Robótica nas escolas: o caminho do futuro

Os conceitos da disciplina servem tanto para facilitar o desempenho do estudante como também na decisão da carreira profissional

por Priscilla Costa sab, 13/04/2013 - 09:00

Quando se fala em robótica, de imediato, vem à cabeça a ideia de que é algo complexo, confuso e que poucos podem exercer. Porém, cada vez mais escolas, tanto da rede pública como privada, estão descobrindo que a utilização da disciplina pode ser simples e muito interessante para estudantes de todas as idades.

É na robótica que os alunos têm a oportunidade de aprender noções básicas de mecânica e eletrônica para poder desenvolver projetos de acordo com sua criatividade, além de ter a possibilidade de aperfeiçoar seus conhecimentos sobre outras matérias que compõem a grade curricular, normalmente consideradas mais complexas, como a matemática e a física.

Segundo o professor de matemática e robótica da escola pública de referência em ensino médio Silva Jardim, José Alberto Sales, “o método de fazer com que os alunos montem robôs e outros projetos que se movimentam, dá a eles a sensação de importância e o empenho em fazer de maneira correta e funcionar é muito maior, dando, como consequência, o aprendizado de conceitos importantes que servem tanto para melhorar o desempenho do estudante como também servir de fator decisivo para a escolha da carreira profissional, principalmente para quem tem uma tendência maior no lado de Exatas”, destacou.

Ao longo das aulas, os alunos aprendem a trabalhar com engrenagens, com motores, resistores, adaptadores, praticam a mecatrônica, e enfim, põem a “mão na massa” para elaborar os projetos.

De acordo com Sales, após a disciplina ter sido implantada na instituição, em 2008, houve um notável crescimento no interesse por parte dos alunos e fez com que eles se integrassem mais à aula. “Essa é uma forma diferenciada e interativa de abordar assuntos que são mais difíceis do aluno assimilar, pois com o material de robótica, os jovens aplicam os conhecimentos na prática e não ficam apenas presos às teorias que os capítulos de livros de física mostram. É notável a ‘sede’ que eles têm em querer buscar informações, produzir mais e sempre buscar ideias para desenvolver novos projetos. Quando estamos em semana de competição, o que faz o trabalho redobrar, temos que dar uma carga nos fins de semana e eles vêm com o maior prazer”, falou o professor com notável ar de satisfação.

Além disso, Sales destacou o poder que a disciplina tem ao ajudar no desenvolvimento do raciocínio lógico e criatividade entre os alunos. “Eles encaram a robótica como pesquisa, ou seja, buscam identificar a dificuldade, criar hipóteses, sugerir soluções e por fim, encontrar a melhor forma de resolver o desafio, analisando cada passo e levantando suas próprias conclusões. Com isso, além de termos um melhor aproveitamento interdisciplinar, estimulamos a criatividade, um raciocínio mais hábil e dinâmico, e, sem esquecer, o trabalho em grupo, o que é essencial para o desenvolvimento das atividades”, enfatizou.

“Para oferecermos uma capacitação maior para os alunos, que vão além das aulas, apostilas e oficinas, contamos com a presença de professores de mecânica e eletrônica do IFPE para ensinar novas técnicas aos alunos”, completou.

Neste contexto, o professor ainda chamou atenção para a divulgação do mais novo equipamento criado pelos estudantes, o 'exoesqueleto', que é destinado às pessoas que possuem algum tipo de deficiência nos membros inferiores. O projeto de iniciação científica será apresentado em Fortaleza, no mês de maio, durante feira internacional, que contará com a presença de representantes de vários países. “O exoesqueleto está sendo desenvolvido desde março do ano passado e foi criado com um propósito social. Nosso objetivo é que, um dia, os equipamentos criados com este fim, sejam vendidos no comércio a preço de custo, pois iria ajudar muitos deficientes que não têm condições financeiras, já que esses produtos são muito caros”, contou Sales.

Para um dos alunos que vai à exposição representar a instituição de ensino, Pedro Henrique, 16, que cursa o segundo ano do ensino médio, a expectativa é positiva em relação ao público que irá visitar a feira. “Eu sempre gostei de apresentar trabalhos e vai ser muito gratificante levar o nosso projeto e conhecimento para os demais, até porque, somos privilegiados por ter essa disciplina, já que outras escolas ainda não aderiram à robótica. Acho que vamos acabar causando um impacto positivo, fruto do nosso esforço”, comentou.

E o jovem não tem dúvidas: vai prestar vestibular para medicina, uma das opções da maioria dos estudantes vidrados em robótica. “Nessa disciplina também se adquire conhecimentos que vão servir, a depender da área, para seu futuro profissional. O bom da robótica é que, por ela ser interdisciplinar, ela está bastante presente no nosso dia a dia, em tudo. E eu sei que os conhecimentos adquiridos enquanto estudante, vão servir para a minha vida como um todo”, afirmou o aluno.

Conforme a pedagoga Patrícia Smith, que também desenvolve a disciplina na escola de aplicação da Universidade Federal de Pernambuco, o ensino da robótica pode ser ministrado a partir do primeiro ano do fundamental à conclusão do ensino médio. “No caso do fundamental, as crianças podem, através de projetos mais simples, como kits de montagem, como os da 'Lego', que já possuem peças prontas e de fácil encaixe, assimilar e pôr em prática alguns princípios básicos da robótica. À medida que o aluno evolui a cada série, consequentemente, os conteúdos serão abordados com mais ênfase. Pois, no ensino médio, por exemplo, os estudantes passam a ter noções de física e matemática, que servirão de base para fabricar, criar e montar robôs e outros projetos científicos. Os alunos além de aprender, se divertem muito. E, ao final de um projeto, é possível vê-los orgulhosos de seus trabalhos”, concluiu a pedagoga.

Para que os alunos possam realizar e criar os projetos em sala de aula, a Secretaria de Educação do Estado (SEE) informou ter distribuído, no ano passado, cerca de 3500 kits da Lego, onde cada escola integral e semi-integral recebeu 12 kits no primeiro semestre. Além disso, a SEE ainda esclareceu que entre os meses de março e abril de 2012, todos os professores receberam capacitação da equipe da Lego para se instruir sobre o manuseio das peças.

Os estudantes da escola Silva Jardim fizeram uma pequena demonstração para o Portal LeiaJá de alguns projetos criados durante as aulas e mostraram que a  criatividade é o fator principal para o desenvolvimento dos equipamentos. Confira o vídeo:

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