Mulher morre de Covid-19 após nebulização de cloroquina

Quadro de paciente seguiu piorando após receber a "técnica experimental"

qua, 14/04/2021 - 12:20
Reprodução/Google Street View A Secretaria de Saúde do Amazonas informou que tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos da rede Reprodução/Google Street View

Uma mulher de 33 anos morreu de Covid-19 após receber nebulização de cloroquina no Instituto da Mulher e Maternidade Dona Lindu, em Manaus-AM. A "técnica experimental" foi aplicada pela ginecologista e obstetra Michelle Chechter e o marido Gustavo Maximiliano Dutra. O caso foi divugado pela Folha de S.Paulo.

Jucicleia de Sousa Lira estava com Covid-19 e havia dado à luz ao primeiro filho há menos de um mês. Após a nebulização, o quadro dela seguiu piorando. Ela faleceu em 2 de março de infecção generalizada em decorrência da Covid-19, segundo o hospital.

O viúvo de Jucicleia, o auxiliar de produção Cleisson Oliveira da Silva, 30, diz que não foi consultado pela médica sobre a nebulização. Ele só soube que a esposa havia assinado uma autorização em 8 de abril. Ela concordou que fosse utilizada "a técnica experimental nebuhcq líquido, desenvolvida pelo dr. Zelenko", além de autorizar depoimento gravado na UTI e o relato do caso em revista científica. O documento não citava os possíveis efeitos adversos.

No vídeo gravado na UTI, Chechter induz Jucicleia a dizer que a nebulização está funcionando. A técnica foi criada pelo médico ucraniano-americano Vladimir Zelenko. Em abril de 2020, Zelenko passou a ser investigado por um procurador federal por ter mentido que seu estudo havia recebido respaldo da agência norte-americana que regula os medicamentos, a FDA.

Pelo menos outras três pacientes receberam a nebulização mesmo sem autorização, e todas morreram, segundo a Folha. Em um dos casos apurados, a médica teria entregado comprimidos de hidroxicloroquina a uma familiar de paciente em fevereiro e dito que o medicamento tinha o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas informou que o tratamento não faz parte dos protocolos terapêuticos da rede estadual e que "se tratou de um ato médico, de livre iniciativa da profissional, que não faz mais parte do quadro da maternidade, onde atuou por cinco dias." Segundo a secretaria, apenas duas pacientes receberam o experimento e ambas assinaram o termo de consentimento. A obstetra não se posicionou sobre o caso.

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