Mulher deixa situação similar à escravidão após 38 anos

Madalena Gordiano era explorada pela família Milagres Rigueira, de Patos de Minas (MG), desde 1982

por Alex Dinarte seg, 21/12/2020 - 15:54
Reprodução / TV Globo Madalena Gordiano, durante entrevista para o "Fantástico" (Globo) Reprodução / TV Globo

Foi preciso que vizinhos, na cidade de Patos de Minas (MG), desconfiassem dos bilhetes que a diarista Madalena Gordiano, 46 anos, deixava sob as portas pedindo pequenas quantias em dinheiro para descobrirem um caso de semelhante à escravidão que durou quase quatro décadas.

Uma reportagem do "Fantástico" (Globo), exibida no último domingo (20), mostrou que o Ministério Público do Trabalho (MPT) de Minas Gerais autorizou uma ação da Polícia Federal (PF) para resgatar Madalena de um apartamento em que vivia há 14 anos, na região central da cidade. Sob vigilância da família Milagres Rigueira, a diarista dormia em um quarto pequeno, sem ventilação e fazia todos os serviços domésticos, mas não recebia salários, nem podia sair de dentro do imóvel.

Segundo a denúncia, a história começou em 1982, quando Madalena, ainda criança, foi pedir comida na casa de Maria das Graças Milagres Rigueira. A mulher então pediu, junto à mãe da diarista, permissão para adotá-la de maneira extra-oficial. Desde então, a menina foi obrigada a deixar a escola e passou a executar diversos serviços domésticos, não tinha brinquedos, nem descanso e não era autorizada a sair de casa. Foram 24 anos trabalhando em condições semelhantes à escravidão na casa de Maria das Graças, e outros 14 com a família do professor universitário Dalton César Milagres Rigueira, filho de Maria das Graças.

De acordo com a investigação do MPT, Madalena foi casada com um tio de Dalton César que morreu e deixou uma pensão de quase R$ 8 mil. Além de responder pelo crime de analogia à escravidão e tráfico de pessoa, a família do professor universitário também deve ser indiciada por apropriação indébita pois, segundo o processo, o patrão não repassava nem 4% do valor que a diarista tinha direito dos rendimentos do ex-marido.

Liberta do apartamento no último dia 27 de novembro, Madalena passou a viver em um abrigo para mulheres vítimas de violência, toma conta do próprio dinheiro e já retomou os estudos. O processo contra a família Milagres Rigueira segue no MPT de Minas Gerais.

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