Inglês desde o berço para nova geração
As escolas bilíngue se multiplicam pelo Brasil e com ela o número de estudantes fluentes em outras línguas, antes dos dez anos
Ao cruzar os portões de uma escola bilíngue é possível entender o que entusiasma tantos pais e educadores a apoiar um tipo de alfabetização ainda pouco comum no Nordeste do País. Enquanto a coordenadora da instituição explica a metodologia de ensino aplicada, um pequeno grupo, de não mais que cinco anos, passa cantando uma versão inglesa da música do alfabeto.
A principal razão que leva pais a escolher uma escola poliglota para os filhos é a preocupação com a obrigatoriedade do inglês no mercado de trabalho. Cada vez mais os pais depositam suas expectativas, e claro, suas economias, já que escolas bilíngues estão entre as mais caras de cada cidade. As mensalidades figuram em pelo menos R$1 mil para o maternal, além das taxas, normalmente cobradas em dólar. A maioria desses pais acredita que assim as crianças aprendem de forma mais natural, sem sotaque e ainda possibilita que o aprendizado de uma terceira língua mais à frente seja mais fácil.
Segundo Rozario Botelho, coordenadora da escola canadense Maple Bear, no Recife, é mais fácil uma criança aprender inglês desde pequena do que um adulto. Com mais de 300 alunos entre dois e dez anos, a instituição é referência no mundo em bilinguismo. O aprendizado é mais simples, porque não há barreiras entre o lado emocional e a percepção da criança. Como códigos, conceitos e gestos não são conhecidos ainda, tudo é novo. “O cérebro deles funciona como uma esponja. Nós vamos liberando as novidades e introduzindo no mundo deles. Eles aprendem brincando”, conta Rozario.
O número de escolas que dominam o ensino bilíngue cresce no Brasil, gradativamente à expectativa dos pais e a carência do mercado. Em 2007, esses estabelecimentos eram 145; em 2009 o número saltou para 180. No Recife, o mercado ainda é modesto, estima-se que cerca de cinco escolas estejam realmente capacitadas para ensinar duas línguas ao mesmo tempo.
“É preciso entender a diferença de uma escola bilíngue para outra que apenas usa o inglês em algumas aulas”, lembra Rozario. No ensino regular os alunos são submetidos aos dois anos à imersão na língua. Aos cinco eles são alfabetizados simultaneamente nas duas línguas. Os estudantes passam a ter metade do horário em português e a outra na língua inglesa. Outra comparação são as escolas estrangeiras, que seguem o currículo do país de origem. A maioria dos estudantes desses estabelecimentos são filhos de estrangeiros, que estão passando um período no país.
Esse modelo de alfabetização é considerado novo. No Brasil está presente há pouco mais de três décadas. Muitos pedagogos ainda "torcem o nariz". “Eu sempre digo aos pais que os alunos estão numa terra de inglês e num mar de português”, compara Rozario, explicando que as possibilidades de confundir ou não aprender a língua mãe é nula, já que ao sair da escola o contato com o português é total. "Nossos alunos têm um inglês muito mais competitivo aos dez anos que um aluno que estudou seis anos em algum cursinho. A língua entra cedo na vida dos alunos e eles aproveitam uma excelente fase de aprendizado, sem se dar conta”, comenta a coordenadora.
Conversar e conhecer a proposta da escola é o melhor caminho para os pais. É preciso avaliar com bom senso e saber apoiar os pequenos. Pressionar por resultados não é o melhor caminho, assim como exigir a realização de tarefas complexas e que requerem grande esforço. Os pais devem observar se os filhos acompanham o programa, se estão relaxados, se brincam e interagem com os colegas e se apresentam um desenvolvimento normal de linguagem e capacidade intelectual. “Eles devem aprender outra língua com prazer, de forma natural”, lembra Rozario.