Lula diz que está de volta e se posiciona contra Bolsonaro

dom, 10/11/2019 - 14:30
Miguel Schincariol Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é carregado por multidão reunida em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos em São José dos Campos, em 9 de novembro de 2019 Miguel Schincariol

"Estou de volta", anunciou, neste sábado (9), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, menos de 24 horas depois de sair da prisão. Lula criticou o governo de Jair Bolsonaro diante de milhares de apoiadores em São Bernardo do Campo.

Lula acusou a Bolsonaro de "governar para as milícias do Rio de Janeiro", chamou o ministro da Economia, Paulo Guedes, de "destruidor de empregos" e de "canalha" o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro, que o condenou por corrupção.

Sua aparição e seu discurso emocionaram a multidão vestida de vermelho reunida no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, seu berço político. O local foi onde Lula pronunciou seu último discurso antes de se entregar à justiça em 7 de abril de 2018.

Lula, que atualmente tem 74 anos, cumpria em Curitiba sua pena de oito anos e dez meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas foi solto depois que a Suprema Corte votou na última quinta-feira (7) à noite contra a prisão em segunda instância.

"Foi lindo, muito emocionante, ouvi-lo depois que ele saiu da prisão", dissea jovem Mirela Ferrer, de 21 anos, em uma bandeira com o rosto do ex-presidente e a frase "Lula libre" estampados.

Este é o segundo encontro de Lula desde que ele deixou a prisão. No primeiro, ao deixar a sede da Polícia Federal de Curitiba, onde havia passado 580 dias, anunciou que em breve se lançará para "percorrer o país para discutir uma saída com nosso povo".

"Se a gente trabalhar direitinho, em 2022 a chamada esquerda que o Bolsonaro tanto tem medo vai derrotar a ultradireita nesse país", declarou Lula, em um momento em que a esquerda brasileira se encontra enfraquecida e fragmentada.

Horizonte de 2022 

"Bolsonaro foi eleito democraticamente, aceitamos os resultados da eleição de 2018", disse. Mas, segundo Lula, ele "foi eleito para governar para o povo brasileiro e não para os milicianos do Rio de Janeiro", acrescentou antes de exigir o esclarecimento do assassinato em 2018 da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco.

Para demonstrar que sua idade não será problema em 2022, para quando estão previstas novas eleições presidenciais, Lula mencionou o romance com a socióloga Rosângela da Silva, de 52 anos, com quem deve se casar em breve.

Em um vídeo que publicou no Twitter pela manhã, o ex-presidente declarou: "Tenho 74 anos do ponto de vista biológico, mas 30 anos em energia e 20 anos em tesão".

Direita também se mobiliza

A organização Vem Pra Rua (VPR), muito ativa nos protestos que em 2016 levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, organizou uma manifestação nesta tarde na Avenida Paulista para denunciar a decisão do STF que acabou resultando na libertação de Lula e que pode favorecer a saída de aproximadamente cinco mil detentos da prisão.

"Vim protestar contra todos esses roubos dos políticos, e principalmente Lula, que é o chefe de uma quadrilha. Ter soltado esse homem é uma aberração", afirmou o aposentado Edécio Antônio, de 77 ano, que se negou a revelar seu sobrenome.

Bolsonaro se manifestou pelo Twitter nesta manhã, pedindo à direita que não dê "munição a um canalha que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa".

O comentário presidencial é feito em meio a rachas entre seus aliados, muitas vezes por disputas lançadas pelas alas mais radicais do bolsonarismo contra ministros ou lideranças do governo no Congresso.

Lula foi condenado como beneficiário de um apartamento no Guarujá oferecido pela construtora OAS em troca de contratos na estatal Petrobras. O ex-presidente, que enfrenta pelo menos outros seis processos, nega as acusações e se considera vítima de uma manipulação judicial para impedir sua candidatura nas eleições de 2018.

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