Redes sociais: a mão invisível que conecta e separa

Usuários ativos, os jovens estão mais propensos aos impactos, tanto positivos quanto negativos, que essas mídias têm na formação da personalidade

ter, 15/12/2020 - 16:18
Imagine Publicações Professor Hernando Borges: uso determina como as redes influenciam as pessoas Imagine Publicações

Publicar, curtir, comentar e compartilhar tornaram-se vitais no cotidiano de parte da população. Devido à pandemia da covid-19, o distanciamento social forçou a sociedade a desacelerar. Por outro lado, a utilização da internet e das redes sociais se intensificou.

Os nativos digitais já nasceram imersos nas redes, que ajudam as pessoas a se manterem informadas, bem como interferem na vida delas. Segundo pesquisa realizada pela empresa britânica GlobalWebIndex, o Brasil é o segundo país, no ranking mundial que mais gasta tempo com mídias sociais, em média são 225 minutos por dia, em dados de 2019. Perde apenas para as Filipinas, com 241 minutos por dia.

A universitária de Agronomia Ana Yasmin Gonçalves, de 20 anos, relata que passa praticamente o dia inteiro nas redes sociais. "Porque quase todas as coisas a gente resolve, hoje em dia, pelas redes sociais. Até mesmo o contato que a gente tem com empresas é através do Whatsapp, por exemplo”, diz.

Essa realidade pode ser vista também nas rodas de conversas, nas quais não é estranho escutar sobre uma publicação interessante, o like nas fotos de amigos ou o “cancelamento” daquele famoso. No entanto, engana-se quem pensa que as mídias sociais são usadas apenas para o entretenimento. É o que acontece com Tayssa Zucchetto, universitária de Relações Internacionais, de 20 anos. “Eu busco manter contato com pessoas que não consigo mais ver tanto, [busco] conexões profissionais (pelo LinkedIn). E me manter a par de notícias e ocorrências que não circulam na grande mídia. Bem como para interagir com pessoas de gostos semelhantes”, conta.

A utilização de redes sociais pelo público é expressiva na chamada geração Z, os nascidos entre 1995 e 2010, conforme estudos do Fórum Econômico Mundial (2019). Pesquisa realizada pela Chicago Booth School of Business indica que o Facebook, Twitter e outras redes sociais têm capacidade de viciar superior ao cigarro ou ao álcool. Tendo isso em vista, a rede social tem forte impacto na formação dos jovens.

“É nas redes sociais que estão os ‘grupinhos’ ou as ‘tribos’ dos jovens de gerações passadas. O que ocorria em termos de socialização no ambiente físico, agora, se estende ao digital. Nesse sentido, redes sociais podem tanto fornecer aquela boa companhia, que inspira e faz um jovem descobrir seus talentos, como também podem fornecer as tão temidas más companhias”, explica o professor Hernando Borges Neves Filho, doutor em Psicologia Experimental e pesquisador na Universidade Estadual de Londrina (UEL), autor do livro "Criatividade: suas origens e produtos sob uma nova perspectiva comportamental”, pela Imagine Publicações.

Do mesmo modo, os influenciadores digitais têm uma parcela significativa desse impacto. Ao estabelecer formas de vestir-se, comer e se comportar, essas pessoas tornam-se “como faróis, formadores de opinião, que ditam a discussão, a onda do momento no mar de informações que é a internet”, declara o professor.

De acordo com pesquisa feita pelo Instituto QualiBest e pela empresa Spark, especialista em marketing de influência digital, cerca de 76% dos usuários brasileiros compraram produtos ou serviços baseados nas recomendações de influenciadores digitais.

Por esse motivo, os influenciadores digitais devem ser cuidadosos nas escolhas dos conteúdos e nas abordagens. “Influenciadores responsáveis, ou aqueles que podemos julgar responsáveis, precisam sempre avaliar seu conteúdo com relação ao que ele contribui pra nossa cultura, pra nossa sociedade. É uma grande responsabilidade”, afirma o psicólogo Hernando Borges.

