Farmácia: um negócio aquecido e concorrido

Nos bairros ou centros comerciais, as farmácias ganham cada vez mais clientes e prestam um serviço de saúde ao povo

por Nathan Santos qui, 18/09/2014 - 19:41

Uma movimentação de R$ 70 bilhões em 2013 e um gasto médio de R$ 430 por brasileiro, segundo pesquisa do IBOPE Inteligência. Os números mencionados mostram como pode ser lucrativo abrir uma farmácia. Além de a população adquirir remédios, seja por necessidade ou precaução de saúde, as farmácias oferecem também produtos de utilidade, higiene e beleza, fortalecendo ainda mais a procura por esses pontos comerciais. Sejam nos grandes centros ou bairros populares, as empresas do ramo farmacêutico vêm ganhando espaço nos últimos anos e tentam cada vez mais fidelizar clientes e oferecer um serviço de qualidade.

De acordo com o Conselho Federal de Farmácias, o Brasil tem atualmente 75.441 farmácias e drogarias. Uma delas é a do empresário Paulo de Castro Delgado (foto à direita), 38. Há 13 anos, depois de ser incentivado por um amigo que já enxergara o ramo farmacêutico como promissor, Paulo resolveu abrir uma farmácia no bairro de Beberibe, periferia do Recife. “Resolvi abrir porque queria ter um negócio próprio e porque meu amigo dizia que era um mercado lucrativo. Depois de muita batalha e conhecimento de mercado, fui ganhando meu espaço e posso dizer que sou um empresário de sucesso. Até pensei em migrar para outra área, mas, cada vez mais tenho certeza que é com isso que quero trabalhar”, diz o empresário.

Com formação escolar até o ensino médio, Paulo diz que ter farmácia em bairro popular tem pontos positivos e negativos. Clientes fiéis, comunicativos e contato próximo com a clientela são aspectos considerados bons. Já o baixo poder aquisitivo do público e a atuação das grandes redes de farmácia têm um lado negativo para o empresário. “É óbvio que competir com grandes redes de farmácia atrapalha um pouco. Mas, como sou muito conhecido pelos meus clientes, acabo sempre tendo um bom número de vendas. Chego a atender 2 mil pessoas por mês”, comenta Paulo. De acordo com ele, o investimento inicial na loja foi de R$ 20 mil. Atualmente, o estabelecimento tem 10 funcionários e oferece 1,5 mil especialidades em produtos.

A boa movimentação de clientes na farmácia do Paulo é bem característica da periferia. Apesar de a maioria dos populares ser das classes C e D, o número de compras no comércio é sempre constante. A comodidade é outro fator apontado pelos clientes que compram remédios nos bairros onde moram. “Como é perto de casa, quando preciso de um remédio compro nas farmácias daqui. É bem mais cômodo”, comenta a dona de casa Beatriz de Oliveira Santos, moradora do bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife. Essa é uma das razões que fazem as grandes redes de farmácias apostarem também em unidades nas periferias brasileiras. Fato também presente em meio às franquias, como mostra um estudo da Associação Brasileira de Franchising (ABF): em pesquisa realizada no ano passado, foi constatado que o número de franquias aumentou 11,9% em relação a 2012. Desse percentual, segundo a pesquisa, as franquias que mais lucram estão localizadas em subúrbios.



Outro empresário que resolveu ingressar no ramo de farmácias é o também pernambucano Ivanildo Matias, 36 anos. Em um ponto comercial localizado na Avenida do Forte, na capital pernambucana, o empreendedor passou a oferecer entregas em domicílio, como fazem as grandes farmácias. Sua média de atendimento é de 2 mil clientes mensais, porém, para Ivanildo, o cliente de bairro não é fiel. “Ele compra pelo preço. Onde estiver mais barato ele compra o remédio”, opina.

O balconista da farmácia de Ivanildo, o jovem Carlos Donellys, afirma que a movimentação de clientes é sempre intensa. “O público é muito bom mesmo. Porém, para a gente manter o bom número de vendas, é preciso atender bem os clientes e trabalhar da forma correta, exigindo receita médica quando é necessário. A concorrência chega a atrapalhar um pouco, mas, no final, o resultado é bom”, diz Donellys.

A tendência é que o ramo farmacêutico continue movimentando grandes montantes até o final deste ano. Um balanço realizado pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) mostrou que os estabelecimentos registraram no primeiro semestre de 2014 um faturamento 13,69% superior ao apresentado no mesmo período em 2013. O resultado mostra que o índice representa mais de R$ 15 bilhões.

