Tópicos | Escolas bilíngue

Esta língua é como um elástico que espicharam pelo mundo. Tal como diz o poema de Gilberto Mendonça Teles, escolas do Brasil, Estados Unidos e Angola se valem do português para aproximar estudantes e professores dos três países, ampliando assim a troca de experiências e o conhecimento sobre os costumes e a língua falada em cada um deles.

Em Utah, Estado da região oeste dos Estados Unidos, alunos do 1.º ao 5.º ano de seis escolas têm metade das suas aulas em inglês e a outra, em português. A experiência começou em 2012 com duas escolas, mas foi expandida para seis neste ano, alcançando 1,5 mil estudantes - no próximo, a previsão é que deva chegar a 2 mil alunos.

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Casada com um brasileiro, a educadora americana Jamie Leite diz que sempre foi apaixonada pela língua portuguesa e viu a oportunidade de difundir o idioma quando, em 2008, foi aprovada uma lei estadual criando um programa de imersão bilíngue em escolas públicas de Utah. Na época, o foco era ensinar chinês, espanhol e francês. Por isso, a proposta de Jamie encontrou resistência.

"No princípio foi difícil achar alunos em número suficiente. Muitos brasileiros (que moram em Utah) desejavam que seus filhos aprendessem o inglês e o português ficava em segundo plano. Com o passar do tempo, a comunidade pode perceber que a criança ganha um novo idioma, sem perder sua língua natal", diz Jamie, que é diretora do programa.

A maioria das crianças atendidas é americana, mas Jamie conta que os alunos brasileiros enriquecem e acrescentam novos conhecimento às aulas. Dos 28 professores do programa, oito são brasileiros. Para Jamie, os benefícios do aprendizado do português vão além dos ganhos cognitivos. "Ser bilíngue, ser alfabetizado e letrado em dois idiomas, ser multicultural, ser um cidadão do mundo."

Blog

A princípio o que uniu os alunos do 3.º ano do ensino fundamental do colégio Internacional Ítalo Brasileiro, em Moema, em São Paulo, aos estudantes da mesma série da Sherman Elementary School, em Nova York, foi a língua inglesa. Os professores decidiram montar um blog colaborativo onde as crianças americanas fariam perguntas e as brasileiras responderiam em inglês, para treinar o idioma em uma conversa real.

Mas, quando colocado em prática, o projeto mostrou que os estudantes americanos queriam saber muito mais sobre o Brasil, os costumes e a língua portuguesa. "A escola trabalha com a difusão de cultura, mas dessa vez os alunos tiveram a oportunidade contar o que é seu, de valorizar o que tem. É uma forma de melhorar nossa autoestima, de desenvolver a consciência da cidadania de maneira concreta e saudável", afirma Maria do Carmo Fagundes, Diretora de Língua Estrangeira do Weducation, grupo responsável pelo projeto.

Os alunos americanos perguntaram sobre a rotina das crianças brasileiras, sobre a natureza e os monumentos do Brasil e pediram a receita de comidas típicas, como brigadeiro e feijoada. "Foi uma experiência legal, nunca tinha parado pra pensar que temos tantas coisas que são só nossas e, por isso, só têm nome em português", diz a aluna Helena Lezier, de 9 anos.

Já no colégio Humboldt, em Interlagos, os alunos do 1.º ano do ensino médio trocaram cartas com adolescentes de uma escola em Luanda, em Angola, para obter informações sobre suas culturas e perceber as diferenças entre a língua portuguesa em cada país. "Foi a forma que achei para mostrar o quanto a nossa língua é viva e está em mutação, o quanto expressa a cultura de um povo. Assim, os alunos se mostraram mais interessados pelo português e pelas aulas. E também pudemos trabalhar o Acordo Ortográfico e o gênero textual carta", diz a professora Carolina Yokota. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ao cruzar os portões de uma escola bilíngue é possível entender o que entusiasma tantos pais e educadores a apoiar um tipo de alfabetização ainda pouco comum no Nordeste do País. Enquanto a coordenadora da instituição explica a metodologia de ensino aplicada, um pequeno grupo, de não mais que cinco anos, passa cantando uma versão inglesa da música do alfabeto.

A principal razão que leva pais a escolher uma escola poliglota para os filhos é a preocupação com a obrigatoriedade do inglês no mercado de trabalho. Cada vez mais os pais depositam suas expectativas, e claro, suas economias, já que escolas bilíngues estão entre as mais caras de cada cidade. As mensalidades figuram em pelo menos R$1 mil para o maternal, além das taxas, normalmente cobradas em dólar. A maioria desses pais acredita que assim as crianças aprendem de forma mais natural, sem sotaque e ainda possibilita que o aprendizado de uma terceira língua mais à frente seja mais fácil.

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Segundo Rozario Botelho, coordenadora da escola canadense Maple Bear, no Recife, é mais fácil uma criança aprender inglês desde pequena do que um adulto. Com mais de 300 alunos entre dois e dez anos, a instituição é referência no mundo em bilinguismo. O aprendizado é mais simples, porque não há barreiras entre o lado emocional e a percepção da criança. Como códigos, conceitos e gestos não são conhecidos ainda, tudo é novo. “O cérebro deles funciona como uma esponja. Nós vamos liberando as novidades e introduzindo no mundo deles. Eles aprendem brincando”, conta Rozario.

O número de escolas que dominam o ensino bilíngue cresce no Brasil, gradativamente à expectativa dos pais e a carência do mercado. Em 2007, esses estabelecimentos eram 145; em 2009 o número saltou para 180. No Recife, o mercado ainda é modesto, estima-se que cerca de cinco escolas estejam realmente capacitadas para ensinar duas línguas ao mesmo tempo.

“É preciso entender a diferença de uma escola bilíngue para outra que apenas usa o inglês em algumas aulas”, lembra Rozario. No ensino regular os alunos são submetidos aos dois anos à imersão na língua. Aos cinco eles são alfabetizados simultaneamente nas duas línguas. Os estudantes passam a ter metade do horário em português e a outra na língua inglesa. Outra comparação são as escolas estrangeiras, que seguem o currículo do país de origem. A maioria dos estudantes desses estabelecimentos são filhos de estrangeiros, que estão passando um período no país.

Esse modelo de alfabetização é considerado novo. No Brasil está presente há pouco mais de três décadas. Muitos pedagogos ainda "torcem o nariz". “Eu sempre digo aos pais que os alunos estão numa terra de inglês e num mar de português”, compara Rozario, explicando que as possibilidades de confundir ou não aprender a língua mãe é nula, já que ao sair da escola o contato com o português é total. "Nossos alunos têm um inglês muito mais competitivo aos dez anos que um aluno que estudou seis anos em algum cursinho. A língua entra cedo na vida dos alunos e eles aproveitam uma excelente fase de aprendizado, sem se dar conta”, comenta a coordenadora.

Conversar e conhecer a proposta da escola é o melhor caminho para os pais. É preciso avaliar com bom senso e saber apoiar os pequenos. Pressionar por resultados não é o melhor caminho, assim como exigir a realização de tarefas complexas e que requerem grande esforço. Os pais devem observar se os filhos acompanham o programa, se estão relaxados, se brincam e interagem com os colegas e se apresentam um desenvolvimento normal de linguagem e capacidade intelectual. “Eles devem aprender outra língua com prazer, de forma natural”, lembra Rozario.

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