Parada LGBTI 2019 de Belém marca 50 anos de Stonewall

"Vozes da diversidade": segunda reportagem da série mostra a manifestação que levou milhares de pessoas às ruas da capital paraense para cobrar respeito à comunidade LGBT

ter, 28/01/2020 - 09:06
Filipe Bispo/LeiaJáImagens Parada lembrou a revolta de Stonewall, nos EUA, para reforçar a luta contra a discriminação Filipe Bispo/LeiaJáImagens

O ano era 1969; 28 de junho. Os LGBTs de Nova Iorque, cansados de serem maltratados frequentemente pela polícia local, se uniram para resistir aos ataques. O conflito resultou na famosa Rebelião de Stonewall, principal símbolo de luta da comunidade, por ter sido a primeira vez que uma grande parte dos LGBTs enfrentou os opressores. O ato deu origem aos movimentos de celebração do orgulho LGBT e da batalha pelo respeito e dignidade.

A Parada LGBTI de Belém, que há 18 anos celebra o orgulho da comunidade e fortalece a luta na busca por direitos, teve como tema, em 2019, empregabilidade. O evento é organizado anualmente pelo Grupo Homossexual do Pará (GHP) e faz parte da cultura da comunidade.

Segundo pesquisa recente feita pelo grupo Santo Caos, 41% dos LGBTs brasileiros afirmam que já sofreram discriminação por sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho; 33% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBTs para cargos de chefia; 61% dos funcionários LGBTs no Brasil escondem a sexualidade para os colegas de trabalho; e 90% de trans (transexuais ou transgêneros) e travestis se prostituem por não conseguirem emprego.

“O tema da parada de 2019 é pertinente porque a nossa população é precária de serviço formal. Muitos de nós estamos no mercado informal, como na prostituição ou no empreendedorismo individual. Nós queremos a garantia dos nossos direitos e a inserção da comunidade no mercado de trabalho para termos acesso ao benefício em toda a sua legalidade”, informou Danilo Barbosa, um dos organizadores.

Eduardo Benigno, também da organização, explicou que a parada impulsiona as principais políticas públicas de proteção e promoção da comunidade, pois foi dessa forma que os LGBTs conquistaram seus direitos nas esferas estadual e nacional. “Esta é a primeira parada com o reconhecimento da LGBTfobia pelo Supremo Tribunal Federal (STF), então para nós tem um significado muito maior estar aqui hoje”, comemorou.

Para Isabella Santorinne, militante trans, a discriminação nas empresas em relação à empregabilidade é muito grande, principalmente para as pessoas trans. “Eu consegui adentrar o mercado formal, mas depois de dez anos tentando. É importante mostrar para as empresas que nós também somos qualificados para exercer qualquer função que seja atribuída a nós”, afirmou.

“A parada é uma manifestação política que representa a nossa resistência diária. É o momento em que a gente consegue reunir várias pessoas LGBTs que geralmente não estão em outros espaços. Se fazer presente aqui hoje é dizer que a gente não vai ter medo de ser quem a gente é, que a gente não vai ter medo de amar quem a gente ama e que nós vamos continuar sendo resistência como sempre fomos”, assegurou Rafael Carmo, trans.

Apesar do clima de comemoração, a escolha do padrinho da parada, vereador Mauro Freitas, do Partido Social Democrata Cristão (PSDC), deixou muitos membros da comunidade LGBT indignados. Um deles foi o estudante de jornalismo Marcos Melo, que gravou o vídeo “Cinco motivos para Mauro Freitas não ser padrinho da Parada LGBTI de Belém”, explicando que as atitudes do político são conservadoras, preconceituosas e não condizem com o que se espera de alguém que apoia a luta dos LGBTIs. “Se a gente traz esse discurso para dentro do nosso movimento, a gente acaba colocando uma bomba-relógio dentro de nós mesmos, e isso a gente não pode aceitar”, orientou o ativista.

Por Ana Luiza Imbelloni.

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