“Precisamos comer”, diz barraqueira da praia de Piedade

Maria de Fátima da Silva pede que a prefeitura de Jaboatão redistribua banheiros e chuveiros, que tornam algumas barracas mais atrativas do que outras

por Marília Parente qua, 28/07/2021 - 15:55
Julio Gomes/LeiaJá Imagens A barraqueira Maria de Fátima da Silva, que trabalha há 16 anos na praia de Piedade. Julio Gomes/LeiaJá Imagens

 Por volta das 12h, debaixo de um guarda-sol, a barraqueira Maria de Fátima da Silva, abre um sorriso. Apenas no início da tarde, uma segunda cliente recorre a seu estabelecimento, na faixa de areia da praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, para consumir uma água de coco, no valor de R$ 5.

“Até o fim desse mês, não vou fazer nem um salário mínimo, para dividir entre mim, meu marido, minha neta e meu funcionário”, lamenta. A barraqueira descreve o mês de julho deste ano como o de pior rendimento de sua história de 16 anos de atuação no local. Como se não bastassem a pandemia de Covid-19, o mês chuvoso e os dois ataques de tubarão registrados na praia nos dias 10 e 25 do mês de julho, a barraqueira agora teme que as políticas de restrição ao banho de mar adotadas pela gestão municipal em 2,2 km da orla prejudiquem ainda mais o negócio da família.

Em coletiva de imprensa realizada em conjunto com o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) na última terça (28), a prefeitura de Jaboatão dos Guararapes anunciou a instalação de 10 banheiros químicos no perímetro interditado, além de chuveiros públicos. A medida visa impedir que os frequentadores da praia usem o mar para fazer suas necessidades fisiológicas ou para higienizar o corpo. Essas, aliás, foram as motivações que levaram as duas vítimas mais recentes dos ataques a entrar no mar.

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“Acontece que os banheiros e os chuveiros ficam todos concentrados para o lado de lá, mais perto da Igreja. Aí agora os clientes só ‘pingam’ pra lá, porque aqui não tem essa estrutura. E a gente do lado de cá não tem barriga? Precisamos comer, levar o pão para casa. Se a restrição do banho de mar é pra todo mundo, por que os banheiros também não são?”, questiona Maria de Fátima, que tem seu negócio estabelecido a cerca de 100 metros da Paróquia de Nossa Senhora de Piedade, onde ocorreram 14 ataques desde 1992.

Aos 60 anos de idade, Maria sustenta a neta, o filho e o esposo, que convive com problemas cardíacos e pulmonares, com os rendimentos da barraca, trabalhando de domingo a domingo. “Essa pandemia já tinha acabado com a gente, depois voltaram os ataques. Agora, muitas barracas só funcionam no final de semana, porque não está compensando. Com o que vou tirar esse mês, não pago nem o depósito para guardar as coisas”, lamenta.

De acordo com Maria, a família só conseguiu se alimentar adequadamente em razão de duas cestas básicas, uma delas cedida pela prefeitura municipal. Apesar disso, com a redução do valor do auxílio emergencial, a água de sua residência, localizada no bairro de Prazeres, foi cortada.

“Espero que o prefeito tenha dó da gente e espalhe esses banheiros, para ver se os clientes vêm. Estou abalada demais, com os nervos à flor da pele, porque os compromissos não esperam, nem os juros. Quem nos vê de longe, pode pensar outra coisa, mas só a gente sabe onde o sapato aperta e o calo dói”, conclui.

Por meio de telefone, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Jaboatão se resumiu a informar que a restrição é recente e seus pormenores ainda estão sendo avaliados. Na tarde desta quarta (28), a gestão municipal se reúne com os barraqueiros para discutir as medidas.

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