O "Projeto Gradação", desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), teve a primeira estudante com deficiência auditiva a passar no vestibular da UFPE para o curso de Letras-Libras. Ana Raquel Espírito Santo Carlos, de 17 anos, foi classificada em 3º lugar. A nova universitária iniciará com as aulas no segundo semestre deste ano.

A jovem estava se preparando no curso pré-vestibular gradação desde março, com a ajuda de intérpretes em várias atividades. No processo de inscrição, Ana Raquel perdeu o prazo da entrega da documentação comprobatória da surdez, o que fez com que a estudante concorresse à vaga como ouvinte em ampla concorrência. Foi nessa categoria que Ana Raquel obteve a aprovação. 

Ao LeiaJá, Simone, mãe da vestibulanda disse que a conquista da filha foi uma superação, sobretudo por ela ter sido avaliada como ouvinte “Pra gente foi uma superação dela por ter passado como ouvinte. Como a agente não conseguiu levar a documentação no tempo devido, ela ficou na ampla concorrência e a gente sabe que a avaliação para os ouvintes é muito mais rigorosa do que para os surdos”.

Simone diz que a filha, mesmo tendo ficado feliz pela classificação no vestibular, ainda não tinha noção da importância de ter alcançado o 3º lugar como ouvinte e não como surda. “Ela foi fazer a prova certa de que estava apenas prestando o vestibular normalmente. E quando saiu o resultado eu expliquei pra ela como tinha passado... foi quando ela veio entender, porque além de ter concorrido com os não surdos, ainda conquistou terceiro lugar”.

A vitória de Ana Raquel foi dupla e ela pensa, no futuro, em cursar medicina. A mãe da aluna lamenta que ainda há um frágil suporte para os candidatos com as mesmas limitações de Ana Raquel, que querem fazer determinados cursos. Contudo, ela acredita que após a discente concluir letras-libras, ela possa estudar medicina e salientou que dará todo o apoio à filha.

Projeto Gradação

O Projeto Gradação fundado por discentes do curso de ciências biológicas da UFPE, possibilita outras alternativas às pessoas que não tiveram a oportunidade de desenvolver suas capacidades dentro dos padrões de ingresso das instituições de ensino superior. O programa ampara não apenas surdos, mas também travestis e transexuais, bem como outros grupos que sempre foram minorias dentro da esfera social. Os participantes do projeto podem ser ex-alunos de escolas da rede pública ou como bolsista na rede privada de ensino.