadas por decisões de chefes de estado. Dos ditos populares famosos mundo afora ao folclore do sertão do Brasil, a maioria tem um mau agouro de agosto para contar. Superstição, energia negativa ou coincidência? O LeiaJá conta algumas das histórias e consulta um especialista para desvendar os segredos de agosto.

“Agosto é o mês do desgosto”. É o que se diz em muitas partes do mundo. Entre os antigos romanos, a visualização de um dragão que cuspia fogo nos céus durante o mês era considerada azarenta. O dito dragão era, na verdade, a constelação de Leão, que se apresenta no hemisfério norte durante o oitavo mês do ano. Já em Portugal, a má fama veio por causa das saídas de embarcações. As portuguesas não casavam em agosto pois era época de navios partirem em expedição. Os maridos iam, as deixavam sem lua-de-mel e, por muitas vezes, viúvas. Na Argentina, há quem acredite que agosto não é o mês de se lavar a cabeça, por trazer azar. É também agosto o período de maior incidência de raiva entre cães e outros animais, o que faz o mês ser conhecido como o “mês do cachorro louco”.

No Brasil, além das lendas interioranas e folclóricas, também há a questão religiosa. O ativista cultural e folclorista Roberto Marttini acredita que a reverência dos sacerdotes dos povos Banto e Nagô ao orixá Omolu pode ter influenciado a fama de agosto. “Essa divindade seria a responsável pelas mazelas da lepra, varíola e febres diversas, contudo seu culto também está ligado à cura, já que esse orixá, segundo a crença yorubá, tem o poder de livrar os seres humanos de todo tipo de doenças”, explica. Marttini também esclarece que esse culto ganhou força no final do século XVII. “As senzalas faziam danças e batuques para essa divindade, para se livrar das mazelas. Por isso a cultura de que o mês de agosto traz coisas e energias negativas avançou ao longo do tempo”, relata.

Marttini explica ainda que as pessoas normalmente passam suas crendices dos “maus agouros de agosto” de geração em geração. “Os saberes ancestrais influenciam de forma significativa grande parte da sociedade, somos suscetíveis a mudar datas de casamentos, entrevistas e até assinar contratos, devido a crenças passadas de geração em geração", declara.

Agosto também não é favorável para os políticos brasileiros. O então presidente da república Getúlio Vargas cometeu suicídio em 24 de agosto de 1954. Em 25 de agosto de 1961, “forças ocultas” fizeram Jânio Quadros renunciar à presidência e, em 1976, Juscelino Kubitschek, que havia sido presidente de 1956 a 1961, morreu em um acidente de carro. Pelo mundo afora, fatos históricos ocorridos em agosto também contribuem para a má fama que esse mês tem. Em 24 de agosto de 1572, Catarina de Médici autorizou a morte de mais de 30 mil protestantes na França, episódio que ficou conhecido como o massacre de São Bartolomeu. Hitler assumiu o governo alemão em agosto de 1932. No Japão, em 6 e 9 de agosto de 1945, as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram destruídas por bombas atômicas lançadas pelos EUA. Tudo isso sem contar os casos de artistas que morreram em agosto, como Marilyn Monroe (1962), Elvis Presley (1977) e Raul Seixas (1989).

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