Alimentos ultraprocessados e seus perigos para a saúde

Nutricionistas comentam proposta do Ministério da Agricultura, que quer retirar do Guia Alimentar as restrições a alimentos como biscoitos recheados, refrigerantes e salgadinhos

por Alex Dinarte qui, 24/09/2020 - 13:36
Pixabay Alimentos ultraprocessados representam 18,4% das calorias ingeridas pela população do país Pixabay

Por meio de uma proposta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o governo federal sugeriu, na última semana, que o Ministério da Saúde fizesse uma alteração do Guia Alimentar para a População Brasileira. A nota técnica do Mapa recomenda que a pasta da Saúde revise o conteúdo da publicação e não apresente mais as restrições do consumo de alimentos ultraprocessados.

Publicado a partir do ano de 2014 pelo Ministério da Saúde, o Guia Alimentar considera maneiras de alimentação mais saudáveis para a população do país. No conteúdo, a cartilha recomenda o consumo de produtos naturais e desaconselha a ingestão de itens como batatas-fritas congeladas, biscoitos recheados, macarrão instantâneo (e o tempero), refrigerantes, salgadinhos, entre outros.

De acordo com a nutricionista Ariane Soares, os alimentos ultraprocessados em geral oferecem riscos à saúde por terem ingredientes compostos por como sódio, gorduras trans e saturadas, açúcares e outros aditivos.

“A grande quantidade de açúcar promove resistência à insulina, o que pode evoluir para diabetes. Já o sódio consumido em excesso pode propiciar hipertensão arterial. Gorduras do tipo trans e saturadas estão relacionadas ao maior risco cardiovascular e aumento dos níveis de colesterol ruim, além dos corantes e conservantes, que podem desenvolver alergias e disfunções metabólicas”, explica a especialista.

Segundo Ariane, além dos riscos à saúde, os ultraprocessados são pobres em fibras, vitaminas e minerais. De acordo com a especialista, o corpo ingere o que é necessário para o funcionamento independente da origem, no entanto a riqueza nutricional dos produtos in natura não se compara à dos produtosprontos para consumo. Para ela, a atual proposta de revisão do Guia Alimentar não traz benefício à população.

“É importante revisar se as orientações do Guia correspondem às mudanças alimentares da população brasileira, entretanto, não há ponto positivo em deixar de alertar sobre os riscos de consumir alimentos ultraprocessados”, opina. “O alerta orienta o consumidor a não se deixar ser convencido apenas pelo marketing do produto, que muitas vezes o apresenta como nutritivo, mas pela sua composição que comprova se há ou não a existência de ingredientes relacionados a agravos na saúde”, considera a nutricionista.

Diretriz alimentar

Outra especialista que não avalia a proposta de edição do Guia Alimentar como positiva é a nutricionista Marisa Diniz Graça. Para ela, em um país desigual como o Brasil, a cartilha deve ser uma diretriz para políticas públicas em benefício da alimentação saudável no país.

“O Guia foi o primeiro documento publicado no Brasil para indicar à população que devemos comer comida de verdade. Publicações anteriores tinham uma linguagem incompreensível para a maioria da população, abordando de uma maneira muito séria o impacto ruim do consumo de ultraprocessados na saúde das pessoas”, cita Marisa.

Ainda segundo a nutricionista, alguns fatores como a facilidade no preparo, o acréscimo de sabor propiciado pelos aditivos químicos nos produtos e a condição econômica da população são preponderantes para a elevação do consumo desse tipo de alimento.

“O consumo se deve à palatabilidade e à praticidade da receita de alimentos ultraprocessados que, às vezes, se tornam financeiramente mais viáveis para aquisição”, considera.

Consumo

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicada no último mês de abril, aponta que os ultraprocessados representam 18,4% das calorias ingeridas pela população do país. O mesmo estudo aponta que em 2003 e 2009, os produtos significavam respectivamente 12,6% e 16% do consumo calórico do povo brasileiro.

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