Marco Aurélio: 'Bolsonaro cria crises desnecessárias'

Decano entende que situações conflituosas são estratégias e bem contornadas pelo presidente, mas que o exemplo deveria ser outro

por Vitória Silva ter, 29/06/2021 - 12:08
Carlos Moura/STF Ministro Marco Aurélio Mello. Carlos Moura/STF

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, teceu críticas sobre a condução da comunicação no governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Para o magistrado, a gestão bolsonarista possui ruídos e o presidente da República cria “crises desnecessárias” e “lança presunções que não se confirmam”, se referindo a declarações precipitadas que nem sempre são baseadas em fatos. As declarações foram feitas durante entrevista nesta terça-feira (29) ao GloboNews.

"Nós aprendemos que o exemplo vem de cima, e o presidente deve buscar a segurança jurídica. Não pode estar sugerindo que há um cenário de possibilidade de fraude [nas urnas eletrônicas], não se avança culturalmente assim. O presidente é dado a esses arroubos de retórica e a lançar presunções que não se confirmam com a realidade", disse Marco Aurélio, ao comentar a fala de Bolsonaro sobre uma eventual "convulsão social" caso o ex-presidente Lula vença o pleito eleitoral de 2022.

O futuro ex-ministro, que se aposenta no próximo dia 12 de julho, também afirmou que o presidente Bolsonaro é afeito a criar crises desnecessárias. Segundo Marco Aurélio Mello, essa é uma estratégia que Bolsonaro sabe contornar bem. "Ele [Bolsonaro] com esses arroubos de retórica acaba criando desnecessariamente crises e nada de braçada nessas crises. O sucesso dele se faz nas crises. Não é bom, nem o que se espera de um presidente da República. Pelo contrário, deveria servir de modelo para os cidadãos em geral", criticou o ministro.

Apesar das críticas à postura de Bolsonaro, Marco Aurélio Mello disse não acreditar em um possível "golpe", "mesmo com essa postura do presidente da República". O ministro do STF afirmou que é necessário apoio popular para um eventual golpe, o que não se vê no momento. "Muitos não votaram pela figura em si, ou pelo seu desempenho em cargos públicos, mas sim para não ter o PT de volta", afirmou sobre a vitória de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018.

Na mesma ocasião, o decano aproveitou para alfinetar o Procurador-Geral da República Augusto Aras, a quem acredita que o papel deveria ser de “oposição”.

"O que se aguarda do PGR é uma atuação opositante. Ninguém pode exercer o mandato pensando em recondução. Nós sempre esperamos que um titular da PGR cumpra o dever. Vamos aguardar para ver o que ocorrerá em agosto, se haverá recondução", analisou o ministro.

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