Fake News: medicamento Flutamida não cura Covid-19

Na última semana, voltaram a circular nas redes ‘fórmulas milagrosas’ contra a doença

seg, 22/03/2021 - 16:15
Marcelo Casal Agência Brasil Não há evidências científicas que comprovem que o uso do medicamento seja eficiente no tratamento contra a Covid-19. Marcelo Casal Agência Brasil

O fármaco Flutamida, frequentemente utilizado no tratamento do câncer avançado de próstata, é a nova aposta das 'fake news' que circulam nas redes sociais, propagando uma suposta ‘cura’ para a Covid-19. Em nota publicada na última sexta (19), o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) esclareceu que a notícia é falsa e alerta para o perigo de usar medicamentos não autorizados como alternativa para o tratamento de casos leves e graves.

As denúncias chegaram ao órgão através das redes sociais, por meio de formulário único que viabiliza a checagem de informações e alerta de 'fake news'. O caso do Flutamida tornou-se popular após um médico que atua no município de São Gabriel, no interior do Rio Grande do Sul, publicar um vídeo afirmando que o medicamento seria a cura para a Covid, doença que já causou a morte de 290 mil brasileiros. Na legenda das imagens, o profissional escreveu que “a Covid-19, como conhecemos, acabou! Flutamida a partir do 7⁰-8⁰ dia, com acompanhamento médico, nos casos que não evoluem para a remissão após a primeira fase!”.

No esclarecimento, o Cremers informou que não há evidências científicas que comprovem que o uso do medicamento seja eficiente no tratamento contra a Covid-19. Mesmo nos casos de pesquisa científica e clínica, há um rigoroso procedimento a ser seguido e que depende de autorização de diversas entidades, dentre as quais o Conselho Federal de Medicina (Resolução CFM n.º 1982/2012). O exemplo vale para outros fármacos sem comprovada eficácia.

Medicamentos usados para indicações não previstas em bula podem trazer riscos à saúde da população. Em 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu alerta sobre o uso da Flutamida de forma inadequada com destinação ao público do sexo feminino, para uso contra alopecia, hirsutismo e acne, causando o óbito de pacientes.

Medicações para uso off label

O Cremers divulgou, em julho de 2020, nota técnica que orienta sobre a viabilidade, durante a pandemia, de os médicos receitarem medicamentos para uso off label — o uso de drogas farmacêuticas que não seguem as indicações homologadas para aquele fármaco. Os princípios do Código de Ética Médica, de respeito à autonomia, de beneficência e de não-maleficência devem nortear as decisões clínicas. No entanto, o medicamento em questão já apresentou sintomas adversos que causaram o óbito de pacientes quando não usado para sua indicação medicamentosa.

“A prescrição de medicamentos é de inteira escolha e responsabilidade do profissional médico, desde que respeitados os preceitos da autonomia, da beneficência e da não-maleficência”, reitera o presidente do Cremers, Carlos Isaia Filho.

Tratamento experimental

O profissional aponta um estudo da sua própria autoria, sem publicação e revisão científica, como resultado do experimento. Segundo o vídeo, 300 pacientes receberam a medicação e outros 300 um placebo, sendo que 150 dos que receberam o placebo morreram e apenas 12 entre os pacientes tratados com flutamida vieram a óbito.

“A disseminação desse tipo de conteúdo têm preocupado a classe médica. Esse foi um tratamento experimental, não científico, que precisa ser averiguado pelos especialistas antes de informado á população sobre seu real benefício”, esclarece o vice-presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade.

O Cremers protocolou as denúncias recebidas e dará as devidas providências sobre o caso junto ao Ministério Público Estadual.

 

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