Variantes Linguísticas: saiba como assunto aparece no Enem

Assunto cobrado na prova de linguagens pode ser também tema da redação

por Adige Silva ter, 16/10/2018 - 09:23
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens Professores explicam possíveis abordagens do assunto Paulo Uchôa/LeiaJáImagens

Variante linguística é um assunto "massa" – como um bom pernambucano diria em referência a algo legal. A temática aparece com frequência na prova de linguagens e suas tecnologias. Como o próprio nome indica, o conteúdo aborda as inúmeras formas linguísticas de expressão da população brasileira, que tem como idioma oficial o português. Tamanha variedade pode ser explicada pelo fato do Brasil ser um país de dimensões continentais e pela formação heterogênea de seu povo, que sofreu influências de outras línguas e civilizações. 

A Professora Wiaponira Guedes, especialista em Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Portuguesa, afirma que a temática já é algo tradicional na prova. “O Enem aborta o tema a partir de vários ângulos, mas sempre coloca a variação de maneira positiva, entendendo a língua como um organismo vivo e mutável”, diz a educadora do Grupo Máximo Educacional.

Variação Linguística pode ser dividida em quatro estilos: regional, histórica, social ou de registro. Esses tópicos costumam aparecer com ênfase na perspectiva social, com objetivo de demonstrar que a variação é algo natural da língua. “Os textos escolhidos nas questões nunca se limitam a um só domínio discursivo. O Enem faz questão de colocar a variação linguística como fator presente em vários níveis socioculturais. Para isso, escolhe propagandas, poemas, anedotas, textos jornalísticos”, exalta a educadora. 

 “A prova já trouxe muito a variação histórica (diacrônica), utilizando, inclusive o poema de Carlos Drummond ‘Antigamente’ e a regional (diatópica) com Oswald de Andrade nos poemas ‘Vício na fala’, ‘Pronominais’, mas ultimamente o que tem mais aparecido é a variação social (diastrática) a fim de trazer a reflexão sobre os juízos de valores sociais atribuídos a quem serve dessa variação.”, afirma Wiaponira.

Preconceito Linguístico 

Preconceito linguístico se configura como o conjunto de atitudes, opiniões e valores que usa a língua como fator de discriminação social. Como aborda a Variação Linguística de forma positiva, oriunda de uma expressão cultural e política de certa parte da população brasileira, o Enem repudia qualquer tipo de discriminação linguística. 

Para professora Wiaponira, o preconceito linguístico tem um fator histórico preponderante. “A linguagem sempre foi uma expressão política e de classe. Sempre representou Poder. O poder de circular pelas camadas sociais, por ter sua voz ouvida, em consequência por ser reconhecida”, destaca. Ainda segundo a educadora, aquele que domina a norma tida como "padrão” está em uma situação de prestígio.

   Segundo ela, o preconceito é socioeconômico e se mascara utilizando as variações. “Bagno postula que o preconceito não é com a língua, mas com quem faz uso dela, associado imediatamente a alguém que pertence a uma classe de baixa renda ou com pouca escolaridade ou ainda pertencente a uma área mais rural”, pontua. A professora destaca que é muito importante que o fera tenha atenção a essas questões, pois pode vir atrelada a outros temas.

Será que "dá canja” para redação? 

O tema da redação do Exame costuma gerar ansiedade entre os feras por só ser divulgado na hora da prova e exigir vasto conhecimento dos estudantes. Por meio das redes sociais, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) vem flertando com o tema Variação Linguística constantemente em suas publicações. Em uma delas, o Instituto chega a dizer que tem muita gente “ciscada” (o mesmo que desconfiado, expressão popular de Roraima) com o tema da redação.

Confira alguns exemplos de publicações feitas ao longo dos meses:   

Isso vem ‘encucando’ muitos estudantes, que estão em dúvida se realmente o assunto pode ser tema da redação ou só um simples blefe da Instituição. Para o professor Diogo Xavier, Formado em Letras e trabalha com redação em vestibular há 10 anos, o tema é certo de cair na prova objetiva de linguagens. Portanto, é fundamental "ficar por dentro do assunto", mesmo que não seja tema da redação. 

Caso as pistas dadas pelo Inep sejam reais, o professor dá algumas dicas de possíveis abordagens na redação. Ele afirma que o primeiro passo para iniciar o texto é definir a abordagem temática, dentre as variações existentes. "Eu recomendo que o aluno foque na regional ou social, que são os dois tipos de variedade que sofrem mais preconceito linguístico", sugere.  "No caso da Regional o fera pode abordar os programas de humor que estereotipam a pronuncia e sotaque dos nordestinos", fala. O mesmo pode ser usado para Variação Social, já que, segundo o educador, os programas humorísticos também ridicularizam as pessoas mais pobres pela linguagem e vocabulário. 

Também docente da área de redação, o professor Diogo Didier argumenta que outra forma de abordagem é a própria constituição econômica da língua. “Em termos geográficos, o Brasil se consolidou na região sudeste do país e, por essa razão, as variantes de outros locais passaram a ser estereotipadas e desvalorizadas”, afirma.

O educador ainda reforça o que foi dito por Diogo Xavier, sobre os programas midiáticos de origem humorístico.  Didier recomenda uso de analogias, com ênfase no Latim e no Inglês. Ele diz que ambas as línguas, por questões ligadas ao poderio econômico, foram impostas, mas não conseguiram permanecer uníssonas por causa da maleabilidade da língua. Ainda segundo o educador, o papel dos idioletos de fala, gírias e, até palavrões poderiam ser citados, mas este último, desde que seja de forma comedida. “Serviriam não só para explicar o poder que há na língua, como também o preconceito vigente nela”, destaca. 

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