De acordo com a Abrafarma, entre os produtos oferecidos pelas farmácias, os “não-medicamentos” vêm mantendo vendas crescentes, somando mais de R$ 5 bilhões nos primeiros seis meses deste ano, além de representar 32,69% da comercialização total do período. O que também deve ser destacado como positivo é o aumento nas contratações de colaboradores. No primeiro semestre de 2012, por exemplo, ocorreram mais de 107 mil contratações. Neste ano, segundo a Associação, já foram registrados mais de 115 mil novos empregos.



No vídeo abaixo, o personagem Paulo de Castro fala da sua experiência no ramo farmacêutico. Veja também o depoimento da professora do curso de farmácia da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS), Elisangela Silva. A docente dá dicas para quem almeja abrir uma farmácia.

“Receita” certa para o sucesso

Para os interessados em ter sucesso no ramo de farmácias, a história de uma das maiores redes atuantes no Brasil pode servir como um importante exemplo. Em 1981, nascia em Fortaleza, no bairro Carlito Pamplona, a primeira unidade da Pague Menos. Hoje, o empreendimento do empresário Deusmar Queirós, conta com 750 lojas distribuídas em todos os estados brasileiros. São 18 mil colaboradores trabalhando nessas unidades.



Assim como devem fazer os futuros donos de farmácia, Deusmar pesquisou por muito tempo o segmento, dentro e fora do Brasil. A pesquisa foi atrelada à sua vontade de ter um negócio próprio. “Fiz algumas viagens aos Estados Unidos, onde conheci as drugstores americanas. Fiquei encantado com a diversidade de produtos, era bem diferente das farmácias do Brasil, que só vendiam remédios e poucos artigos de perfumaria. A grande diversificação das drugstores permitia vender remédio a um preço baixo, porque o lucro menor dos medicamentos era compensado com margens melhores nos demais produtos. Achei o sistema muito interessante e comecei a pensar em como adaptá-lo ao Brasil. Ter uma farmácia me pareceu ótimo negócio. Todo mundo precisa de remédio”, conta o fundador da Pague Menos.

Os diferenciais do empreendimento eram a atuação por 24 horas, a criação do autoserviço e recebimento de contas de água, luz e telefone, além de ser uma das primeiras farmácias sem porta. O que fez aquela loja da periferia de Fortaleza se tornar uma das maiores redes do Brasil, segundo Deusmar, se chama “trabalho”. “É resultado de  muito trabalho, de decisões ágeis e eficientes, sem medo de errar. Quando erramos, corrigimos rápido. É também resultado do espírito de inovar, de criar, de acreditar e principalmente pela sabedoria de nos cercar, desde o início, de pessoas umbilicalmente comprometidas com a empresa”, complementa o empresário. Atualmente, a Pague Menos atende 10 milhões de clientes por mês. A meta da rede é chegar a marca de mil pontos de vendas.

Normas

Todos os empresários que almejam abrir farmácias precisam cumprir exigências de órgãos públicos. Um das principais instituições é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), vinculada ao Governo Federal. De acordo com a assessoria de imprensa da Agência, as farmácias e drogarias, para atuarem no Brasil, dependem de concessão de Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE), além de licenciamento de autoridades sanitárias locais.

A AFE é concedida pela Anvisa por meio de petição e apresentação de documento emitido pelas autoridades sanitárias dos estados e municípios. Esse documento deve atestar o cumprimento da legislação vigente. Veja mais informações no site da Agência.

Outra importante norma a ser cumprida é a da Lei nº 13.021/14, publicada em 11 de agosto. Ela reitera a obrigatoriedade da presença permanente de farmacêutico nas farmácias de qualquer natureza, durante todo o seu período de funcionamento. Segundo a norma, drogarias e farmácias deixam de ser meros estabelecimentos comerciais para se transformar em unidades de prestação de assistência farmacêutica e à saúde, bem com de orientação sanitária individual e coletiva.

De acordo com presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter Jorge João, os farmacêuticos são os responsáveis técnicos das farmácias, perante o respectivo Conselho Regional de Farmácia e órgãos de vigilância sanitária. Eles devem realizar, supervisionar e coordenar todos os serviços técnico-científicos da empresa. “É papel do profissional de farmácia fazer com que sejam prestados às pessoas físicas e jurídicas os esclarecimentos quanto ao modo de armazenamento, conservação e utilização dos medicamentos, notadamente daqueles que necessitem de acondicionamento diferenciado, bem como dos sujeitos a controle especial”, destaca o presidente.

Entre outras funções, também é de responsabilidade dos farmacêuticos manter os medicamentos e substâncias medicamentosas em bom estado de conservação, de modo que sejam fornecidos com a garantia da qualidade. Ele também deve informar às autoridades sanitárias possíveis irregularidades em farmácias.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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