Braga Netto como vice não deve atrair novos votos

Especialista aponta que a escolha de Jair Bolsonaro não gera um fato novo, uma vez que o general Braga Netto se assemelha ao atual vice-presidente Hamilton Mourão

por Jameson Ramos sex, 01/07/2022 - 13:13
Divulgação/FIEMG General Braga Netto em primeiro plano com a bandeira do Brasil ao fundo Divulgação/FIEMG

Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que o seu candidato a vice-presidente da República será o general Walter Braga Netto, que foi exonerado nesta sexta-feira (1º), do cargo de Assessor da Presidência da República. Cientista político avalia que essa escolha não traz um fato novo para o atual chefe do Executivo e agrada apenas a bolha bolsonarista.

O centrão juntamente com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro, até tentaram convencer o mandatário a escolher alguém da ala, cogitaram, inclusive, o nome da ex-ministra da Agricultura Teresa Cristina (Progressistas) para vice, mas o chefe do Executivo já está decidido e Braga Netto é quem deve aparecer ao seu lado nas urnas deste ano.

Em entrevista ao LeiaJá, o cientista político Caio Souza aponta que a escolha do general pode ser boa, do ponto de vista da coerência do discurso de Jair Bolsonaro. Mas, ao mesmo tempo, pode ser ruim porque ele não atrai novos setores da política e da própria sociedade, por não existir um fato novo. Lembra-se que em 2018, na tentativa de agradar os bolsonaristas e, principalmente, os militares, o também general Hamilton Mourão (Republicanos) foi o nome escolhido na época.

Neste ano, repete-se o gesto do presidente da República para tentar manter os seus fiéis apoiadores. "Braga Netto mantém o eleitorado militar e atrai integrantes desse público que possivelmente não estariam tão felizes ou que teriam algum receio com a candidatura de Bolsonaro. No entanto, ele não agrega com o eleitorado que está indeciso e que está na oposição, porque ele é uma repetição da própria figura do Hamilton Mourão, só que com mais alinhamento ao presidente", destaca o especialista.

Caio também avalia que, temendo um processo de impeachment, Bolsonaro acredita que a figura de um militar como vice pode representar uma espécie de "seguro" contra o afastamento. "O que aprendemos nos últimos anos é que a figura do vice opositor ao presidente pode ser um problema. A gente viu isso com a ex-presidente Dilma (PT), onde claramente sofreu sérios problemas com o seu ex-vice que se tornou presidente e um dos grandes articuladores do seu impeachment". 

O estudioso salienta que Bolsonaro também não está à margem de sofrer um pedido de impeachment, então ele estar com alguém mais alinhado com o seu posicionamento diminui a possibilidade da traição, como aconteceu com a ex-chefe do Executivo nacional petista que teve o seu afastamento mobilizado por Michel Temer (MDB) e os partidos do centrão.

Mulher como vice

Um dos motivos para que o nome da Teresa Cristina, e até da ex-ministra Damares Alves (Republicanos), fossem ventilados para compor chapa com o mandatário nacional, era na tentativa de “limpar” a imagem de Jair Bolsonaro perante esse público. A pesquisa Genial/Quaest divulgada no início de junho, mostra que o ex-presidente Lula (PT) é o preferido do público feminino com 50% das entrevistadas afirmando que votarão no petista. Apenas 22% deste segmento declarou voto ao atual presidente da República. 

Na avaliação de políticos do centrão, ter uma mulher integrando a majoritária com Bolsonaro poderia atrair novos votos deste público. O cientista político Caio Souza discorda dessa avaliação.

“Uma mulher como vice do Bolsonaro não traria uma melhoria na imagem do presidente porque também não é uma preocupação dele. Acho que ele se preocupa em manter coerência em cima do que acredita ser certo falar, ou não. Se colocar alguém como uma figura que traga algo oposto, isso pode ser ruim para que ele persevere. Então, não acho que seria uma boa estratégia dele colocar uma mulher para ser a sua vice”, assevera.

Mas a mulher é uma preocupação do governo, afinal, é voto. Para dar uma atenuada nos discursos e ações machistas do mandatário, a primeira-dama Michelle Bolsonaro foi escalada pelo Palácio do Planalto. Em junho, Michelle se filiou ao PL para ser autorizada legalmente a participar dos programas partidários da sigla ao qual o seu marido vai disputar a reeleição, mas ela não chegou a gravar as peças dentro do período necessário. Isso não quer dizer que ela não deva aparecer ao lado do presidente na televisão e em suas andanças pelo Brasil atrás de voto a partir do mês de agosto.

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