Os vendedores do trânsito recifense

Nos engarrafamentos e vias movimentadas do Recife, comerciantes de pipocas, água mineral, frutas, entre outros produtos, ganham o seu sustento. Há vendedor que fatura R$ 2 mil por mês

por Nathan Santos sab, 01/09/2012 - 00:30

“Olha a pipoca! Temos salgada e doce. É o passatempo da viagem. Água mineral é R$ 0,50”. É comum as pessoas escutarem esses gritos nas ruas do Recife. Engarrafamentos, trânsito lento, passageiros a espera de ônibus. Tudo isso influencia a atuação dos vendedores de trânsito. São comerciantes de produtos como pipocas, frutas, água mineral, refrigerantes, balas, entre outros. Basta os veículos pararem, e lá se vão os comerciantes oferecendo suas mercadorias de carro em carro, ou de ônibus em ônibus.



Além da disposição para vender, eles também são corajosos. Muitos se metem também entre o trânsito em movimento, podendo ser atingidos por algum automóvel a qualquer momento. Todavia, pelo costume do dia a dia, eles parecem que caminham numa via não movimentada, e pela janela dos carros, vendem as mercadorias.



Na movimentada Avenida Abdias de Carvalho, no Recife, Daniel Miguel da Silva tem uma “longa estrada” como vendedor. Há quase 20 anos ele comercializa flanelas no local, produzidas por ele mesmo.

No Recife, os resultados das vendas são positivos. Daniel gasta por cada flanela produzida em torno de R$ 1,00 e as vende por R$ 3,00 cada. Quando o cliente compra duas, o valor fica  R$ 5,00. De acordo com o vendedor, mensalmente, sua renda é de cerca de R$ 2 mil. “Não quero outro trabalho. Isso aqui é a minha renda. Todos os dias eu tenho o meu dinheiro”, comenta o comerciante.



Daniel é morador da cidade de Vitória de Santo Antão, e apenas nas quartas, quintas e sextas-feiras ele vai ao Recife trabalhar. O horário de atuação é das 11h às 17h. Além de flanelas, certas vezes ele comercializa frutas, junto com outras dezenas de vendedores da Abdias de Carvalho. “Aqui tem muita gente trabalhando, mas, todo mundo ganha dinheiro”, diz o trabalhador, afirmando que não há concorrência entre os ambulantes.

Jovem vendedor



Jeito de comerciante que sabe usar as palavras certas para convencer o cliente da compra. Com 15 anos de idade e morando próximo à Avenida Abdias de Carvalho, desde de criança, Ailton Moreira acompanha os vendedores de trânsito do local. Alguns de seus familiares também integram o grupo de comerciantes, e pouco a pouco Moreira foi aprendendo com eles os métodos de vendas.



“A gente trabalha no sinal honestamente e temos o nosso dinheiro que é sagrado. Comercializo frutas, pipoca, água mineral e tudo dá lucro”, conta o jovem. Segundo Moreira, com o comércio de morangos e pipocas, por dia, ele ganha cerca de R$ 50,00. “Daqui eu tiro o meu salário e consigo comprar as minhas coisas”, diz.



O jovem revela que no momento não está estudando, porque quer se “estruturar financeiramente”. “Se aparecer um serviço melhor eu saio do trânsito, mas, por enquanto é isso o que eu tenho e o que eu quero fazer”, fala Moreira.



“Pipocas, salgadas e doces”

Todos os dias da semana são iguais para Cícero Marcolino da Silva. Há 17 anos ele trabalha nas avenidas Conde da Boa Vista e na Agamenon Magalhães, ambas no Recife. No começo das manhãs, o seu saco de pipocas está imenso. Não demora muito e o volume vai diminuindo, resultado das vendas do produto, seja no meio do trânsito ou nas paradas de ônibus.

“Pela falta de emprego, ingressei neste ramo. Comecei com confeitos e agora só vendo pipocas”, relata Marcolino. De acordo com o comerciante, cada pipoca sai para ele por R$ 0,27. Ele revende a R$ 0,50 cada.

Diariamente, Marcolino afirma que vende uma média de 200 pipocas. Ele é apenas um dos muitos vendedores que aproveitam o problema da mobilidade urbana do Recife para ganhar dinheiro. Basta uma simples volta de carro pelas vias mais movimentadas da capital, que é possível encontrar esses vendedores.



De acordo com a Diretoria de Controle Urbano (Dircon), órgão da Prefeitura do Recife, ainda não existe um levantamento de quantos vendedores do reamo existem na cidade.



Segundo a Dircon, pela grande rotatividade desses trabalhadores, que inclusive acabam atuando em cidades próximas ao Recife, como Olinda, não é possível constatar a quantidade desses comerciantes, e muito menos o perfil.

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