Ano novo: qual o significado para quem venceu a Covid-19?

Gratidão é um dos sentimentos relatados pela operadora de telemarketing Daleth Dantas, 24 anos, que renasceu ao superar o novo coronavírus

qui, 31/12/2020 - 18:41
Cortesia Daleth Dantas, 24 anos, passou dois meses internada devido a Covid-19 Cortesia

Saúde, amor e renovação. Esse é um dos vários desejos para a chegada de um novo ano dito por milhares de brasileiros, sobretudo para quem passou por um ano tão turbulento quando 2020. Assim também é para a operadora de telemarketing Daleth Dantas, 24 anos, que meio a pandemia da SARS Covid-19, infectada pelo vírus e sem saber o que o futuro reservava, afirma que o ano novo começou mais cedo e tem significado de renascimento e gratidão.

Moradora do bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, Daleth, que é estudante de jornalismo, diz ter sentido os sintomas do novo coronavírus em 13 de abril, logo no início da pandemia, durante o expediente na empresa que trabalha. “Neste dia, todos ao meu redor na sala de treinamento no trabalho estavam gripados e foram direcionados ao ambulatório da empresa e os que estavam se sentindo mal foram direcionados a procurar atendimento médico, como eu achava que era apenas uma crise não fui ao médico”, explica a operadora de telemarketing.

Após esse episódio, pensando ser apenas o princípio de uma gripe, Daleth foi para casa e a noite os sintomas foram mais fortes. “Quando chegou a noite o corpo amoleceu e começou a febre. E fui levada para a Upinha 24h Moacyr André Gomes na Avenida Norte, lá identificaram que eu era de risco estava mantendo contato com uma profissional de saúde, na época nem tinha os testes e eu só fiz por ser filha de profissional de saúde”, relatou.

Por ser filha da enfermeira Ana Dantas, 52 anos, Daleth diz que teve acesso facilitado ao exame para confirmar a infecção pelo vírus, realizado no dia 15 de abril, na unidade de saúde Mário Ramos, localizada no bairro de Casa Amarela, Zona Norte. No entanto, nos dias seguintes, o quadro de saúde da recifense piorou. “Era sábado, comecei a ficar letárgica (lenta ou esmorecida) e voltei ao Hospital dos Servidores do Estado (HSE), desta vez fizeram um raio-x e identificaram uma infecção no pulmão, mesmo assim me mandaram para casa”, relembrou com pesar.

Dias depois, Daleth voltou a ser socorrida, dessa vez ela não conseguia respirar e foi levada para o Hospital Agamenon Magalhães (HAM), que tornou-se a unidade de referência em atendimento aos contagiados pela Covid-19. Assim a operadora de telemarketing, que estava afastada do trabalho, foi internada e entubada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

“Lembro de perguntar o que a médica estava falando, minha mãe não quis responder e eu insisti até a médica me falar o que era. Daí eu me lembro de poucas coisas, entrei em coma induzido na madrugada do dia 22 e acordei no dia 1º de maio”, contou à reportagem do LeiaJá.

Ao longo do ano de 2020, enquanto ocorriam agravamentos do quadro de saúde de Daleth, o número de infectados pelo vírus também avançava. Com quase dez meses convivendo com a Covid-19, Pernambuco totaliza 222.166 casos confirmados da doença, sendo 29.377 graves e 192.789 leves, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), até o dia 31 de dezembro de 2020.

Após dez dias em coma induzido, respirando com ajuda de aparelhos, Daleth passou por mais momentos de incertezas. “De repente faltou ar. Não tinha mais ar. Tentei puxar o tubo no impulso, me seguraram e o ar voltou, seria a segunda parada... Na primeira eu passei quatro minutos desacordada, fizeram massagem cardíaca e usaram desfibrilador para me reanimar”, descreveu Daleth, com emoção.

Para a sorte e conforto da paciente, sua mãe Ana Dantas, pode manter as visitas mesmo em outro hospital. Um afago no coração de Daleth, mas que a maior parte esmagadora de pacientes não puderam desfrutar, devido às restrições impostas pela Covid-19. Até o último dia do ano de 2020, o Estado totalizava 9.654 mortes pelo vírus. No país, o Brasil contabiliza quase 195 mil mortes.

A recuperação e o nascer de uma nova vida

Mesmo depois de viver momentos de terror, agora, respirando e se alimentando por conta própria, Daleth conta que uma dor na perna esquerda ficou e essa sequela da Covid-19 permanece até hoje. “Comecei a me alimentar sem sonda e tive que caminhar na UTI, para ver se essa dor na perna não era com relação ao tempo parada. Mas a dor não passava”, explicou.

Daleth disse que a perna doía menos quando ela ficava sentada, mesmo com medicação. E assim passou mais um noite. “Informamos a médica do plantão que a dor não passava e suspeitaram de dor neuropática, passaram a medicação, eu dormi de novo sentada e chegaram para me buscar”, contou.

No dia 5 de maio de 2020, Daleth foi a primeira paciente a sair da UTI. “A dor foi embora, mas a não sensibilidade ficou e até hoje uma grande parte da minha perna esquerda não tem sensibilidade, eu não sinto nada além de formigamento… Eu não tive muito tempo para lidar com isso, eu só fui sobrevivendo”, detalhou a reportagem.

Apesar de todo sufoco vivido por Daleth, durante dois meses de internamento, o ano novo tem significado de gratidão. No entanto, na visão dessa jovem guerreira que venceu a batalha contra a Covid-19, “desde que eu saí do hospital pra mim já era ano novo”. Ela saiu do hospital no dia 12 de maio de 2020.

“Com a esperança da vacina para este ano (2021) que está vindo, o significado para mim é gratidão por eu conseguir ter permanecido, de Deus permitir que eu vencesse essa doença tão triste”, reforçou a recifense com entusiasmo.

E para 2021, Daleth só deseja voltar para faculdade - que seguiu trancada no sétimo período do curso de jornalismo-, viajar durante as férias, além de poder ir a um jogo do Náutico, seu clube de futebol do coração. “Vou comemorar o meu renascimento”, afirmou Daleth, que diz ter sido abençoada pela vida.

 

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