Guerra: cientistas políticos analisam posição do Brasil
Estudiosos analisaram que o Brasil sempre manteve uma posição neutra nos grandes conflitos, mas que atualmente o presidente Bolsonaro tem mostrado maior alinhamento com os russos
O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem evitado dar declarações sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. No entanto, o pouco que tem falado sobre demonstra um certo alinhamento do mandatário brasileiro com os russos.
O cientista político Henrique Lucena detalha que nos fóruns internacionais, o Brasil tem tomado posição de condenar a invasão russa e ressalta que os interesses russos devem ser atendidos.
No entanto, o cientista acentua que o presidente Bolsonaro tem causado problemas para a diplomacia brasileira, já que as suas declarações dão a entender que ele está mais alinhado com a posição russa.
"A diplomacia brasileira faz uma coisa e o presidente termina fazendo outra. É tanto que, na mídia russa, as falas de Bolsonaro recentemente, foram repercutidas como uma espécie de aval às ações militares que Moscou está fazendo. Isso é muito ruim porque acaba gerando um maior atrito com os países ocidentais e o Brasil pode ficar mais isolado nesta matéria", diz Lucena.
O especialista assevera que, basicamente, quem está apoiando a guerra da Ucrânia pela Rússia são justamente as autocracias alinhadas com Moscou como Venezuela, Cuba, Irã e Coreia do Norte. O Brasil termina ficando com essas falas de Bolsonaro em uma situação bastante sensível e de vulnerabilidade de receber pressões internacionais dos ocidentais.
O cientista político Jorge Oliveira Gomes pontua que faltou estratégia do presidente Bolsonaro quando decidiu se encontrar com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, no momento onde a tensão já havia sido instaurada.
"Bolsonaro agora finge que não fez uma visita diplomática amigável e num tom de anuência a um líder que, uma semana depois, invadiu de maneira ilegítima um país soberano", aponta Jorge.
Ele detalha que é tradição brasileira manter neutralidade nos conflitos que acontecem pelo mundo, mas não combina com um governo tão radicalizado como é o governo de Jair Bolsonaro. "As autoridades têm dificuldade de manter uma postura adulta e dão declarações sensíveis, como foi o caso dos comentários pouco discretos e emocionais do vice-presidente General Mourão sobre o conflito", lembra.
No dia 24 deste mês, o vice-presidente Hamilton Mourão defendeu a soberania da Ucrânia e apoiou o uso da força pelos ucranianos e chegou a comparar o presidente russo ao ditador alemão Adolf Hitler.
"O mundo ocidental tá igual ficou em [19]38 com o Hitler, na base do apaziguamento, e o Putin não respeita o apaziguamento", afirmou ele a jornalistas em frente ao Palácio do Planalto. "O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que respeita a soberania da Ucrânia", complementou.
No mesmo dia, o chefe do Executivo brasileiro desautorizou a fala de Mourão e fez questão de ressaltar que “quem fala sobre esse assunto é o presidente, e o presidente se chama Jair Messias Bolsonaro”, declarou.
O estudioso Henrique Lucena pontua que o Brasil manter uma neutralidade é bom para não sofrer possíveis sanções internacionais. "O Brasil ficar nesse meio termo é uma estratégia para evitar grandes problemas, ou seja, sofrer sanção. Apesar que ela é improvável de acontecer agora porque o prejuízo com as sanções russas está sendo muito grande e o ocidente está tentando suportá-las", finaliza.