CPI: Mandetta diz que estratégia da Saúde não foi mantida

Em depoimento à CPI da Covid, o ex-ministro da Saúde explica que, sob seu comando, a Ciência foi respeitada na tomada de ações e que nunca jamais testagem em massa no Brasil

por Victor Gouveia ter, 04/05/2021 - 12:27
Reprodução/Flickr/Senado Federal Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta Reprodução/Flickr/Senado Federal

Na manhã desta terça-feira (4), o primeiro ministro da Saúde a enfrentar a pandemia no Brasil, o ortopedista Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), abriu as oitivas da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado. A investigação avalia possíveis omissões do Governo Bolsonaro no enfrentamento ao vírus e o uso de recursos da União por Estados e municípios.

Na condição de testemunha, Mandetta fez uma breve explanação sobre o início da pandemia no período em que esteve à frente da pasta, entre o dia 1º de janeiro de 2019 e 16 de abril de 2020. Ele lembra que, através da Secretaria Executiva, manteve diálogo com Estados e municípios, promoveu reuniões diárias na tentativa de comprar insumos, montou uma escala entre servidores para atender ao fuso-horário chinês e orientou todo sistema em relação à testagem e disponibilidade de leitos.

Sem máscaras já no começo da pandemia

“Todas nossas orientações foram assertivas, foram feitas pela ciência", ressaltou o ex-ministro, que pontuou que o repasse de medicamentos era monitorado pelo Serviço de assistência especializada (SAE) para evitar a briga judicial de Estados pela divisão dos insumos adquiridos.

"Nós ficamos quase a zero no Brasil de máscara. Não havia nem para a rede privada. Nosso sistema ficou extremamente vulnerável e próximo do colapso mesmo sem ter casos de Covid, naquele momento, em número suficiente", recorda ao comentar ainda sobre o início da pandemia, entre fevereiro e março, quando o mercado foi absolvido 'fúria de aquisição' de Estados Unidos e do mercado Europeu.

Questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre a testagem em massa, que jamais ocorreu no Brasil, o médico aponta que acionou a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) para reverter a falta de capacidade de compra do país. "No mês de março, nós iniciamos toda aquisição com 24 milhões de testes. Não adianta comprar o teste, tem que processar de maneira automatizada [...] disparamos o processo de aquisição com todas as dificuldades, mas isso só foi assinado o recebimento dos testes [quando] já era o ministro Teich e depois soube que essa estratégia não foi utilizada. Essa era, de maneira muito clara, a nossa estratégia para diminuir o índice de transmissão”, respondeu.

O caminho era a Ciência

Na sua visão, a estratégia adotada pela primeira gestão da Saúde na pandemia não foi encorpada após sua demissão. "Tínhamos um caminho, tínhamos claramente que iríamos testar, bloquear o máximo de contágio e tratar, via tensão primária, e ampliar nosso atendimento na rede hospitalar. Nós não tomamos nenhuma medida que não tenha sido pela Ciência e é isso que é recomendado. Agora, a posteriori vimos parar muitas coisas e não colocar outras no lugar, a testagem é uma delas", apontou.

Ele verificou a disparada de preços de produtos fundamentais para os leitos, principalmente dos respiradores, e culpou a competição interna pela situação. Sem dispositivos no mercado, Mandetta diz que o Ministério "pacificou" a questão ao estimular a indústria nacional a produzir os respiradores no próprio território. "O Brasil foi o país que comprou respiradores pelo valor mais baixo do mundo e os entregou 100%. Isso não impede dos governadores e prefeitos tentarem comprar através de representantes, coisa que o Ministério da Saúde também tentou", acrescenta.

Nenhuma vacina foi oferecida

Sobre a demora na negociação de vacinas, o médico relatou que não chegou a criar um protocolo de aquisição pois os imunizantes ainda estavam nas fases iniciais de testagem e só foram oferecidos após sua saída. "Na minha época não foi oferecido, mas eu rezava muito para que fosse. Teria ido atrás delas como um prato comida. A gente sabia que a saída era pela vacina".

"O SUS é o melhor sistema para aplicar as vacinas, basta tê-las. Nós temos histórico de mega campanhas de vacinação [...] o SUS é muito bom, basta colocar os insumos. Nós nunca tivemos dificuldade em abastecê-lo", intercedeu pelo Sistema Único de Saúde.

O ex-ministro ainda é ouvido por senadores e os trabalhos da CPI seguem nesta terça (4) com a participação do sucessor da pasta, Nelson Teich, às 14h. O terceiro gestor, o general Eduardo Pazuello, estaria agendado para esta quarta (5), mas alegou uma gripe para não responder aos senadores. Na quinta (6), deve ser a vez do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do diretor da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Antônio Barra Torres, participarem da comissão.

*Conteúdo em atualização

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