Talibãs dispersam com tiros manifestação em Cabul

Com gritos de "mulher, vida, liberdade", 25 mulheres protestaram durante 15 minutos na rua diante da embaixada do Irã

qui, 29/09/2022 - 07:24
Wakil KOHSAR Talibãs dispersaram com tiros para o alto uma manifestação de mulheres diante da embaixada do Irã em Cabul em apoio às iranianas Wakil KOHSAR

Os talibãs dispersaram com tiros para o alto uma manifestação de mulheres diante da embaixada do Irã em Cabul em apoio às iranianas, com as quais afirmam compartilhar a mesma luta.

O Irã foi abalado nas últimas semanas por protestos após a morte da jovem Mahsa Amini, que havia sido detida em Teerã pela polícia da moral da República Islâmica.

Com gritos de "mulher, vida, liberdade", 25 mulheres protestaram durante 15 minutos na rua diante da embaixada do Irã. Elas foram dispersadas pelos tiros para o alto dos combatentes talibãs mobilizados no local.

Os guardas também tentaram agredir as manifestantes, segundo os correspondentes da AFP.

As mulheres exibiam cartazes com frases como "Irã levantou, agora é a nossa vez" e "De Cabul ao Irã, diga não à ditadura"

Os talibãs rasgaram os cartazes diante das manifestantes.

As mulheres, algumas de óculos escuros e máscaras, recolheram os cartazes rasgados e formaram bolas de papel para jogar nos talibãs.

Os homens armados também ordenaram que os jornalistas apagassem as imagens dos protestos.

O Irã é cenário de protestos todas as noites desde 16 de setembro, data da morte de Mahsa Amini, de 22 anos, três dias depois de sua detenção pela polícia da moral por supostamente violar as regras severas impostas às mulheres sobre as vestimentas na República Islâmica, onde devem cobrir o cabelo em público.

"Estamos aqui para mostrar nosso apoio e nossa solidariedade a povo iraniano e às mulheres vítimas dos talibãs no Afeganistão", declarou uma das mulheres na manifestação de Cabul, que pediu anonimato.

- Normas muito rígidas -

Desde o retorno dos talibãs ao poder em agosto de 2021 foram registradas manifestações esporádicas de mulheres na capital afegã e em outras cidades do país, apesar da proibição, seja pela perda de emprego ou para exigir o direito ao trabalho.

Algumas foram foram reprimidas com violência e as ativistas que convocaram protestos foram detidas pelos talibãs.

Após 20 anos de guerra e da saída do exército americano do Afeganistão, o novo governo do país impôs regras muito rígidas para as mulheres, com a exigência do uso de véu integral em público, de preferência a burca.

Também decretaram a separação de homens e mulheres nos parques públicos de Cabul e proibiram a presença das mulheres nas escolas do Ensino Médio na maioria das províncias.

O temido ministério para a Propagação da Virtude e a Prevenção do Vício substituiu a pasta dos Assuntos da Mulher.

Em 10 de setembro, dezenas de jovens protestaram em Gardez, leste do país, quando constataram o fechamento de suas escolas, que haviam sido reabertas uma semana antes sob pressão das alunas e dos líderes das tribos.

Um relatório da ONU denunciou as "restrições severas" impostas aos direitos das mulheres, especialmente no que diz respeito ao Ensino Médio, e pediu aos talibãs a revogação "imediata" da medida.

A suspensão das restrições é uma condição essencial para o reconhecimento oficial do governo talibã, reitera a comunidade internacional.

Até o momento, nenhum país reconheceu o governo talibã.

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