Cruzeiros em Noronha podem afetar ecossistema terrestre

A Ilha deve voltar ao circuito de grande embarcações. O presidente da Embratur afirmou que pretende instalar 12 pontos de recifes artificiais para atrair o turismo ambiental

por Victor Gouveia qua, 04/03/2020 - 10:57

Diante da iminente retomada de cruzeiros na Ilha de Fernando de Noronha, o biólogo marinho e integrante da ONG Ecoassociados, Hugo Rossiter, criticou a presença de grandes embarcações em um dos ecossistemas mais sensíveis de biodiversidade do Brasil. Ele destaca que, além do ambiente marinho, fauna e flora terrestres estão ameaçados com a grande movimentação de pessoas.

Há sete anos a Ilha não recebe cruzeiros regularmente, mas uma visita do presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Gilson Machado, junto ao senador Flávio Bolsonaro (sem partido), avaliou a liberação para fins turísticos. Para o biólogo, a presença de navios de cruzeiro em áreas de preservação e nos arredores do arquipélago aumenta a possibilidade de desastres. "Pode até ter acidentes em relação à hélices com golfinhos, tubarões e tartarugas, que são animais de grande porte, que a gente sabe da presença que têm na Ilha", apontou.

Além do alto risco de acidentes, a intensidade da movimentação de pessoas é proporcional à produção de lixo. Logo, os impactos estendem-se ao ambiente terrestre. "Vai afetar não só a fauna e flora marinha, mas também vai atingir os organismos da Ilha em si", complementou. O secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, José Bertotti, já havia criticado a medida e disse que esse tipo de visitação "não respeita a natureza".

De olho no turismo ambiental, Gilson Machado informou que obteve a aprovação da Marinha para instalar 12 novos pontos de recifes artificiais. A intenção é utilizar os naufrágios para atrair amantes do mergulho exploratório.

Hugo Rossiter reforça que tal medida é discutível. "Dependendo do material e como ele for manuseado, pode até afetar [o ambiente]. No casco de embarcações, por exemplo, pode ficar liberando material do barco que pode ser tóxico para os animais", concluiu.   

COMENTÁRIOS dos leitores