A avalanche e o perigo das fake news

Órgãos da Justiça estão de olho na propagação de notícias falsas. Há suspeitas de pessoas contratadas apenas para disseminá-las

por Taciana Carvalho qua, 17/10/2018 - 18:28
Bruno Fortuna/Fotos Públicas Bruno Fortuna/Fotos Públicas

A grande maioria dos brasileiros já ouviu falar durante a disputa eleitoral deste ano sobre “fake news”, termo em inglês que significa “notícias falsas”. A propagação de informações não verdadeiras tem despertado não apenas um debate entre a população, como também um alerta por parte da Justiça Eleitoral ao ponto da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, marcar uma reunião nesta quarta-feira (17), com os coordenadores das campanhas dos candidatos a presidente Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) com o objetivo de discutir as que estão sendo veiculadas nas mídias sociais. 

A avalanche das fake news tem sido tão evidente que, de acordo com o vice-procurador-geral Eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros, a Procuradoria está investigando suspeitas de que pessoas foram contratadas no primeiro turno da eleição para divulgar fake news contra candidatos opositores. Ele alertou para o fato de que “difundir propaganda negativa é crime”. Medeiros chegou a falar sobre “um esquema industrial de produção de mentira”. 

Uma reportagem do El País mostra um número alarmante. De acordo com a reportagem, o veículo de comunicação se inscreveu em três grupos públicos de WhatsApp formado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL). Segundo a matéria, juntos, eles teriam publicado mais de 1.000 mensagens ao dia e em dois deles a presença de fake news estariam mais evidentes como a do boato de que as urnas eletrônicas no Brasil já foram fraudadas. 

Na manhã de hoje, o opositor de Bolsonaro, o candidato Fernando Haddad (PT), em São Paulo, durante um ato com mais de 200 lideranças evangélicas, distribuiu uma “Carta Aberta ao Povo de Deus” no qual esclarece mentiras espalhadas entre a classe evangélica. Um trecho do documento destaca que “nenhum de nossos governos encaminhou ao Congresso leis inexistentes pelas quais nos atacam: legalização do aborto, kit gay, taxação de templos, proibição de culto público, escolha de sexo pelas crianças”. 

Entre as polêmicas mais recentes envolvendo o tema, o ministro Carlos Horbach, do TSE, determinou que Bolsonaro retire seis publicações no Youtube e no Facebook no qual o capitão da reserva faz críticas ao livro “Aparelho Sexual e Cia”, chamado pelos adversário de ‘kit gay’. De acordo com o candidato do PSL, o livro foi distribuídos em escolas públicas na época em que Fernando Haddad (PT) comandava o Ministério da Educação (MEC). Por sua vez, o órgão negou produzir e distribuir o livro. 

A cientista política Priscila Lapa ressalta que houve uma mudança de estratégia dos candidatos no final da campanha e, por isso, existe um discurso mais agressivo. “Essa geralmente é uma tendência que existe em campanha de no início ter um tom mais propositivo e de apresentação do candidato e depois ela vai migrando para um tom de troca de farpas e de desqualificar o adversário na tentativa de não apenas confirmar as suas intenções, mas também de tentar tirar votos do oponente”, explicou. 

Lapa afirma que o tom mais contundente dos candidatos também se deve a um alto grau de insatisfação e descontentamento que o eleitorado tem demonstrando com as administrações de gestores públicos. “A crise econômica também gera um cenário de maior apreensão onde as pessoas ficam mais críticas e com maior desejo de mudança”. 

Muitos políticos, durante o primeiro turno, também se disseram vítimas de fake news. O deputado federal reeleito Jean Wyllys (PSOL), que já afirmou por mais de uma vez que não há ninguém que tenha sido mais difamado quanto ele não campanha, contou que conseguiu com que o Tribunal Regional Eleitoral retirasse mais de um milhão de publicações falsas envolvendo o seu nome. “Eu fui caluniado à direita e à esquerda, houve boicote à minha candidatura dentro do próprio campo progressista”, afirmou o ex-BBB. 

A candidata a vice-presidente na chapa de Haddad, Manuela D´Ávila (PCdoB), também contou que foi vítima de uma notícia mentirosa. A deputada foi ameaçada nas redes sociais após ter sido espalhado que a Polícia Federal teria quebrado o sigilo telefônico de agressor do candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) e que Manuela teria ligado várias vezes para Adélio e que também tinha articulado junto ao PT planejado o ataque a faca contra Bolsonaro, que aconteceu no começo do mês passado. A coligação do PT pediu ao TSE proteção da Polícia Federal depois do acontecimento.   

Nem mesmo religiosos foram deixados de lado quando se tratam das notícias falsas durante esta eleição. Um áudio viralizou no WhatsApp no qual um homem imitando a voz do padre Marcelo Rossi, ao falar sobre política, declara apoio ao candidato Bolsonaro. Depois, Marcelo Rossi fez uma transmissão ao vivo para negar que a voz era dele e falar que jamais se meteria em política. Ele ainda disse que era “maldade” a atitude e que não se brinca com um servo de Deus. 

Em entrevista ao LeiaJá, o cientista político Elder Bringel já explicou que o termo fake news tem ligação direta com notícias falaciosas. “Essa palavra ganhou o cenário mundial na eleição dos Estados Unidos, com o marketing do Trump, e ganhou as páginas dos jornais com a saída da Inglaterra do Bloco Europeu. A pós-verdade está ligada com as inverdades e mentiras criadas dentro do cenário político para, de certa forma, promover alguém ou desestabilizar um outro alguém, um inimigo político que seja”, explicou. 

Bringel pediu cuidado com as informações veiculadas nas redes sociais e em páginas criadas. “Você tem, em primeiro lugar, tomar cuidado com as notícias veiculadas”, alertou. 

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