Quem é Tacla Duran, desafeto de Moro preso na Lava Jato

Após ter mandado de prisão preventiva revogada, advogado deve depor à Justiça Federal nesta segunda-feira (27)

por Vitória Silva seg, 27/03/2023 - 11:22
Reprodução/Redes Sociais Tacla Duran durante depoimento em sessão remota Reprodução/Redes Sociais

O advogado Rodrigo Tacla Duran, réu por lavagem de dinheiro no âmbito da operação Lava Jato, deve voltar a depor à Justiça nesta segunda-feira (27). As circunstâncias do depoimento, desta vez, são diferentes, considerando que o mandado de prisão preventiva contra o investigado caiu após uma decisão do ministro Ricardo Lewandowski que, antes de comunicar a aposentadoria da Corte, travou algumas das ações abertas na extinta operação anticorrupção.

Duran é desafeto do senador Sergio Moro (União Brasil), que ordenou a prisão preventiva do advogado em 2016. Apesar do pedido, a prisão no Brasil nunca ocorreu. Os dois trocaram acusações no pico das investigações. Enquanto Moro o acusou de lavar mais de R$ 50 milhões e de ter pago para não ser preso - o que foi parcialmente confessado como verdade pelo próprio acusado -, Durán acusou Moro de abusos e negociações paralelas na operação.

Quem é Rodrigo Tacla Duran 

Duran vive na Espanha e deverá participar da audiência desta segunda-feira (27) através de videochamada. Nascido no Brasil, ele é filho de espanhol e possui dupla cidadania. O país europeu chegou a rejeitar o pedido de extradição apresentado pelo Brasil durante as descobertas da Lava Jato. Duran foi considerado foragido até mesmo pela Interpol, mas teve seu nome removido da lista de procurados internacionais. 

Ele é advogado de empresários e acusado de lavar dinheiro para envolvidos na Lava Jato em diversos países, incluindo a Espanha, Cingapura, China e Hong Kong. Na Espanha, chegou a ser detido, mas foi liberado e permaneceu livre de acusações, mesmo com evidências coletadas a partir de uma confissão feita às autoridades do país.

Quais as acusações

Na Lava Jato, Duran é visto como “um grande operador” do esquema de corrupção. Segundo os procuradores, empresas de fachada ligadas ao advogado receberam recursos de empresas envolvidas na 48ª fase da Lava Jato, que mirou em contratos de pedágio no Paraná. Rodrigo teria usado a função de advogado como “fachada” para lavar dinheiro, enquanto contratava escritórios menores e que cobravam menos para realizar os serviços, de forma terceirizada.  

Às autoridades brasileiras, ele nunca admitiu o que se diz nas acusações. O empresário insiste que trabalhou apenas como consultor, jamais sendo parte de atos ilícitos. Já na Espanha, onde depôs na condição de testemunha, ele chegou a admitir que lavou dinheiro e que pagou para não ser preso. 

O advogado é alvo de três processos criminais no Brasil. O andamento das ações é lento por causa das dificuldades para citá-lo na Europa. A força-tarefa de Curitiba o acusa de movimentar mais de R$ 95 milhões para a Odebrecht e outras empresas. 

O depoimento de Tacla Duran às autoridades espanholas foi anexado pelos procuradores do Paraná a um outro processo, contra o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto e apontado como responsável por repasses de propina a políticos do PSDB. Paulo foi preso. 

O investigado reconheceu ter emitido notas fiscais fictícias para justificar a entrada de recursos da Odebrecht nas contas de suas empresas, e identificou advogados e outros operadores que ajudaram a viabilizar as transações na Espanha. Ele também admitiu encontros com empresários e ter recebido dinheiro em espécie para realizar transações à Odebrecht no exterior. 

O que esperar do novo depoimento

Desde que foi considerado investigado, o advogado repreende a Odebrecht e a Lava Jato, acusando os delatores de fraude e omissão. Ele também apontou o advogado Carlos Zucolotto como intermediário de negociações paralelas entre ele e os procuradores. Amigo do ex-juiz Sergio Moro, Zucolotto nega ter participado de negociações com a Lava Jato.  

Rodrigo Tacla Duran foi intimado pelo juiz Eduardo Appio, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, que sucedeu a Sérgio Moro. A decisão de Appio ocorreu três dias após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski determinar a suspensão de processos abertos contra Tacla Duran com base em informações apresentadas por delatores da Odebrecht. 

Nesta segunda-feira (27), é esperado que possíveis revelações sobre as supostas irregularidades cometidas por Sergio Moro sejam feitas. Tacla Duran foi condenado em duas ações penais por Moro com base em provas que foram posteriormente anuladas pelo Supremo. Moro e Deltan Dallagnol sempre se negaram a ouvir o advogado. 

 

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