Barusco confirma propinas na Petrobras desde 1997

Ex-gerente-executivo da estatal disse que pagamento ilegal começou na década de 90, mas não precisou como era o esquema

por Dulce Mesquita ter, 10/03/2015 - 13:39
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados Barusco explicou aos deputados que a propina era transferida para o exterior Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Primeiro depoente da CPI da Petrobras, o ex-gerente-executivo da Diretoria de Serviços da estatal, Pedro Barusco, confirmou, nesta terça-feira (10), o recebimento de propinas desde 1997, período do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, a propina paga pelas empresas contratadas pela Petrobras variava entre 1% e 2% dos valores dos contratos.

“Comecei a receber propina em 1997, 1998. Foi uma iniciativa minha, pessoal, com um representante comercial da empresa”, disse ele, apesar de não querer dar mais detalhes de como era o esquema nesse período. “Existe uma operação em curso e eu me reservo o direito de não comentar", justificou. Durante o depoimento, ele considerou que a propina passou a ser “institucionalidade” num período posterior. “De forma mais ampla, em contado com outras pessoas da Petrobras, a partir de 2003, 2004. Não sei precisar a data”, pontuou.

Ainda segundo ele, o montante desviado dos grandes contratos era dividido em duas partes: a metade iria para dirigentes da própria Petrobras e a outra metade para o PT, embora também sabia do envolvimento do PP e do PMDB. Os ex-diretores Renato Duque, Jorge Luiz Zelada e Roberto Gonçalves foram citados como pessoas que teriam recebido propina. Já a parte que cabia ao PT seria entregue ao tesoureiro, João Vaccari Neto. "Eu estimo que a parte do partido tenha sido entre US$ 150 e 200 milhões, mas não posso afirmar que o PT tenha mesmo recebido esse dinheiro e nem como. Se foi doação oficial, se foi conta no exterior. Sei que existia uma quantia de propina para o PT”, frisou.

Barusco explicou aos deputados que a propina era transferida para o exterior. "Alguma coisab foi recebida em espécie no Brasil. Mas nunca paguei ou transferi recurso para ninguém", declarou. Para ele, a governança da estatal sempre foi boa. O problema estava na formação de cartéis externos.

Ele confirmou todas as informações prestadas em delação premiada à PF e retificou apenas que recebeu cerca de US$ 97 milhões em propinas de 2003 a 2011, quando trabalhava na Petrobras, e de 2011 a 2013, período em que ocupou uma diretoria na empresa privada Setebrasil, constituída para construir sondas de perfuração do pré-sal e financiada com recursos públicos – do BNDES e fundos de pensão.

Arrependimento

O ex-gerente disse estar colaborando com as investigações da Polícia Federal por estar arrependido dos crimes cometidos. "É um caminho que não recomendo para ninguém. É muito doloroso. Este é um caminho que não tem volta”, destacou. Ele também afirmou ter feito acordo para repatriar US$ 100 milhões que havia desviado para contas na Suíça. "Esse repatriamento que estou fazendo agora me dá um alívio", disse. ”Eu tive a fraqueza de começar. Primeiro, eu fiquei feliz com as contas no exterior e isso virou um pânico. Depois, foi quase um estado de apavoramento”.

COMENTÁRIOS dos leitores