Médicos pernambucanos negacionistas orientaram Bolsonaro

A reunião com líderes do grupo Médicos pela Vida reforçou a suspeita de um comando paralelo no Ministério da Saúde

ter, 08/06/2021 - 11:22
Marcos Corrêa/PR Reunião ocorrida em setembro de 2020 que evidenciou a suspeita de um comando paralelo no Ministério da Saúde Marcos Corrêa/PR

A suspeita da existência de um Ministério da Saúde informal no combate à pandemia no Brasil foi reforçada por uma reunião do presidente Jair Bolsonaro com integrantes do grupo pernambucano Médicos pela Vida. Pleiteado pelos próprios profissionais, o grupo negacionista cobrou autonomia para receitar substâncias ineficazes contra o vírus, no encontro transmitido ao vivo pelo Facebook em setembro do ano passado. A informação é do site Marco Zero.

Sem máscara, três pernambucanos participaram do evento e pousaram para fotos ao lado de três dos principais propagadores de informações falsas sobre a pandemia no Brasil: o presidente Bolsonaro, a oncologista Yamaguchi - refutada diversas vezes na CPI da Covid-19 - e o deputado Osmar Terra (MDB-RS), que errou em suas previsões contra a doença.

Estiveram presentes o oftalmologista e líder do Médicos pela Vida, Antônio Jordão, o pneumologista e coordenador, Blancard Torres, e a pediatra Tilma Belfort. Ao todo, o movimento conta com sete médicos, desses cinco são pernambucanos.

Em determinado momento, Blancard reclamou de uma advertência que teria recebido do Hospital Português por indicar tratamento precoce e criticou as medidas restritivas determinadas pelo governador Paulo Câmara (PSB) para evitar a piora da pandemia.

“Porque eu falei (em um vídeo) que os genocidas eram os governadores, como Paulo Câmara, e os prefeitos, (como) Geraldo Júlio. Eles negam essas medicações”, sugere sem provas.

O grupo negacionista também reclamou da postura do Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe), que é contra o tratamento precoce, apesar de defender a autonomia profissional, e pediu que Bolsonaro proteja os médicos que receitam os medicamentos sem eficácia comprovada.

"Como eu posso fazer vídeo instruindo o povo se eu não tenho o presidente dizendo que não pode me atacar? porque se me atacar, ataca o senhor. Eu sou o seu soldado, você é meu capitão. O senhor tem que estar ao meu lado", afirmou Blancard.

Gabinete das sombras

O presidente respondeu que os conselhos deveriam pedir ação preventiva para os médicos receitarem o tratamento com tranquilidade. Em determinado momento, o virologista Paolo Zannoto solicitou a criação de um "shadow cabinet" - gabinete das sombras - para lidar com a pandemia longe dos holofotes.

Embora as ações da CPI da Covid apontem para a elucidação de desvios de recursos federais e comportamentos controversos de políticos e profissionais da saúde, antes do início dos depoimentos, o grupo publicou um abaixo-assinado em que nega as vacinas e as medidas de prevenção. Em contrapartida, pedem que a inalação de hidroxicloroquina seja indicada como alternativa ao tratamento.

Após o vexame do depoimento de Nise Yamaguchi na Comissão, o Médicos pela Vida emitiram nota em repúdio às “posturas inaceitáveis de políticos”. Um dia depois, o Conselho Federal de Medicina se posicionou “para manifestar sua insatisfação com a postura de membros da CPI".

Após a repercussão da movimentação paralela, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) solicitou a convocação de Osmar Terra (MDB-RS) e do médico Paolo Zanotto na CPI da Covid.

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