Desemprego: volta ao mercado é difícil, mas há solução

Falta de qualificação é um dos maiores fatores que prejudicam essa recolocação, além da crise

por Nicole Simões seg, 24/04/2017 - 16:00
Nicole Simões/LeiaJáImagens De acordo com IBGE, o total de desempregados dobrou nos últimos três anos Nicole Simões/LeiaJáImagens

Com o desemprego cada vez mais alto, é muito comum encontrar pessoas que perderam o trabalho e que estão há um bom tempo em busca de uma oportunidade. Para se ter noção, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de desempregados dobrou nos últimos três anos, passando de 6,623 milhões de desocupados em 2014, antes da crise, para 13,457 milhões em fevereiro de 2017.  

Com isso, a dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho também cresceu. Segundo a secretária Executiva de Trabalho e Qualificação da Secretaria de Micro e Pequena Empresa, Trabalho e Qualificação (SEMPTQ), Angella Mochel, essa recolocação acaba sendo difícil para muitas pessoas por vários motivos. "A falta de qualificação é um dos maiores problemas que afetam esse retorno. Assim como a preparação para as entrevistas, o currículo, a crise e o comportamento do candidato na hora da seleção", explica Angella.

A secretária também confirma a existência do surgimento de desempregados há mais de 2 anos nas unidades da Agência do Trabalho. Como o caso de Elizângela Cristina, 29 anos, que não trabalha desde 2015. "Estou parada há dois anos, e de janeiro para cá já coloquei mais de 50 currículos nas empresas", revela a ex-telemarketing, que estava esperando o atendimento na Agência do Trabalhador, na Rua da Aurora, no Recife.

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"Desde que fui demitido, já entreguei currículos em várias empresas e até hoje ninguém me chamou. Estou parado há 1 ano e 5 meses", confessa o caminhoneiro Jean Alves, outro brasileiro afetado pela crise. Para Jessé Barbosa, que é coordenador de Recursos Humanos e Logística da Faculdade Joaquim Nabuco, unidade de Paulista, o caso de Jean é uma das dificuldades que podem atrapalhar, já que na maioria das vezes, esses profissionais acabam entregando o mesmo currículo em várias empresas, e se esquecem de analisar o perfil da vaga e o perfil do contratante.

“É importante que os trabalhadores estejam atentos às adequações que seus currículos precisam passar. Você não pode sair por aí preenchendo-o com tudo que já fez, estudou e trabalhou.  Seu currículo precisa ter assuntos relacionados aquele perfil da vaga oferecida”, explica Jessé.  

O coordenador também evidencia que quem está desempregado precisa aproveitar o tempo da melhor forma possível e o mais interessante seria buscar cursos, e utilizar a internet como mecanismo para alcançar novas oportunidades. “Buscar um aprimoramento na carreira nunca é demais. Há sempre cursos online e gratuitos em várias áreas. Cadastros no Linkedin, por exemplo, ajudam nessa questão. Além de sempre manter contato com pessoas e amigos que possam dar indicações. Existem qualificações que não custam nem um centavo e você pode fazer de casa mesmo”. “Outro fator imprescindível é não ficar parado. Você precisa aproveitar este tempo ocioso da carreira para empreender nela. Seja em trabalho voluntário, em um networking, mas tem que dar continuidade à qualificação. Não se pode afastar-se da área só porque está desempregado”, complementa o coordenador. 

  

Qualificação ainda é a melhor saída para a recolocação no mercado (Foto:Divulgação Sebrae)

Além do investimento em capacitações, as Agências do Trabalho espalhadas pelo Estado ajudam na hora desse encaminhamento para as organizações. De janeiro de 2016 a março de 2017, mais de 80 mil pessoas foram encaminhadas em Pernambuco, segundo os indicadores de desempenho do IMO - Intermediação de Mão de Obra, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Quase 24 mil vagas foram oferecidas no período. 

Empreendedorismo

Para muitos brasileiros, a saída tem sido investir no empreendedorismo, uma característica cada vez mais dominante na população. Pesquisa feita pela UnitFour, empresa fornecedora de dados, identificou que o número de empresas abertas em 2016 cresceu 20%, na comparação com o ano de 2015. 

O estudo apontou ainda que a região Norte do País registrou a maior variação de crescimento, com 42%, seguido por Nordeste e Sul, com 28% e 22%, respectivamente, em comparação ao ano de 2015. Já região Sudeste se apresenta como responsável por 50% das aberturas de empresas em 2016, seguida pelo Nordeste, com 19%, e Sul, com 17%. A necessidade de uma fonte de renda após a demissão foi a responsável pelos números apresentados no estudo.  

Mas para quem está pensando em empreender, é importante ficar atento às tendências de negócios, fazer um planejamento e buscar recursos para iniciar as atividades. De acordo com o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Danilo Lopez, 76% das empresas vão à falência por falta de planejamento. 

Vertentes - Ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, onde as pessoas abrem negócios próprios por vocação, sonho ou "oportunidade de mercado", na maioria dos empreendimentos brasileiros, a decisão é motivada também por outros fatores, como a necessidade. E daí, surgem por necessidade, quando o indivíduo não tem outros recursos para se manter e acaba empreendendo de qualquer forma. Consequentemente, no empreendedorismo por oportunidade há planejamento. "Nos dois casos, ambos empresários querem a mesma coisa, mas quem se planeja acaba saindo na frente. Porque mesmo com os perigos, ele já está preparado para buscar outras alternativas". Saiba mais no especial do LeiaJá, "Do problema ao negício".    

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