“Eu acompanho diversos influenciadores, principalmente os de formação de opinião. O impacto que eles têm na formação dos jovens é muito grande e, infelizmente, nem todos tem uma mensagem de tolerância a passar”, aponta Ana Yasmin.

O professor alerta também que, por ser uma parte constante da vida, as mídias sociais são capazes de acarretar problemas de saúde mental. “Redes sociais podem potencializar ansiedades e inseguranças, e empobrecer nossa socialização nos mantendo em ‘bolhas’ mantidas por algoritmos”, adverte.

“Já me trouxe muito transtorno, principalmente pelo cyberbullying. E a pressão que é feita para você consumir notícia, sobretudo na época em que os casos de covid-19 estavam no pico máximo. Tive que desinstalar quase todas as redes para me afastar do excesso de informação”, relata Ana Yasmin.

Algo parecido já ocorreu com Emilly Sofia Rodrigues de 17 anos, estudante do Ensino Médio. “Na maioria das vezes, [a rede social] ocupava bastante meu tempo e resultava em estresse e ansiedade”, diz.

Alerta aos pais e responsáveis

Tanto quanto o mundo real, o ambiente virtual apresenta vários perigos. Como no conto de fadas de João e Maria, deixar os mais jovens, menores de idade, sem a supervisão de um responsável, significa expô-los a encontrar uma “casa de doces”, atraente à primeira vista, mas que pode abrigar grandes ameaças. Logo, é necessário que os responsáveis estejam atentos ao tipo de conteúdo que as crianças e adolescentes consomem e com quem falam na internet. “O bom uso da internet e das redes sociais vem do entendimento de seu funcionamento, função e consequências. Uma maneira de desenvolver isso com uma criança é explorar a rede social junto com ela, em um ambiente seguro e de aprendizado”, relata o psicólogo e professor Hernando Borges.

Na pandemia, o tempo de exposição dos jovens às redes sociais aumenta e é importante ficar em alerta. A estudante Emilly Sofia afirma que usava de forma excessiva a rede social, o que era muito prejudicial. “Avalie o tempo gasto na tela e a qualidade desse tempo. Se é uma atividade que consome boa parte do dia da pessoa, inclusive atrapalhando a rotina ou compromissos, tem um problema”, aconselha o psicólogo Hernando Borges.

Em um artigo publicado na revista The Atlantic, a psicóloga americana Jean M. Twenge, que estuda as diferenças geracionais, declarou que quanto mais tempo os adolescentes passam olhando para as telas, maior é a probabilidade de relatarem sintomas de depressão.

Vale lembrar que redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter têm idade mínima de uso de 13 anos. No entanto, mais do que apenas a idade é necessário possuir maturidade e responsabilidade. “O recomendado é que seja em alguma idade em que o jovem já possa entender as responsabilidades e consequências de uma rede social, e mais importante, que isso seja feito após conscientizar esse jovem de como é o uso dessas redes, e como elas funcionam”, recomenda o psicólogo.

O outro lado da moeda

Fala-se tanto dos prejuízos que as redes sociais podem causar. Porém, como tudo na vida, elas também apresentam vantagens. Nas redes sociais as pessoas estão abertas a um mundo de novas conexões, através delas agora é possível mobilizar pessoas, organizar manifestações e divulgar conteúdos informativos de qualidade. Bem como dar voz aqueles que, em outros tempos, não teriam espaço nas grandes mídias.

“As redes sociais são capazes de conectar o mundo e diferentes pessoas, bem como põem à nossa disposição uma grande quantidade de informações”, diz Tayssa Zucchetto.

Pelo contexto da pandemia, em que as pessoas precisam praticar o distanciamento social, as redes sociais também as ajudam a manterem contato, estarem conectadas, sentindo-se menos solitárias. “As redes sociais aproximam pessoas, em geral em torno de temas e interesses. Redes sociais podem ser ambientes de crescimento, de aprendizado e de desenvolver a empatia e trocar experiências, tudo depende do seu uso”, observa o psicólogo Hernando Borges.

Por Carolina Albuquerque e Even Oliveira.

 

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